O axé de Mineirinho

Em entrevista exclusiva, Adriano de Souza, o Mineirinho, comenta sua relação com a Bahia


Principal brasileiro na elite do surf mundial, o guarujaense Adriano de Souza tem uma forte ligação com a Bahia.

Foi lá que, em 2006, ele deu um salto enorme rumo ao World Tour depois de uma inesquecível vitória contra Neco Padaratz na final do WQS na Costa do Sauípe.

Também no litoral baiano, Adriano levou a galera ao delírio ao vencer outra etapa do WQS, dessa vez na Praia do Forte, em 2008.

Fã da tapioca baiana e da ótima energia do Estado, o top da elite mundial não economiza elogios ao comentar suas passagens pela Bahia.


Em entrevista exclusiva concedida na Austrália, pouco antes da segunda etapa do World Tour em Bell's Beach, Adriano de Souza relembra as vitórias no Sauípe e Praia do Forte, analisa os principais surfistas da Bahia e exalta o big rider Danilo Couto.

Você sempre diz que tem uma ótima relação com a Bahia. Conte um pouco sobre isso.

Minha relação com a Bahia não poderia ser melhor. Sempre que fui competir ou fazer barca de free surf, fui bem recebido por todos. A única declaração que eu posso fazer é que nos dois WQS em que competi na Bahia fui campeão, portanto o axé da Bahia está comigo sempre.
 
Qual a importância daquela vitória no Sauípe em sua carreira?

O Sauípe, na verdade, foi o evento que me colocou pra cima da vaga do WCT na época, ainda mais com a final eletrizante contra o Neco. Adorei conhecer o Sauípe, as ondas são boas, o lugar mais ainda. Tudo isso ficou marcado na minha carrera.
 
Aquela final contra o Neco marcava o encontro entre duas gerações do surf brasileiro. Mesmo com toda a história de Neco, a torcida foi ao delírio quando você virou. Durante o evento, em algum momento você sentiu que a torcida estava a seu favor?
 
Bom, antes de entrar na final, estava conversando com Danilo Costa e ele me disse uma coisa antes de eu entrar no mar: “Você vai ganhar, está todo mundo a seu favor. Vai lá ganhar esse campeonato”. Foi ali que eu me toquei que a torcida estava a meu favor. Claro que a torcida ajuda mais o Neco, com tanta história no país e com surf animal. Não vou enganar que ele me deixou nervoso. Mas o axé da Bahia me ajudou nos últimos minutos para que eu levasse o evento.
 
Mesmo estando bem no World Tour, você fez questão de voltar à Bahia para disputar uma etapa 5 estrelas na Praia do Forte. Por que optou por disputar aquele evento?

Na época, eu estava entre o top 5 do World Tour e não precisava correr o WQS, mas a maior razão de eu competir naquele evento foi a ex-namorada. Competir ali foi uma das melhores decisões que já tive, e vencer o campeonato confirmou ainda mais a minha decisão. Não vou mentir, mas todas as vezes em que vou para a Bahia me sinto uma pessoa melhor. A comida, as pessoas, enfim, são esses fatores que me levaram também a competir naquele evento. Só de lembrar das tapiocas de lá, ja me dá saudades!
 
E esse título no Forte, o que mais te marcou naquela campanha?
 
As tapiocas (muitos risos)! O lugar é inacreditável, direitas de um lado e esquerda do outro. O pico é alucinante, sempre que meus amigos falam da Bahia eu cito o Forte como referência.
 
Dos picos que visitou na Bahia, onde pegou as melhores ondas?
   
Adoro Itacaré. Não sei porquê, mas a afinidade com as ondas me deixaram a gostar mais de lá do que dos outros lugares, mas a Bahia tem uma imensa costa e sei que tem altas bancadas protegidas pelos locais. Estou aguardando um convite dos locais pra surfar essas ondas inéditas.

É verdade que você adquiriu um terreno em Itacaré?

É verdade. Eu comprei um terreno, sim, porque eu adoro essa região e quando eu me aposentar, quem sabe eu possa descansar no paraíso (risos)!
 
A Bahia teve três atletas no World Tour - Jojó, Mandinho e Spirro. O que achou deles?
 
