A história de Brusell

Um dos pioneiros do surf baiano no jornalismo, Miguel Brusell fala sobre sua carreira


Formado em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Miguel Brusell é um personagem ilustre da imprensa baiana.

Junto com nomes como Bernardo Mussi, Márcia Brandão, Tadeu Abelha, Wilson Ribeiro e Lapo Coutinho, ele colaborou muito para que o surf da Bahia começasse a ganhar espaço na mídia.

Em sua longa carreira, Brusell redigiu muitos textos para os jornais Banzai, A Tarde e a saudosa revista Expresso, além de ser pioneiro na assessoria de imprensa da Federação Baiana de Surf (FBS).

Atualmente, ele e a esposa Gabriella Simões dirigem o site EsporteNaRede, um dos principais portais esportivos da Bahia.

Em homenagem a um dos pioneiros do surf baiano no jornalismo, o SurfBahia bateu um papo com Miguel Brusell e ficou por dentro da história do repórter.

Quando e em que veículo você começou a escrever sobre surf?

Na realidade, comecei este processo através da fotografia, que foi a primeira coisa que me despertou para o Jornalismo. Fotografando surf, percebi que os veículos da época, apesar de suprirem a necessidade de informação (não havia a internet), não estavam nem aí para as regras do Português. Fui fazer Jornalismo na Facom, para trabalhar com reportagem e surf. O primeiro veículo em que trabalhei foi o jornal Banzai, lançado por estudantes da Facom e que mexeu muito no mercado da imprensa especializada no esporte.
 
Quantos anos de serviços prestados à FBS?

Participei do processo de fundação da Associação Baiana de Surf (ABS), antecessora da atual FBS, entre 89 e 90. Era um dos diretores de comunicação numa associação que tem até hoje o melhor estatuto que já existiu, porque foi discutido e aprovado por um grupo formado por Bernardo Mussi (presidente), José Augusto, Wilson Ribeiro, Fabiano Prado, Dárius Vinícius, Welton Arújo, só para citar alguns. Eu e Welton, na época, conseguimos colocar no estatuto repórter e fotógrafo como integrantes obrigatórios da comissão técnica. Nesta época, introduzi a assessoria de imprensa no surf e no esporte baiano, já que nem os times de futebol, na época, tinham assessor de imprensa.
 
Era difícil conseguir espaço para o surf no jornal? Quais as maiores dificuldades?

O surf sempre foi bem aceito na imprensa. Naquela época era até mais fácil do que hoje, porque quando acontecia um evento de surf, normalmente, era o principal programa da cidade. O surf atraía um público muito grande aos campeonatos. Surfistas como Olimpinho e Nadson tinham torcida organizada, com camisa, charanga, fogos. Nas últimas participações de Olimpinho, no Brasileiro de Long, deu para a nova geração ver como eram os campeonatos naquela época.

A maior dificuldade era em relação às fotografias. A Bahia ficou muitos anos sem uma lente para fotografar surf. Eu fazia foto com uma lente de 50 milímetros, com água na cintura...
 
Quem escrevia sobre surf aqui na Bahia quando você começou a escrever?

Quem escrevia era Bernardo Mussi, que já tinha uma grande aproximação com as regras do Português, e mais Márcia Brandão, a Marcinha do "Qual o Lance" (uma heroína do surf baiano); o saudoso Tadeu Abelha, que teve a carreira interrompida pelo vício nas drogas; Wilson Ribeiro, que trocou o jornalismo pela comissão técnica; e Lapo Coutinho, que já tentava resgatar a história do surf com uma coluna muito esperada no "Qual o Lance".
 
Quando o surf entrou em sua vida?


Nasci em 1964, em uma família que praticava esporte regulamente. Nasci praticamente dividido entre atividades no mar (meu avô materno é descendente de vikings e o pai dele era comandante de navio e ficou na Bahia por falta de vitaminas, muitos anos embarcado) e o golfe, que é o segundo esporte na minha preferência.

O surf entrou em minha vida em 1972, através de uma propaganda de cigarros Hollywood, com alguns cariocas surfando umas merrecas muito longas em uma praia do Nordeste (talvez a Pipa, não me lembro) ao som de “I Shot the Sheriff”, de Bob Marley. Eram duas novidades da época, surf e reggae. Quando vi a propaganda, aos 8 anos, tive certeza que aquele era o esporte que iria me acompanhar na vida.

