Produzindo sonhos

Confira entrevista com Nayan Melo, shaper e freesurfer da Costa do Descobrimento


Incentivado pelo pai, Nayan Melo começou a fabricar pranchas com apenas 17 anos e não parou mais. O shaper também é um freesurfer fissurado e ano passado teve a oportunidade de surfar e testar seus foguetes numa temporada de muitos tubos na Indonésia. Morando na região de Cabrália, onde tem sua fábrica e oficina, está sempre em busca da evolução na arte do shape. 

SurfBahia - Conte como foi o seu início no surfe?

Nayan Melo - Desde pequeno sempre tive uma conexão muito forte com o mar. Sem dúvidas o meu maior incentivador no esporte foi o meu pai. Com 12 anos fui morar na orla de Porto Seguro, que por mais que ninguém acredite, já rolou altas ondinhas. Foi onde tudo começou, com uma prancha velha que estava esquecida no quintal de um amigo, conheci esse esporte maravilhoso que mudou minha vida para sempre.

SB - Como surgiu seu interesse na fabricação de pranchas?

NM - Acredito que venha de uma herança de sangue, pois meu pai é shaper há mais de 40 anos, e mesmo vivendo longe, ele tem grande parte nisso. Na época que iniciei, não havia ninguém que trabalhasse nesse ramo na cidade. Comecei consertando pranchas de amigos, fabricando réplicas em miniatura para colares, chaveiros e pranchinhas de decoração para paredes. Foi aí que me apaixonei pelo processo incrível que é a fabricação de pranchas de surf. Aos 17 anos iniciei minha carreira como shaper e até hoje sigo em frente fazendo o que amo.

SB - Como você vê a produção de pranchas na Bahia e o mercado Brasileiro?

NM - Tanto na Bahia como no Brasil, o mercado de pranchas teve um crescimento significativo nos últimos anos e vem evoluindo a cada dia. Acredito que as vitórias dos nossos campeões mundiais movimentaram o mercado do surf como um todo no país. Na produção de pranchas, o acesso aos materiais e as tecnologias melhoraram bastante. Por outro lado a concorrência também aumentou, tanto de marcas nacionais como estrangeiras.

SB - Como você analisa e encara a concorrência com as marcas estrangeiras?

NM - Busco encarar como um ponto positivo. A concorrência em geral é sempre um incentivo para a evolução. É sempre importante conhecer o trabalho, a arte e a tecnologia de material que vem sendo utilizada pelo mundo a fora, e ao mesmo tempo mostrar que somos capazes de produzir equipamentos de alto nível por aqui.

SB - Você mora em Cabrália, uma região pouco conhecida pelo surf. Como é viver da fabricação de pranchas num lugar teoricamente desfavorável para o mercado de pranchas?

NM - Apesar de ser uma região ainda pouco conhecida pela sua cultura surf, existem muitos surfistas em toda a Costa do Descobrimento. Também é preciso estar sempre viajando e fazendo contatos, divulgando as pranchas, não só como shaper, mas como surfista também. Acredito muito que um trabalho bem feito e com amor não importa onde nasça, e sim aonde pode chegar.

SB - Recentemente você esteve na Indonésia e pôde testar alguns dos seus shapes. Conte um pouco sobre as pranchas que usou e as ondas que surfou por lá.

NM - Foi uma das experiências mais incríveis que já tive. Além de realizar um sonho de infância, pude testar e divulgar meu trabalho da melhor maneira possível.

Nessa viagem levei alguns modelos diferentes de pranchas. Pequenas como uma fishboard (5.5 x 19.1/2 x 2.1/4), uma diamond (5.6 x 19 x 2.3/16), duas perfomances (5.8 x 18.1/4 x 2.1/8), (5.8 x 18.3/8 x 2.3/16) e mais duas maiores com as rabetas round para os tubos, que são a minha verdadeira paixão no surf, nas medidas (6.0 x 18.3/8 x 2.1/4).

A maior parte da temporada passei na ilha de Nias, onde surfei as maiores ondas e os tubos mais pesados da trip. Conheci vários lugares e diferentes tipos de ondas, nas quais pude testar cada prancha em sua característica de onda apropriada. A ilha de ASU, Ilhas Banyaks, Uluwatu, Keramas, Desert Point, Supersucks, Yoyos foram alguns dos lugares que passei.

SB - Conte um pouco do seu trabalho com a atleta Ingrid Topolanski.

NM - Desde o início percebi que ela tinha talento e potencial, e já fazem 6 anos que estamos evoluindo juntos. Ingrid é uma atleta dedicada e exigente, sempre procura acompanhar e se envolver no processo de fabricação de suas pranchas. Acredito muito no seu profissionalismo e crescimento, pois vem fazendo um trabalho excelente e até hoje é uma parceria incrível.

SB - Quais são suas inspirações? Seja no surfe e na sala de shape.

NM - No surf admiro muito os freesurfers Rob Machado, David Rastovich e Asher Pacey, já nas competições o Gabriel Medina, Filipe Toledo, John John Florence e Mick Fanning.

Na sala de shape me inspiro muito no meu pai e em outros da atualidade como Darren Handley Design (DHD), Dylan, Mayhem,Tomo, Al Merrick e Jamie Cheal (Chilli).

SB - Quais os projetos e objetivos para 2017?

NM - Este ano irei me profissionalizar no DSD (Digital Shape Design) e pretendo morar uma temporada em Bali, dessa vez irei a trabalho também, em busca de aperfeiçoar minha arte e adquirir mais conhecimento sobre ela.

PUBLICIDADE

Relacionadas

Marcelo Alves lembra de bate-boca com o lendário havaiano Sunny Garcia: “Ele me xingava todo e eu não entendia nada"

Fissurado por música, arte, skate e ondas grandes, baiano Rick Brayner conta sua história direto de Maui, Havaí

Alexandre Piza bate um papo com o fotógrafo baiano Rodrigo Calzone, sobre sua temporada em Bali

Confira entrevista com o baiano Kayki Araújo, um dos talentos da nova geração

Campeão baiano em 2017 e revelado em Ipitanga, Elson Vieira, o Sombra, fala sobre os principais momentos em sua carreira

Confira a entrevista exclusiva com Rayan Fadul, uma das promessas do surfe baiano

Confira entrevista exclusiva com Diogo Santos, campeão baiano Sub 18

Confira entrevista exclusiva com Davi Silva, campeão baiano profissional em 2018