Surfista visionário

Marcelo Morgão fala sobre sua paixão pelos esportes e o mercado surfwear


O consumidor brasileiro está cada vez mais exigente. Muitos de nós não queremos saber somente de preço ou de qualidade; se não houver as duas coisas, a compra não será feita.

É com esse conceito que o empresário e atleta Marcelo Morgão tem mostrado que a equação pode, sim, ser balanceada.

Em seu 3 em 1 (loja de surf, academia e residência), ele diminuiu os gastos em todos os sentidos e consegue oferecer produtos de alta qualidade com preços não tão salgados em relação à maioria das surf shops.

Confira, na entrevista abaixo, algumas curiosidades desse carismático visionário dos esportes aquáticos.

 

Alexandre Piza: Morgão, antes de mais nada, quais modalidades esportivas você pratica?

Marcelo Morgão: A lista é grande (risos). No mundo líquido, quase todos: natação, polo aquático (no qual fiz parte da seleção baiana), apneia competitiva, caça submarina, windsurf, travessias, surf, stand up paddle e a minha atual paixão, canoa havaiana. Além de motociclismo, artes marciais, que gosto muito, rapel, escaladas... Se eu for citar as que realmente pratico com mais frequência, a lista será bastante grande. Tudo isso vem de berço, de educação familiar. O esporte sempre fez parte da minha vida, inserido pelo meu grande incentivador, meu falecido pai, do qual me orgulho em ter me apontado este caminho. Sempre fui bom nos esportes que pratiquei e citado como referência nos mesmos. A dedicação e a paixão pelas artes marciais, no qual adquiri uma formação disciplinar, me ajudaram muito nas competições e nas batalhas do dia-a-dia.

AP: Como surgiu essa ideia do By Garagem? Há quanto tempo você tem a loja e a academia?

M: Há 11 anos, a ideia da “By Garagem” surgiu como um ponto de encontro, no qual eu e meus amigos nos reuníamos diariamente no tatame montado na garagem de minha casa, e lá praticamos durante anos o jiu-jitsu. Muitas vezes, quando voltávamos da praia depois de uma bela sessão de surf, ainda tínhamos gás para praticar vários “rolas”. Entre um “rola” e outro, minha mãe trazia um lanche para a turma faminta, no qual se firmou um lugar extremamente prazeroso e amigável. Como já surfava e tinha o apoio de uma famosa marca de surf, surgiu a ideia de meu ilustre pai: “Meu filho, você não é bom nisso? Por que não monta uma academia aqui?”. Foi quando veio minha formação acadêmica e o apoio da marca no qual eu era patrocinado para montagem da loja surf, onde tento oferecer de tudo. Os amigos batizaram de By Garagem por tratar-se da famosa garagem de minha residência, na qual se mantém a verdadeira essência e até hoje um ponto de encontro dos melhores praticantes de esportes radicais do nosso estado.

AP: E como está o mercado de equipamentos de surf atualmente?

M: A cada ano que passa, o surf vem crescendo e, juntamente com ele, a tecnologia aplicada em equipamentos de ponta. Hoje temos leash que ejeta, parafinas biodegradáveis, pranchas de isopor e resinas epóxi, fibras de carbono, quilhas de todos os tipos. Estamos vivendo a tecnologia aplicada em equipamentos voltados para a prática do surf, na qual orgulhosamente a By Garagem oferece o acesso, disponibilizando estes equipamentos por preços realmente justos. O surfe está entre os três esportes mais praticados atualmente e na Bahia não é diferente. Sou um estudioso de produtos dos quais temos fornecedores pelo mundo. Isso nos mantém informado sobre o que se passa em novidades para prática do mesmo. É importante para nosso esporte se manter aquecido.

AP: Você acha que é uma vantagem ter sua loja fora do eixo comercial e dentro de uma área residencial? Por quê?

M: Não é porque a loja está localizada em um eixo comercial que esta fadada ao crescimento, e sim a exclusividade de equipamentos, o conhecimento. O carisma e a atenção de seu dono fazem com que ultrapasse barreiras de distância no atual mercado de surf e esportes radicais, fazendo com que o consumidor que preza por bons conhecimentos, produtos, preços e serviços, jamais vistos em outros estabelecimentos, venham até você, se tornando perto de tudo e de todos. Esse é o conceito By Garagem.

AP: Muita gente reclama que os artigos de surf são caros. Você acha que a culpa é de quem: dos fabricantes, dos impostos, do lojista ou da mentalidade dos consumidores que não estão adaptados ao valor dos equipamentos esportivos de alta performance?

M: Tratando-se do que você gosta, nada é caro, pois o prazer de surfar quase não tem preço. Mas não podemos desconsiderar que os valores elevados dos impostos em nosso país muitas vezes fazem com que um simples produto não tenha a qualidade do valor aplicado, tornando-se então com o preço indesejado. Com mais uma “pitada” de usura da raça humana, o preço se torna insuportável. A By Garagem, estando no mercado, tem notado que o número de consumidores de produtos de alta performance tem aumentado e é um dos motivos pelo qual importamos muito material de ponta, que, por muitas vezes, saem mais em conta do que adquirido em território nacional. Hoje, 65% dos produtos comercializados ou intermediados pela empresa By Garagem são importados, fazendo com que a mesma se torne uma referência em nosso estado neste segmento de equipamentos esportivos de alta performance.

AP: Muitos shapers locais reclamam que os consumidores não dão o devido valor às pranchas que são produzidas na Bahia. Como você avalia esse ponto?

