Direto de Fiji

Bino Lopes concede entrevista exclusiva ao SurfBahia, direto das Ilhas Fiji


Bino Lopes treinando em Cloudbreak, Fiji. Foto: WSL


A campanha de Bino Lopes no Outerknown Fiji Pro foi interrompida logo na repescagem em Cloudbreak, mas serviu de grande experiência para o baiano, que participou do evento no lugar do compatriota Caio Ibelli, lesionado no tornozelo.

Desde dezembro de 2004, quando Armando Daltrou deixou a elite mundial, a Bahia não contava com um representante em uma prova do Championship Tour disputada fora do Brasil.

Chamado às pressas pela World Surf League, Bino havia acabado de retornar de uma desgastante viagem ao Japão, onde participou de uma etapa do QS. Foram dois dias viajando, e quando finalmente chegou em casa, recebeu uma ligação de Renato Hickel - comissário da WSL - informando que Caio Ibell havia sofrido uma lesão e não poderia embarcar para Fiji.

Já era madrugada no Brasil e o cansaço era grande, mas Bino não pensou duas vezes. O baiano confirmou a sua participação e acionou o seu agente de viagens para cuidar da ida ao evento.

No dia seguinte, Bino já estava embarcando rumo às Ilhas Fiji. Foram mais dois dias de viagem. Quando finalmente chegou ao destino, o baiano mal teve tempo para treinar nas perfeitas, mas muito complicadas esquerdas de Cloudbreak, que exigem do surfista uma "leitura" diferenciada, conforme o nosso colunista Armando Daltro escreveu antes da etapa.

Logo na manhã seguinte, já hora de estrear na competição. Os primeiros adversários do baiano foram o compatriota Adriano de Souza, campeão mundial em 2015, e o californiano Kanoa Igarashi.

Sobrou atitude, mas a falta de conhecimento na bancada acabou pesando. Na repescagem, Bino encarou Sebastian Zietz e perdeu para o havaiano, que encontrou o caminho dos tubos e deu um show.

Em entrevista exclusiva ao SurfBahia, Bino fala sobre todas as dificuldades enfrentadas nesta viagem e promete continuar se dedicando aos treinos e à caminhada para garantir uma vaga na elite mundial.

Como foi a "correria" para disputar a etapa?

Foi muita adrenalina. Havia acabado de chegar de uma viagem de dois dias do Japão, e logo que cheguei em casa, estava descansado à noite, dormindo, quando recebi uma ligação de Renato Hickel dizendo que Caio tinha se machucado e perguntando se eu estava disponível. Falei que sim, que iria para lá o mais rápido possível. Liguei pra meu agente na madrugada e ele resolveu tudo na mesma hora. No outro dia, já estava indo pra São Paulo, Los Angeles e Fiji. Mais dois dias viajando...

O campeonato já começou no primeiro dia da janela de espera. Isso acabou piorando ainda mais a situação, já que quase não treinou?

Foi punk. Cheguei aqui moído e já sabia que no outro dia teria um swell grande e provavelmente rolaria o campeonato. Quando cheguei, fiz um treino à tarde, o mar não estava grande e tinha muita gente surfando, um crowd de competidores. Pude sentir a onda, mas não deu pra treinar bem. No outro dia, foi a mesma coisa logo cedo. Peguei umas três ou quatro ondas e o campeonato logo começou.

Fale sobre a estreia. Você acabou caindo em duas ondas que pareciam ter grande potencial. O que aconteceu?

Tentei dar o meu melhor. Fiquei do lado de Mineiro (Adriano de Souza) no começo, mas aí depois cada um parte para a sua estratégia. Várias ondas que peguei acabaram fechando, não rodaram, e teve uma com potencial. Vi que ela ia correr muito e quis dar uma passada sem colocar a mão na borda, mas a prancha não me acompanhou. Terminei caindo. Foi um erro, pra mim o maior que cometi. Na outra onda, a maior, a prioridade era de Mineiro. A onda veio e ele remou comigo, imaginei que ele fosse, pois achei que ela tinha potencial. Quando vi que ele não iria, decidi ir de última hora, mas fiquei um pouco pra trás. Remei com tudo para tentar dropar, mas entrei um pouco atrasado e a onda era grande. Tentei fazer o drop nas últimas, voando de grab (segurando a borda), mas ela foi muito pesada e me jogou pra baixo. Acabei perdendo o controle.

