Ondas nipônicas

Myron Paterson entrevista Pedro Gomes, fotógrafo brazuca residente no Japão


As fotografias de surfe são essenciais para as novas descobertas neste mundo de muitas variedades e encantos.

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A curiosidade de conhecer as pessoas que estão por trás das imagens que vemos, levou-me a conhecer um brasileiro, oriundo de Porto Alegre, torcedor do Internacional, que mora no Japão e fotografa a beleza e essência do surfe e das ondas nesse país que é tão distante do nosso em termos geográficos e culturais. O nome desse fotógrafo é o Pedro Gomes.

O Pedro, como fotógrafo, nos chama atenção por nos apresentar um país no qual os talentos dos surfistas e as ondas que quebram nas praias não são muito conhecidas na grande mídia do esporte.

As imagens registradas pelo fotógrafo e bodyboarder capturam a magia do desconhecido no Japão e o que vemos são ondas de altíssimo nível e belezas indescritíveis.

O Japão apresenta um ar de mistério. Esse mistério que envolve o país asiático, uma das maiores potencias mundias, sempre nos deixa curiosos por descobrir o que há além do que é mostrado pelos grandes meios de comunicação em massa.

Existe um Japão além da tecnologia, terremotos e samurais? Sim, existe e isso é uma resposta óbvia e o fotógrafo Pedro Gomes nos enriquece com momentos pouco vistos do lado japonês e nos mostra que lá os surfistas e as ondas são mais um dos mistérios e encantos do país.

Pedro, qual o seu vínculo com o mar? Quando começou a sua paixão pelas ondas?

Bom, apesar de ser de Porto Alegre, minha família tinha uma casa na praia de Atlântida bem perto da plataforma. O principal pico de surf de Atlântida. Meu pai é de Santa Catarina, então sempre passei minhas férias do colégio por lá. Nas indas e vindas entre Atlântida e as praias de Santa Catarina, ainda criança, me liguei ao mundo do surf.

Você possui um vínculo com o bodyboard, como a pranchinha entrou na sua vida? O que há de mágico no bodyboard?

Na verdade eu fiz o caminho contrario de muita gente, eu fui do surf para o bodyboard. Bom, não lembro da minha idade quando tive minha primeira prancha de isopor. Acho que com 7 ou 8 anos tive minha primeira prancha de surf, uma kaluana toda remendada que descolei usada de uma garota mais velha. Me lembro que era complicado, tinha que ficar remendando os quebrados, era difícil levar no fusca do meu pai e também eu não tava evoluindo no surf por pura falta de dom.

Foi então que aos 12 anos comecei a experimentar o bodyboard. No início da década de 90, época onde o bodyboard estava virando moda, vi um vídeo do Mike Stewart na época descendo Pipeline e pensei: cara é isso que eu quero! Depois veio o Tâmega sendo campeão mundial e fiquei mais amarradão ainda. Me adaptei bem ao bodyboard, e em pouco tempo já estava mandando minhas primeiras manobras e conquistei o respeito da galera da praia e vi que ali estava o meu esporte do mar. Aos 19 anos, fui morar na Austrália e vi de perto muitos dos caras que eu admirava botando pra baixo e só confirmei que realmente era aquele meu jeito de surfar e interagir com o mar da forma que eu queria.

Falando do seu lado fotógrafo. Como a fotografia entrou na sua vida? A sua fotografia foi para o surf ou o surf te levou à fotografia?

São coisas distintas na minha vida. As duas sempre existiram, mas nunca tinha pensado em juntar uma a outra . Meu pai é funcionário público, mas é formado em jornalismo. Tirava suas fotos e até ganhou concurso , ele tinha muito amigos fotógrafos e sempre volta e meia o assunto foto vinha ao natural na minha casa. Dos amigos dos meu pai, os caras que mais eu admirava era o fotógrafo Paulo Franklin, que fotografava futebol, uma outra paixão que tenho e o Eduardo Tavares, um dos melhores fotógrafos que já conheci e costumava passar as férias no farol de Santa Marta, em Santa Catarina, como nossa família. Meu tio também é um grande fotógrafo profissional, e creio que ele foi o fator decisivo para eu entra na fotografia, vendo ele rodar o mundo fotografando. Isso me dava muita vontade de um dia fazer aquilo também.

As fotos de surf começaram pouco tempo atrás, coisa de 3 anos, depois de um bom período longe das câmeras, resolvi voltar a fotografar e um dia na praia um surfista amigo me pediu para que tirasse uma foto dele surfando. Eu tirei a foto, ele gostou, eu também gostei e desde então tenho tentado evoluir nessa área .

Sendo um fotógrafo de surf, quais são os fotógrafos que inspiram seu trabalho e quais são suas maiores inspirações para fotografar esse esporte?