M: Quem nunca teve vontade de ter um “foguete gringo”? Até alguns shapers locais, antes de se tornarem shapers, sonharam em possuir um destes. Estamos bem próximos da qualidade e linhas de um shaper gringo. Ao viajar pelo mundo, tenho notado união entre os fabricantes de pranchas. Na Bahia, por incrível que pareça, acontece o inverso, fazendo com que o consumidor fique na dúvida e procure realmente aquelas marcas que estão em evidência nos pés dos melhores surfistas do mundo - seja qual for a marca, por um custo um pouco mais elevado. Em nossa terra, temos matéria-prima de qualidade, inclusive nós mesmos, da By Garagem, fornecemos material para confecção de uma excelente prancha. A prancha na Bahia é a mais barata do mundo e está muito longe de ser a pior.

AP: O surf de Stand Up e Longboard é relativamente pouco difundido na Bahia, quando comparamos com outros estados como Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Você acha que é uma cultura local ou um atraso mesmo em recebermos as novidades do esporte?

M: Já ouvi algumas frases na minha vida como “Longboard é coisa para velho”. Velho é você estar em cima de uma prancha aos 80 anos? Há oito anos recebi uma matéria de um amigo meu que morava no Havaí. “Morgão, isso é sua cara, essa porra vai virar febre no mundo”. Um cara remando de Stand Up no North Shore como visionário e futurista, coisa que sempre fiz questão de ser. Não perdi tempo e com minha veia comercial solicitei que o mesmo me mandasse um outline, que em pouco tempo estava em minha mão. Quando parti para a confecção do primeiro Stand Up, só tinha referência aquele outline e uma única fotografia. Alguns amigos shapers olharam para mim e falaram “você é louco, essa porra é uma jangada“, e atualmente me deparo com os mesmos tentando fazer aquilo que chamaram um dia de jangada. A tecnologia está aí, é necessário que esteja no esporte, seja praticando, lendo sobre, e ouvindo formadores de opiniões. Só assim conseguiremos ter um pouco de visão futurística, fazendo com que o esporte realmente seja difundido em todas as suas esferas.

AP: Muitos colunistas importantes, como Ricardo Bocão e Fred D’Orey, têm discutido bastante o ponto de que mais longboards e pranchas de remada irão deixar as praias sem harmonia democrática no outside. Qual o seu posicionamento?

M: Vivemos em um país democrático, e democrático deve ser o esporte, tendo assim espaço para todos. Os banhistas já dividem as praias com os surfistas; nada mais justo que agora os surfistas dividam o outside com os longboarders e os SUP’s, sabendo que respeito é bom e todo mundo gosta, evitando assim futuros atritos, no qual surgirão naturalmente “points” com ondulações específicas para tais modalidades, como temos aquele famoso “pico” de Longboard no Rio de Janeiro, a praia da Macumba. Assim será para os praticantes de sup’s aqui também.

AP: Você é notadamente conhecido por ser um visionário futurista. No que diz respeito aos modelos de pranchas de vanguarda, quais as principais novidades que você pode nos apontar para esse ano de 2012 e o que de novo pode vir mais pra frente?

M: A evolução é constante, a cada segundo no meio do surf sempre surge uma ideia, seja ela qual for, em termos de material aplicado, tecnologia, invenções loucas, readaptações e transformações. Há 25 anos, eu via o Sesc com três arrebentações, hoje mal podemos ver uma única arrebentação. O fundo muda, o vento muda, seu condicionamento físico muda, sua vida muda e sua prancha nova provavelmente mudará.  A tendência mundial é para pranchas um pouco mais largas, como podemos ver com Slater surfando. Quilhas com designs diferentes estão apontando e certamente será uma tendência. O surf nasceu com a monoquilha, passamos para biquilhas, pulamos para as triquilhas e fomos para quadriquilhas. Já surgiram as cinco quilhas e vocês acham que vamos parar por ai?

AP: Você está indo para o Tahiti agora. Qual o planejamento para essa viagem?

M: Essa viagem é mais uma realização de tantos sonhos de quem possui uma alma de surfista. Já venho há algum tempo traçando algumas metas em relação a grandes surf trips, enquanto ainda possuo uma idade capaz de me aventurar em ondas que todos nós sonhamos em ao menos um dia conhecer. Essa viagem ao Tahiti, especificamente a Teahupoo, mexeu com meu eu interior. Logo quando falei em ir a Teahupoo para um amigo, o mesmo arregalou os olhos e falou: “Morgão, é a trip dos sonhos, mas você terá coragem de dropar aquelas morras?”. Dei uma gargalhada e respondi: ”vamos que vamos, filhote”. Venho em constante preparação física ao longo de minha vida, me sinto capaz, porém, dizem que o homem é do momento, o psicológico ainda entra em conflito com aquele friozinho na barriga quando falamos o nome de Teahupoo,  mas me conheço, e sei do que sou capaz. Se der para dropar a da série, será massa. Se não der, vibrarei tão quanto, pois sei que muitos na hora “puxam o bico”, e quem nunca puxou o bico? Tenho recebido muitos elogios e vibrações positivas dos amigos que, com certeza, estarão lá presente espiritualmente ao meu lado dropando aqueles buracos cascudos e ocos da famosa praia de quebra-crânio, Teahupoo.

AP: Qual seu recado para os internautas do SurfBahia?

M: Viva tudo que puder. Não fazê-lo é um erro, não importa muito o que você faz especialmente, desde que você desfrute sua vida. Se não teve isso, o que é que você teve? O que se perde está perdido, fique certo disso. O momento certo é qualquer momento do qual alguém ainda tem a sorte e dispor. Viva! Forte abraço, Marcelo Morgão.

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