Façamos nossa parte

Free surfer Halan Andrade propõe reflexão entre os surfistas sobre o desastre ambiental nas praias do Nordeste


Antes de mais nada é bom que se deixe claro que o intuito desse texto não é outro senão viabilizar uma reflexão. Exerça o direito de ter sua opinião, discordante ou não, sempre com respeito, e consciente de que o debate saudável é importante.

Desde que surgiram os primeiros surfistas, nosso estilo de vida chama atenção. Já fomos vistos de diversas formas aos olhos da sociedade. O avanço recente do esporte e a marca devastadora deixada pela “Brazilian Storm”, assim como a “elevação” do surfe à qualidade de esporte olímpico, causou uma massificação e maior aceitação dos seus praticantes. Muito já se discute, inclusive, sobre a “gourmetização” do surfe e suas consequências.

Um traço comum aos surfistas no entanto, é o contato direto com a natureza, a paixão incondicional pelo mar e pelas praias. O prazer que o esporte proporciona para além da performance individual, creio eu, advém da possibilidade de desfrutar de um line up privativo, numa praia entocada com seus amigos.

Essa vibe é marca em vários locais, como no Havaí (espírito aloha), Califórnia, Itacaré e qualquer outra surf city. Só que estilo de vida não pode ser só aparência, tem de ser prática. A moda passa.

Desde agosto, o Nordeste enfrenta problemas com o que já é conhecido como o maior desastre ambiental do litoral brasileiro. Ao todo são mais de 240 municípios atingidos, cerca de 2.400 Km de litoral manchado com o óleo.

Não se sabe ainda a extensão do problema na vida marinha e para a qualidade do oceano ao banho. O fato no entanto, é que isso afeta diretamente a vida dos habitantes da costa, que dependem, via de regra, do oceano e suas praias.

Aqui em Ilhéus, cidade com maior litoral em extensão do Brasil, terceiro pólo turístico da Bahia e que registra grande concentração de surfistas e pescadores, o óleo foi visto pela primeira vez no dia 25 de outubro. Houve mobilização do GAP (Grupo de Amigos da Praia), bombeiros e Marinha, registrando a limpeza do local em tempo recorde.

O problema persistiu nos dias seguintes. No sábado (26/10), acordei como de costume, às 6 horas e já tinha recebido, como muitos outros, fotos e vídeos da situação, feitos por surfistas, narrando o estado triste que as praias acordaram.

Naquele dia não havia previsão de ondas na região, imaginei portanto, que os surfistas que se aglomeram no outside estariam nas praias, sem pranchas, mas com luvas e baldes limpando seu playground. Ledo engano. Me espantei quando cheguei à praia do São Miguel e só vi um brother do surfe limpando o local, desolado, me cumprimentou aliviado, quase alegre, apesar da destruição. Perguntei onde estariam os outros, como resposta, obtive uma cara de tristeza e percebi que era aquilo ali. Fiz minha parte. Limpei o que pude. Saí com a maré quase cheia, a praia suja, uma sensação de impotência e a pergunta que martelava minha cabeça: cadê os surfistas?

Sei que vários podem ter sido os motivos da falta da presença, mas não é tarde para ajudar e fazer sua parte. São muitas as possibilidades e devemos nos unir para ajudar.

*Halan Andrade é baiano, advogado e free surfer.

**Para mais informações de como ajudar na limpeza do óleo nas praias confira o perfil @gap_ilheus no Instagram.

 

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