Sei que a Bahia vai ficar triste com essa noticia, mas o Jojó eu não considero baiano porque eu cresci vendo-o surfar no Guarujá. Desde que eu me conheço como gente, vejo a linha de surf do Jojó, portanto eu considero o Jojó guarujaense. Ainda por cima, ele mora na mesma rua onde moro no Guarujá, então não dá pra acreditar e considerá-lo baiano (risos).

Eu gostava muito das atitudes do Spirro no WCT. Entrou super bem e, pra mim, ele foi o cara que mais se destacou entre os melhores na época.

Na atualidade, o melhor surfista baiano está sendo o Danilo Couto, pelo trabalho que está fazendo nas ondas gigantes. Da nova geração, eu curto muito o Franklin Serpa pelo estilo e radicalidade que ele tem.

Há muitos anos, talvez em sua primeira viagem para a Bahia, você passou um tempo em Ilhéus, na casa de Dennis Tihara. Hoje em dia ele tem mandado bem no free surf e inclusive fez um 9.9 em Pipeline com uma Tokoro que você deu a ele. Desde que saiu da Rusty, ele está sem patrocínio. Em sua opinião, o que está faltando para ele conseguir uma marca?

 
Não lembro quando foi a minha primeira passagem pela Bahia. Eu sei que eu fiz uma trip pra lá pra competir no Grom Search da Rip Curl e acabei ganhando. Era um evento de manobras radicais. A primeira lembrança que eu tenho da Bahia foi essa viagem, e na sequência fui pra casa do Dennis.

Na época eu era Hang Loose e ele era Rusty, praticamente do mesmo dono (Alfio Lagnado), daí tive essa conexão de cara com Dennis e fiquei na casa dele por uns 10 dias. Foi demais a viagem. Conheci os familiares dele, o irmão de Dennis se amarra no surf, então a família era 100%.

Eu estava devendo uma quilha da FCS para o Dennis que ele tinha me emprestado no Tahiti e daí, quando o cruzei no Hawaii, ele me falou que estava meio mal de prancha, portanto dei essa força pra ele e dei uma Tokoro 6'10 feita pra Pipe. Quando o vi pegar o tubo nota 9.9, ali ele já pagou a diferença da quilha por uma Tokoro zerada!!! O foco do Dennis no momento está sendo free surf, e com certeza no ano passado ele estava se jogando nas ondas grandes. Espero que ele consiga um patrocínio pra dar continuidade a esse trabalho bem feito.

Você está sempre por dentro do que acontece no surf brasileiro e de olho nos novos talentos. Qual a análise que faz dos atletas da atual geração baiana?

O Rudá foi o que mais se destacou no ano passado, com a final no Brasil Surf Pro do Cupe (PE). Eu vi as baterias da semifinal e a final, achei que ele teve uma atitude de campeão, foi pra cima com manobras inovadoras. O Bruno Galini também me impressionou com a vitória na Joaquina. Fernandez é bizarro, tem um backside sinistro, muito forte. É super novo e pode dar muitas duras nos mais velhos. O Bino está evoluindo a cada ano que passa e promete, com certeza, quebrar tudo em 2011. Estou torcendo por essa nova safra baiana no WQS. Quem sabe um dia a gente possa ver mais um deles, como vimos Mandinho e Spirro.
 
Algum baiano já te deu muito trabalho nas baterias?

Todos são feras e por isso eu não dou mole (risos), mas já perdi inúmeras vezes.

Tem acompanhado o XXL? Acha que vai dar Danilo Couto desta vez?

Se ele não ganhar, vamos ter que bater na porta da Billabong (muitos risos)!
 
Você já venceu uma etapa do Super Trials (hoje Brasil Tour) nas congelantes ondas do Cassino (Rio Grande do Sul) e comentou uma cena inusitada com Jerônimo Bonfim. Fala pra galera o que aconteceu.

O Bonfá, esse cara foi sinistro de cair no Extremo Sul sem roupa de borracha. Foi guerreiro, como todos os baianos mundo afora, mas aquele frio estava insuportável. Eu estava de roupa de borracha 4.3 e estava morrendo de frio (risos)! Enfim, mais uma história que vivenciei nesses 8 anos de carreira como profissional.
 
Para finalizar, manda um alô pra todos que te admiram na Bahia.

Queria agradecer a todos os baianos que estão ligados no WT. Sei que vocês estão torcendo por mim, apesar de após falar que eu considero o Jojó guarujaense, perdi um pouco do público (risos). Mas quero mesmo desejar muito axé a todos que são apaixonado pelo esporte!

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