Sonho realizado

Marinheiro e longboarder Bira Medeiros relata sua experiência em Muizemberg, África do Sul


Nos últimos dois meses estive realizando um dos meus sonhos, acredito ser também o de vários surfistas. Trabalho na marinha brasileira, porém não costumo viajar pelo trabalho, pois não gosto do alto-mar e sim da praia, entenda-se o outside e a faixa de areia entre o mar e o continente...

Clique aqui para ver as fotos

Mas, no inicio do mês de abril, fui tentado a realizar um dos meus sonhos - internacionalizar meu surfe - isto é, surfar em águas estrangeiras, sei que para muitos esse é um sonho fácil de realizar, mas para mim, certamente se não for pelo trabalho, com minha próprias condições, creio ser quase impossível.

Estava no corredor do trabalho quando um superior, simplesmente do nada, me convida para fazer uma viagem internacional. A Marinha iria enviar dois navios de guerra para realizar treinamentos militares na África do Sul, uma ação combinada entre as marinhas sul-africana, brasileira, indiana, argentina e uruguaia. Logo me vieram à cabeça J-Bay, Muizemberg, etc. E agora o dilema, ficar dois meses fora de casa, longe da família e dos amigos.

Mas, afinal, o sonho seria realizado, será que o sacrifício valeria a pena? Então, decidi realizar a viagem... De início foram 13 dias de travessia pelo atlântico, cinco mudanças de fusos, chegamos a nos deparar com ondas de até 7 metros oceano adentro.

Vocês lembram o tsunami que a imprensa anunciou no litoral brasileiro? Pois bem, o pegamos em alto-mar. Depois de várias noites rolando na cama e muito remédio para enjôo, pois o jogo do navio não nos deixava dormir, chegamos à África do Sul, mais precisamente na Cidade do Cabo.

Minha intenção era ir para J-Bay, mas tive minha primeira decepção: a Marinha proibiu o deslocamento fora da região de Cape Town, pois na África do Sul tem problema de xenofobia, então era perigosa a viagem. Mas, para quem tem um sonho a realizar, J-Bay pode ficar para outra oportunidade. Tinha ainda Muizemberg, a praia na qual os caras tentaram bater o recorde mundial de surfistas na mesma onda, recorde, aliás, nosso.

A praia é alucinante, muito extensa, tem um clima 100% surfe, estrutura invejável para os amantes do surfe – comércio, hospedagem e um visual chocante, além de uma galera muito receptiva. Ondas muitos boas com excelente formação, cheguei a ver fotos de ondas de até "dois metrão". Porém, nos dias em que surfei, estavam de pequenas a médias.

Estranhei tudo, meu inglês básico foi o primeiro problema para conversar com os caras e ver quais seriam as condições para alugar material, etc... Resolvido o problema de comunicação, ainda tinha a água muito gelada (cerca de 14º) muito fria mesmo, dói até no cérebro. A formação estava um pouco prejudicada pelo vento constante, mesmo assim encarei o mar e deu para relaxar e fazer um surfe, pelo menos para curtir o momento.

Passei alguns dias sem surfar devido aos treinamentos militares, mas fui pela segunda vez, agora em companhia de um parceiro do navio, o marinheiro Cipriano - o cara surfa, porém estava longe do surfe devido ao trabalho. No entanto, quando soube que tinha um surfista a bordo, ele me procurou e fizemos amizade em prol do surfe. Nesse dia fizemos a festa, as ondas variando de meio a 1 metrinho na série, com uma formação perfeita. Foi um dia de surfe para se eternizar.

Descobri o longboard depois dos 30 anos e já estou há 10 vivendo o prazer de deslizar sobre as ondas, e ali em outro país era um marco. Depois de vários dias de surfe, foi quando lembrei e vi as placas de alerta de ataques de tubarões, realmente o problema existe e é iminente.

A praia de Muizemberg localiza-se numa região que eles chamam de falsa baía (False Bay). A água é muito gelada e a presença de focas (principal alimento dos tubarões) é abundante na região, mas por outro lado o ecossistema local é bastante preservado, diminuindo o perigo. Porém, ele existe. Em um dos dias de surfe, foi dado o alerta - bandeira preta no alto -  mesmo assim, vários caras permaneceram na água - eu, por via das dúvidas, achei melhor tomar um chocolate quente.

No regresso foram mais 12 dias de mar e os mesmos fusos, só que dessa vez ao contrário, porém, o mar estava bem melhor. Então, as noites foram bem mais tranqüilas, logo pude dormir, a não ser pela saudade e a ansiedade da chegada.
 
Para ajudar a passar o tempo, acompanhava praticamente todos os fenômenos da natureza, via o nascer e o pôr-do-sol diariamente e à noite via as estrelas. No mar, elas são bem mais reluzentes, pois não temos nem as luzes das cidades nem a nossa poluição de cada dia.

É isso, galera, essa foi uma das melhores experiências da minha vida, tanto com relação ao surfe como a de conhecer um país fascinante, com hábitos completamente diferentes dos nossos e que ainda atravessa uma fase muito difícil para a formação do seu povo. Por tudo o que eles passaram, estão tentando descobrir mecanismos que torne a sociedade mais justa.

Fiquei muito feliz, pois vi alguns negros surfando, demonstrando que o surfe também tem essa função de unir as pessoas. Na onda, somos todos iguais, sem distinção de credo, raça ou qualquer outra coisa... somos simplesmente “SURFISTAS”.

PUBLICIDADE

Relacionadas

Confira os bastidores do Workshop de Longboard que rolou no litoral norte de Salvador

Nova geração de atletas do longboard baiano representam no Festival Pé no Bico

Confira o vídeo e as fotos da confraternização do Cultura Longboard realizado em Jaguaribe

Confira tudo o que rolou no Festival NóiséRider que aconteceu na praia do Flamengo

Fotógrafo Luis Castro registra sessão de treino dos longboarders em Jaguaribe

Primeiro Festival de Longboard Clássico da Bahia acontece na praia do Flamengo entre os dias 12 e 13 de outubro

Primeiro Festival de Longboard Clássico da Bahia acontece na praia do Flamengo

Pedro França e Gustavo Costa vencem as principais categorias do Surf Treino de Itacimirim