Para surfar, a gente se virava porque aqui não existia prancha, cordinha parafina, nada relacionado ao esporte. Só a propaganda na TV e algumas revistas velhas com uns longboards que não tinham nada a ver com o que tínhamos visto. A gente “surfava” (pegava uns cocos na beira e olhe lá) de prancha de isopor com camisa Hering para não assar a barriga. Surfava de barco, bote inflável, madeirite (eu não), o que tivesse...

Até 78 ainda não tinha conseguido uma prancha porque o surf era esporte de maconheiro. Tinha tacos de golfe novos, bolas de sapatos, mas nada de prancha. Até que consegui um windsurf, no verão. Fui um dos pioneiros do windsurf na Bahia, época que desencanei um pouco do surf. Só consegui minha primeira prancha em 88, quando já trabalhava e comprei com o meu dinheiro. Comprei uma Blue Marlin, com shaper de Papanel Lanceloti e glass de Wagner, por causa de dois moleques lourinhos que detonavam na praia do SESC (Jaguaribe), um tal de Mandinho e outro era Naldo Nogueira.
 
Quando e por que decidiu produzir o site "EsporteNaRede"?

Na realidade, o EsporteNaRede é um projeto de vida que teve início com o jornal Banzai, quando decidi viver do surf. Daquela época para cá, sofreu evolução, trocou a interface do papel pelo computador, mas a ideia é a mesma. Informações jornalísticas de surf (hoje esporte), praticado na Bahia, sempre buscando as mais avançadas técnicas do jornalismo. A nossa grande barreira continua sendo a acesso aos equipamentos para praticar este jornalismo de ponta.

Com uma câmera na mão, água pela cintura e uma ideia na cabeça (influenciado por Glauber Rocha) comecei no jornalismo. Hoje continuo com uma câmera na mão, água pela cintura, uma ideia na cabeça e praticando jornalismo de vanguada na Bahia com a introdução da TV jornalismo na Internet, mas sem o equipamento adequado.
 
Tem sido difícil trabalhar nesse projeto aqui na Bahia ou as coisas estão cada vez melhores?

As coisas estão bem melhores, mas as dificuldades continuam grandes. Desde o início, a maior dificuldade sempre foi estruturar um departamento comercial, parte até mais importante que o jornalismo. Para existir, além de fazer jornalismo, tenho que comercializar jornalismo e isto atrapalha e atrasa muito o projeto, porque você acaba deixando a desejar nas duas partes.
 
Qual o foco de vocês?

Continua sendo divulgar o esporte competição no Estado, sempre com objetivo de formar ídolos, porque eles são o combustível para a modalidade continuar existindo. Acredito que sem um grande ídolo é muito difícil o esporte se manter como modalidade de competição, com campeonatos, etc...
 
Quais os melhores momentos que guarda em sua memória nas coberturas de eventos de surf?

Um dos melhores momentos, que mais me encheu de orgulho, foi em uma etapa do Nordestino Profissional, disputada na praia do Francês (AL). Fábio Gouveia tinha acabado de ser campeão mundial amador, tinha se profissionalizado e um dos primeiros campeonatos que disputou foi este. A gente já conhecia o Fabinho que tinha ganho, no ano anterior, o Bahia Pro Contest, em um mar épico onde hoje é o Aeroclube.

Todo mundo foi ao Francês ver o primeiro brasileiro campeão mundial que era o grande favorito ao título, mas no caminho dele tinha o baiano Marcio Thola, o "Animal", que tinha um surf com forte influência de Martin Potter, explorando muito os floaters, que eram a manobra da época. A maioria dos surfistas não tinha coragem de executar aéreo nas baterias.

Thola estava inspirado. Antes do meio da bateria, o campeão mundial já estava em combinação, precisando de duas ondas para virar. Faltando alguns segundos para acabar a bateria, Thola pega uma direita, rasga, dá floater, batida, aéreo, faz tudo que um surfista podia fazer no surf na época e ainda mais. Leva a onda até a beira, pula direto da prancha para o chão e, com um movimento com o pé, gira a prancha no ar e encaixa, direto, embaixo do seu braço.

Assim que Thola deu o primeiro passo, a sirene tocou o final da bateria e Fábio Gouveia ficou boiando, no outside, precisando de mais de 15 pontos para superar o baiano.

E o pior momento?

A minha maior tristeza é quando chego em um campeonato de surf e só tem os competidores e a comissão técnica. No início, um campeonato de surf era o principal evento que acontecia na cidade.

Para conhecer melhor o trabalho de Miguel Brusell e Gabriella Simões, visite o site Esportenarede.com.br.

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