Locomotiva Medina

Nosso colunista Lalo Giudice analisa a vitória esmagadora de Gabriel Medina no Surf Ranch


E lá vem o trem, uma locomotiva sem freio, quase que imparável, com velocidade homogenia e controlada, sem desvios de percurso, uma máquina. Não, não estamos falando do Hydrofoil, conhecido vulgarmente como: o trem de fazer ondas do tio Kelly ou até mesmo o trem da famosa banda Guns N´ Roses, mencionada em sua lendária canção Night Train (trem noturno). Estamos falando da maior locomotiva já nascida no Brasil, que não se alimenta de madeira ou carvão, eletricidade ou nada do tipo. Uma verdadeira máquina, trem, trator, capaz de passar por cima de tudo e todos.

É dessa forma, sem nenhum exagero, que consigo descrever as performances de Gabriel Medina, vencedor da última etapa do Circuito Mundial de surf profissional da WSL, encerradas nas perfeitas, longas e artificiais ondas do Rancho, em Lemoore, na Califórnia. Passou o carro, rodo, a locomotiva inteira por cima. Foi simplesmente imbatível todo o evento e vem agora líder, sem olhar no retrovisor, como se estivesse apenas dando aquela forte buzinada de um trem.

Ganhou invicto pela terceira vez seguida nesta arena artificial (uma teste e duas vitórias já válidas pelo WT) e segue com sua locomotiva devastadora para Franca e Portugal, além da última, no Hawaii. Em situação normal de temperatura e pressão como foram nos anos anteriores, o rodo, o carro ou o trem, como queira, vai passar sem deixar rastros. Gabriel é o cara e ponto. Tem o surfe mais completo do mundo e vai rumo ao tri campeonato mundial.

Filipinho mais uma vez surfou muito, porém, como havíamos dito na coluna de abertura do Freshwater Pro, precisa melhorar seu surf nas esquerdas se quiser algum dia vencer Gabriel nesta etapa. Apostamos também em Yago Dora e deu certo. Dora surfou muito nas esquerdas, além do melhor tubo pra direita em todo evento. Haviamos também comentado sobre a deficiência de Italo Ferreira surfando de frontside e que o mesmo precisaria melhorar seu link de manobras, seu flow. Isso não aconteceu e Italo perdeu precocemente.

Em relação ao formato de campeonato, sinceramente, me agrada muito pelo menos um evento por ano. A monotonia de inicio sempre irá existir, mesmo nos formatos tradicionais de baterias mata mata ou no próprio Eliminationd Round. Baterias ruins, níveis fraquíssimos, pois em sua grande maioria, estão os piores ranqueados, além de alguns wild cards. No rancho pelo menos você se programa para ver seus favoritos ou quem quer que seja. No modal tradicional às vezes nem começa ou se começa, pode ser um mar de 2 pés com alguns competidores de baixo nível.

Ouvi e li também muita besteira de jornalistas renomados no meio do surf e alguns simpatizantes sobre a distância percorrida na onda da piscinas de ondas de Kelly Slater. Para alguns especialistas, a onda deveria ser cortada pelo meio, já que era visível o cansaço dos atletas naquela condição. O fato que ouvir isso chega a ser um absurdo, pois cá para nós, o surfista usa muito pouco do físico do que quase todos os outros esportes.

A quantidade de jet ski, canais para entrar no mar sem passar pela arrebentação é imensa, além de baterias de em média 30 minutos apenas. Você acha que o KS ia conseguir chegar aos 47 anos jogando futebol em alto nível? E no tênis, com partidas que chegam a 6 horas, você conhece alguém que ganhou um Grand Slam aos 40 anos? Não, por que não tem. No surf você consegue chegar aos 50 se quiser, com um bom nível, vide faixa etária dos big riders da atualidade, neste caso, altíssima.

O surf não tem mais espaço para surfistas e sim para atletas que devem estar preparados para qualquer condição. Perfis como os de Andy Irons, Nathan Hedge, Occy, Sunny, nos dias atuais, não teriam vez.

Ou os surfistas mudam suas posturas e rotinas ou verão por mais alguns anos, a locomotiva chamada Gabriel Medina passar como um verdadeiro trem bala.

Próxima parada, Hossegor, na França.

#segueolider

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