Bom no surf gosto muito do Tim Mackenna , Daniel Russo... Cara, sei lá! São vários caras bons, poderia preencher varias páginas citando fotógrafos que eu admiro. Também gosto muito do Sebastian ai do Brasil, gosto de trocar idéia com o Paulo Barcellos, que apesar de pouco tempo na foto, por ser casca grossa no bodyboard, acaba indo lá onde é difícil de ir. Na real admiro muita gente e sempre tento absorver o que há de melhor em cada um.

Conte-me o seu dia-a-dia de trabalho. Como você se prepara para fotografar, quais as dificuldades do trabalho e os seus prazeres cotidianos?

Bom, geralmente antes de sair de casa eu já vou com uma idéia do quero fazer no dia, já penso no pico que estou, quem vou fotografar. Não sou do tipo que sai com a mochila cheia. Levo duas no máximo três lentes comigo. Nas fotos de água geralmente só levo a caixa estanque já com a Fisher montada, gosto de sair com uma idéia da foto já na cabeça, mas sempre pinta uma foto de ocasião. A principal dificuldade é transformar as fotos em grana (Risos).

Existem muitos fotógrafos, e a lei de oferta e procura é o que manda, por isso é importante estar em evolução constante e buscar seu espaço nesse mercado tão competitivo. O lado bom e prazeroso nas fotos de surf é você estar sempre em contato com a natureza, na praia, fazendo o que se gosta, isso as vezes vale mais que qualquer remuneração financeira.

Pedro, o seu trabalho como fotógrafo está direcionado ao Japão. É possível viver como fotógrafo de surf nesse país? Como você descobriu esse país como um celeiro de boas ondas para suas imagens?

Infelizmente não consigo viver de fotos aqui, e faço um trampo danado numa fábrica para poder me sustentar, adquirir equipamento e poder viajar, é uma rotina corrida e cansativa. Apesar de não saber quase nada sobre surf no japão quando eu cheguei aqui, pensei comigo mesmo, alguma onda eu vou achar aqui e para ser sincero ainda procuro por ondas que não conheço.

Como você foi morar no Japão? Como é conviver com uma língua ecultura bem diferente da brasileira?

É complicado! O idioma é a principal barreira, principalmente a escrita, tem que dar os pulos para conseguir se adaptar aqui. Eu morava na Austrália, acabei casando com uma Japonesa, vim para o Japão, o casamento acabou mas eu acabei ficando.

Fale-me um pouco sobre o surf no Japão. Como é se relacionar com surfistas japoneses? Como são as ondas japonesas? Quais os picos especiais e os lugares mais incríveis que já fotografou?

O surf do Japão esta em plena evolução, creio que daqui há alguns anos tenhamos surfistas Japoneses no WT, pois essa nova geração está viajando bastante a ficam muito tempo em picos como Hawaii, Indonésia e Austrália.

O relacionamento com os surfistas japoneses é normal, alguns são meio "marrentos", alguns mais antigos exercem um localismo em certos picos, mas na real é de boa, tem muitos surfistas japonese bem legais, costumo ser bem tratado por onde eu passo e não posso reclamar. Esse ano fiz uma seção de fotos num secret a convite de 2 surfistas profissionais daqui, os irmãos Imamura, foi o melhor surf do ano para mim, mas gosto muito do pico onde eu moro, a praia de Omaezaki, gosto de Chiba onde tenho muitos conhecidos e onde se concentra a maioria dos surfistas e bodyboarders profissionais do Japão.

O Japão é um país que está em uma área de grande turbulência natural. Como é morar num lugar assim? Qual o fato mais marcante na sua vida relacionado aos fenômenos naturais que aconteceram por aí?

Sim, volta e meia a terra treme aqui, meio que já acostumei com isso, em 2009 durante o feriado de verão teve um terremoto bem forte em Omaezaki, onde eu resido atualmente, foi bem impressionante. Uma certa vez na província de Shiga estava num shopping center e teve um terremoto bem forte também, com muita gente lá, clima bem tenso. Mas meu maior "perreio" foi na passagem de um Tufão na província de Hyogo onde eu morava na época, chovia muito e na volta do serviço para casa fui passar o que eu pensava ser uma poça de água e quando percebi meu carro começou a afundar, tive que sair pela janela antes que a água tomasse conta de tudo! Foi bem tenso essa situação.

Para finalizar, o que você falaria para uma pessoa que quer seguir uma carreira igual à sua e deseja ir ao Japão?

Bom, os motivos que me trouxeram ao Japão não foram o surf, creio que outros lugares sejam mais indicados para se fotografar surf, porém quem vier na época certa dos tufões pode sim voltar com várias imagens alucinantes daqui.

Para quem quiser tentar a carreira de fotógrafo, assim como eu estou tentando, desejo boa sorte e acredito que apesar das dificuldades do mercado, se você se dedicar muito e souber diversificar suas fotos, pode sim colher resultados no futuro.

Para saber mais sobre o trabalho de Myron Paterson, acesse o site Lentesalina.com

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