Ilhéus no coração

André Gioranelli relembra infância em Ilhéus e rasga elogios a Olivença


Ele foi criado no Rio de Janeiro e atualmente reside em Santa Cruz, Califórnia (EUA), pico recheado de pointbreaks de altíssimo nível, mas nunca esqueceu os tempos em que passou em Ilhéus (BA).

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Aos 36 anos, o ex-top da elite brasileira André Gioranelli guarda com carinho os momentos vividos na Urbis, litoral sul de Ilhéus, e em Olivença, onde viveu com a mãe e os irmãos Victor e Uara.

Inicialmente, foi um choque para um garoto cabeludo que, aos 12 anos, deixou a badalada Barra da Tijuca, no Rio, para adaptar-se à pacata cidade ilheense.

"Quando chegamos, em 87, parecíamos dois eremitas. Saímos de um lugar grande, andávamos de skate e a galera achava estranho. Imagina, há 24 anos, um cabeludo chegando ao Pontal e botando seu skate e suas pranchas pra fora de casa? Nego falou 'Nossa, de onde vieram esses garotos?'. A professora no colégio dizia que ia cortar nosso cabelo. Minha mãe foi até a escola tirar satisfação!", relembra Gioranelli.

No início, André estudou no CIERG (Centro Integrado de Educação Rômulo Galvão). Depois, ele conseguiu uma bolsa de estudos no Diocesano. "Joguei no time do Flamengo quando era pequeno e fui aprovado em um teste com professor Renato no Diocesano. A escola ficava próxima ao terminal rodoviário de Ilhéus, no centro. Fizemos amistosos com vários times e até jogamos no Mario Pessoa e no Banco da Vitória, contra um time que tinha os irmãos de Aldair (zagueiro tetracampeão mundial em 1994)", diz Giora.

"Na verdade, eu não consegui me adaptar e senti muita falta dos meus amigos e da minha infância no Rio. Mas, não posso negar que vivi bons momentos na Bahia. Fiz grandes amigos e nunca esquecerei. Tenho grandes recordações de caras como Jerônimo Bonfim e família, Sandro Grossinho, Bacana (amigo e rival no surf), Bacalhau, Mestre dos Magos e Caga Osso, entre outros".

"Tem também um casal na Urbis, Célia e Mário, hoje com dois filhos. Mantenho contato com eles até hoje", orgulha-se André.

Anos depois de morar em Ilhéus, Gioranelli fez uma grande amizade com Wilson Nora. "Ficamos amigos durante as etapas do circuito mundial no Rio, o Alternativa Pro. Ele era da Seaway e, assim como eu, corria o Brasileiro Amador e sempre ia assistir ao Mundial. Também fiquei muito amigo do seu irmão, Bruno, que surfava muito bem e corria os amadores com a gente", diz André.

Talentos de Ilhéus Quando morou no litoral ilheense, Gioranelli costumava frequentar picos como Morro de Pernambuco, praia do Sul, Fiscal e praia do Norte.

Depois, quando mudou-se para Olivença, ele adotou as direitas do Backdoor como cenário para os treinos diários.

"Eu competia contra caras mais velhos porque não existia a minha categoria (Iniciante). Eu tinha uns 12 ou 13 anos e lembro que uma vez fiquei em segundo no Ilhéus Open, na praia do Sul. Só não me recordo quem foi o campeão", conta André.

"Também teve um vice-campeonato em Olivença, no circuito itabunense, vencido por Alan. O irmão dele (Alex) ganhou a categoria Open", continua o carioca.

"Dos caras mais velhos, a galera que quebrava naquela época era Jojó de Olivença, Duda Barreto e Vinho Tolouco. Falavam muito dos irmãos Argolo, mas eu não costumava vê-los na praia do Sul. Acho que eles ficavam mais pela Avenida. Eu só surfava no Sul e às vezes ia para o Norte", explica André.

Ele revela que tudo era muito diferente naquela época. "A Bahia era muito atrasada em relação ao Rio. Não tínhamos conhecimento de nada do que rolava na Bahia. Não havia internet e tudo demorava. Hoje em dia, as coisas mudaram muito, temos aí o SurfBahia e podemos acompanhar tudo o que rola. Os atletas postam vídeos, fotos, então ficamos por dentro de tudo", analisa André.

Olivença inesquecível A ligação com Olivença marcou bastante sua passagem por Ilhéus. "Sinto saudades de Charlinho (Chaves), que infelizmente nos deixou jovem. Lembro de Rudá bem pequeno, pirralho, surfando só no finalizinho da onda do Backdoor, já perto da areia. Eu era amigo dos seus pais e já sabia que ele iria representar muito bem a Bahia e o Brasil", diz André.

"Tinha também o Dilson Amaral e seus irmãos; Marquinho, Cal, Repolho e Bagulhão; Jurandir e Rose; Gustavinho do Vagão; Junior Soledade; Delmar da água de coco; Marquinho, cuja mãe tinha um quiosque na Batuba e hoje ele é triatleta aqui nos Estados Unidos; Bebeto Hage, que surfava muito bem antes de sofrer um acidente e frequentava o Backdoor, irmão de Magid; Eric e Leo; Cabo Zoio...", relembra Gioranelli.