Bino se jogando numa bomba em Cloudbreak. Foto: WSL.


Na repescagem, Sebastian Zietz achou os melhores tubos e você pegou ondas mais manobráveis. Acha que errou na escolha das ondas ou ele estava iluminado?

Ele surfou pra caramba, mereceu vencer. Pegou as ondas certas, soube surfar e mereceu a vitória. É um cara experiente aqui, já veio várias vezes e mostrou seu conhecimento na onda. Tentei não focar apenas nos tubos, procurei manobrar também, pois acho que também faz parte do conhecimento da onda. Vi baterias em que atletas fizeram manobras e passaram. Na anterior, eu não tinha visto bons tubos, então pensei em fazer as manobras. Lógico que se viesse um tubo eu estaria disposto a pegar e completar. Até veio um, mas a onda não ficou boa. Fiquei atrasando a prancha, mas o tubo não foi muito largo e espremeu no fim. Valeu o aprendizado. A cada bateria que você corre no CT, você vai ficando mais confiante, vai aprendendo. Acho que fico cada vez mais forte, independente de estar me dando mal nas baterias. Tenho consciência de que isso tudo é um aprendizado, como sempre foi na minha carreira. É uma questão de tempo para que eu possa estar competindo de igual para igual com os tops do circuito.

Pretende se dedicar mais a essa onda?

Tudo é um aprendizado. Acho que desde que cheguei aqui, até agora, já estou melhor e entendendo um pouco mais a onda. Estou vendo os atletas competindo. A maioria já veio aqui por diversas vezes, até os estreantes do Tour já vieram. Estou observando a postura de todos na água, acho que o aprendizado é esse. São ondas totalmente diferentes do QS, com outra abordagem. O que precisa fazer é dedicar tempo. Mas agora preciso focar no QS, que neste momento é o mais importante pra mim. Preciso ir bem lá para que no ano que vem eu esteja aqui na elite.

Como foi contar com o apoio de Wiggolly Dantas no canal, enquanto competia?

Estamos ficando juntos aqui em Tavarua. É um cara experiente, que vem aqui desde pequeno, já correu este evento antes. É um surfista que só tem coisas boas a acrescentar, é excelente em ondas pesadas, em ondas de linha. Tem sido um bom aprendizado estar com ele. Sempre tivemos uma ótima relação. Ele deu um grande apoio do canal, infelizmente não consegui passar, mas não faltou a "vibe" dele.

O baiano atacando o lip durante a segunda fase do Fiji Pro. Foto: WSL.


E a cerimônia de abertura? Como foi experimentar a kava, lendária bebida oferecida pela tribo local como boas vindas?

Foi alucinante, sem dúvida. Só tinha visto essa cerimônia em vídeo. Então, estar aqui vivendo tudo isso foi mágico. Sobre a kava… rapaz, eu tinha criado uma expectativa tão ruim sobre o gosto, já que muitos falam isso, mas achei normal. É um pouco forte porque a boca fica dormente, mas é tranquilo, não tem problema algum. Tomaria de novo facilmente (risos).

Quais os planos agora?

Saindo daqui, vou direto para a África do Sul correr o QS3.000 em Durban. Depois tem uma janela de 15 dias até o QS10.000 em Ballito. Talvez eu vá pra Indonésia pegar umas ondas boas e ficar cada vez melhor nesse tipo de onda.

PUBLICIDADE

Relacionadas

Marcelo Alves lembra de bate-boca com o lendário havaiano Sunny Garcia: “Ele me xingava todo e eu não entendia nada"

Fissurado por música, arte, skate e ondas grandes, baiano Rick Brayner conta sua história direto de Maui, Havaí

Alexandre Piza bate um papo com o fotógrafo baiano Rodrigo Calzone, sobre sua temporada em Bali

Confira entrevista com o baiano Kayki Araújo, um dos talentos da nova geração

Campeão baiano em 2017 e revelado em Ipitanga, Elson Vieira, o Sombra, fala sobre os principais momentos em sua carreira

Confira a entrevista exclusiva com Rayan Fadul, uma das promessas do surfe baiano

Confira entrevista exclusiva com Diogo Santos, campeão baiano Sub 18

Confira entrevista exclusiva com Davi Silva, campeão baiano profissional em 2018