"Peço perdão aos que não lembrei agora, mas o carinho é especial por todas as pessoas de Olivença. Foram bons tempos, muito surf no Backdoor só com os amigos. Era uma vibe incrível; todo mundo saía do mar, tomava água de coco e ia tomar banho na represa", recorda André.

"As pessoas de Olivença eram muito simples, mas com muito valor. Eu sempre procuro trazer essa simplicidade deles comigo", admite Gioranelli.

3 Degrees Sempre de olho na Bahia, Gioranelli fala dos três principais representantes do surf ilheense no cenário nacional. 

"No meu último ano de elite brasileira, Rudá e Bruno Galini estavam estreando no circuito. Tive a oportunidade de dar alguns conselhos a eles. Estive no Peru e ficamos hospedados na mesma pousada. Eu acordava todos os dias, às 5 da manhã, e batia na porta do quarto deles. Eles me chamavam de louco e falavam 'Oxente, ainda é noite, você é doido!'. Ai eu dizia 'Quer ser surfista profissional? Essa tem que ser a rotina se quiser ser campeão: treinar, treinar, treinar, malhar, malhar, malhar, alongar, alongar, alongar...", conta Gioranelli.

"Durante a viagem, percebi que eles tinham um surf muito bom e sabia que essa dupla iria longe. Mais no fim do ano, eles ficaram hospedados na minha casa, pouco antes de eu vir para a Califa. Dei conselhos para que eles corressem atrás, tivessem prancha boa e perseverança. Levei-os ao shaper Leo Tavares, dei quilhas, capa de prancha... Eu sabia que Rudá tinha muito talento e era radical, enquanto Bruno era mais centrado, mais sério, compenetrado", avalia Gioranelli.

Outro que Giora conheceu bem foi Franklin Serpa. "Eu o julgava nos eventos amadores da Barra da Tijuca. Ele vinha da Ilha Grande, surfava com as pranchas de Fred Baltazar, que também era meu shaper naquela época. Sempre o achei muito bom surfista e ele tinha um estilo bonito. Só pelo esforço de sair da Ilha Grande para a Barra, já era certo que ele queria ser surfista profissional", elogia André.

"Por ironia do destino, ele acabou indo morar em Olivença e seus pais compraram a casa onde minha mãe morava. Acho que ele tem um surf muito polido e acredito que esse trio ainda vai representar muito o surf baiano", exalta o carioca.

Gioranelli aproveita para dar alguns conselhos aos surfistas. "É preciso ter prancha boa, procurar os melhores shapers, cuidar da alimentação, descansar, ter preparo físico e pensamento positivo o tempo inteiro. Por pior que esteja o seu ano, você ainda tem uma das melhores profissões do mundo. Pense que você poderia estar trabalhando numa loja no shopping ou de terno e gravata em uma cidade grande. Respeite a todos e seja um cara bem educado. Isso vai te abrir portas em todos os sentidos (patrocinador, mídia, amizades, etc). Fique longe das drogas. Se fosse bom, o nomes não seria droga!", recomenda Giora.

Califórnia Com o passar do tempo e de olho em alguns legends do surf brasileiro que envelheciam com uma grande história no esporte, mas sem uma estrutura financeira à altura dos seus respectivos talentos, André decidiu deixar o Brasil com a esposa Dani.

O destino do casal foi a cidade de Santa Cruz, Califórnia (EUA). Fora da elite brasileira, ele não pensou duas vezes em batalhar por um futuro melhor para sua família em um lugar muito mais evoluído e com mais oportunidades de trabalho, sem falar na qualidade das ondas.

Em 2006, Gioranelli trocou as fortes ondas do beach break Postinho, Barra da Tijuca, pelo perfeito pointbreak de Pleasure Point, em Santa Cruz.

Giora deixou o Brasil com o um curriculo formado por quatro anos de elite brasileira, quase 10 anos como top 16 do Rio, inclusive conquistando o vice-campeonato estadual em 2004, atrás apenas de Alexandre Almeida, o "Dadazinho".

Atualmente, ele continua competindo em Santa Cruz, nos eventos da cidade. Vira e mexe, dá uma dura nos ídolos locais. Gioranelli tem como patrocínios a Buell Wetsuits, Rainbow Fins Company, Sharp Eye Surfboards, Black Fly's Sunglasses, Bravo Condoms, Oneballjay Acessórios e Blanco Basura.

"Tenho dado aulas de yoga e trabalho também com eventos de jiu-jitsu, construção e pintura. Recentemente, surgiu a oportunidade de fazer os comentários em português nas etapas do World Tour da América do Norte", comenta André, que esteve em New York e Trestles.

O carioca está casado e tem dois filhos (Zack e Ben). "Família é a melhor coisa do mundo", exalta André.
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