Rei do Rio

Nosso colunista Lalo Giudice comenta a vitória de Filipe Toledo na etapa do Mundial em Saquarema (RJ)


Filipe Toledo deu show nas ondas de Saquarema. Foto: Peu Fernandes


Voltamos ao jogo graças a Deus e como voltamos. E quem nos enche de orgulho e motivação na tentativa de mais um titulo mundial de surf para nosso país é nosso prodígio performático, elástico, acrobata, air show, Filipe Toledo, o dono de Saquarema, palco da quinta etapa do dream tour da WSL, que acabou no último domingo, com mais uma vitória brasileira no ano. Agora já são dois tentos, um vice campeonato e dois terceiros lugares na temporada 2019.

Sim, vamos exaltar a performance de Toledo, até por que todos os méritos e honrarias devem ser creditadas e direcionadas a ele, como protagonista deste evento. Porém, precisamos pontuar alguns acontecimentos relevantes do Rio Pro 2019. Uns muito positivos, que agregam e outros que continuam a desafiar nosso senso critico.

Vamos começar pela maior e mais bela arquibancada natural de todos os tempos. Nunca vimos tanta gente em um único evento de surf da história. Pelo menos é a percepção que tive. O próprio Strider comentava e nos passava toda emoção que o mesmo estava sentindo no meio de tanta gente. Foi realmente fantástico.

Acredito que Saquarema se firmou de vez como arena oficial da WSL nas etapas brasileiras. Desta vez, a Barrinha não quebrou de gala como ano passado, mas mostrou sua força quando o evento foi colocado naquela tarde de sábado. Aliás, quebrou clássico sim, mas a entidade, junto com seu comissariado, perceberam isso tarde demais. Para ser sincero, uma tremenda lambança e incompetência.Vamos ser francos.

Havíamos comentado na coluna de abertura do Rio Pro que alguns organizadores estariam preocupados com a ondulação inconsistente que se previa para a janela da competição e por outro lado, alguns surfistas locais estariam super animados com esta mesma ondulação. Nesta mesma matéria, preferi ir com os locais, já que o Surfline, forecast oficial da entidade, não está dando nenhuma dentro. E como de costume, deu mais uma "bola fora".

Outro aspecto que me incomoda bastante, é ter um diretor de prova que nem é brasileiro. Acredto que seria mais adequado para cada determinada etapa, um diretor de prova local, experiente e principalmente conhecedor do pico, do vento, da corrente, de tudo.

Sinceramente não dá pra vermos tubos gigantes, limpos, estilo Off The Wall, no Hawaii, de João Chianca, Matheus Farias, além de vários outros, para aí sim, resolver jogar o evento para Barrinha, em uma tarde com vento já batendo forte. Simplesmente perderam um dia inteiro de altas ondas.

Ainda há quem diga, informações de bastidores, que enquanto rolava o evento no Point de Itaúna, Pat O´Connel junto a Kely Slater, foram até a Barrinha conferir de perto e decidir onde colocar o evento. Isso nos da margem para pensar muitas coisas, dentre elas, que o comissário oficial da entidade precisa de ajuda para tomar decisões. Engraçado que não é com o representante de atleta e sim com um surfista que está prestes a cair na bateria. Kelly Slater enfrentaria Filipe Toledo na primeira bateria das oitavas de finais.

Afinal de contas, contrariar o mito Kelly não é uma boa opção para uma entidade com fins lucrativos e que busca de algum modo gerar lucros, se firmar. Bater de frente com o careca é quase que alimentar um ímpeto competitivo que vem desde dentro d´água, as mais variadas formas de ganhar dinheiro e vencer adversários, dentre elas, criar uma liga de surf paralela ou se juntar a ISA.

Outro erro mais que grotesco que vemos na entidade é a quantidade de ondas para direita, chegando a ser um absurdo de injusto. É simples a conta. É só fazer um estudo básico de quantos atletas gooffys venceram Snapper, Bells, J-Bay, Margaret River e até mesmo o circuito mundial todo. Quando vamos ter uma etapa que pode ser para esquerda, botam para direita. A única etapa do circuito mundial, única e exclusiva, com ondas para esquerda é a do Taiti. Igualdade zero.

A final na Barrinha foi a coisa mais ridícula que vi em um evento de surf, com alguns dias de janela ainda, previsão de mais um swell e é claro, um surf no Point. Simplesmente para ser justo. Continuamos com o slogan: Igualdade zero.

Engraçado que colocaram as mulheres para ganhar o mesmo dos homens e até hoje não transmitem vossas baterias nos canais fechados, só depois dos homens. Se é pra igualar, que iguale tudo, principalmente a quantidade de mulheres no tour com a dos homens. Pelo andar da carruagem, se a Carol Marks ganhar mais uma etapa, terá quase que o mesmo ganho ou mais de um Sebastien Zietz, que vem ralando há anos no circuito. Mais um: Igualdade zero.

Há quem diga que as meninas ainda não tem nível suficiente para completar 32 atletas no tour. Não concordo nem um pouco com essa teoria, já que quem viu Michael February, Keanu Asing, além de Glen Hall, competirem e adentrarem ao WT de forma medíocre, possa duvidar da capacidade feminina no circuito mundial.

Outro aspecto que me deixa encucado é a falta de voz que um atleta da elite tem com a entidade. É notória a insatisfação de muitos em relação a quantidade de direitas no tour e comissão técnica, porém ninguém fala nada, apenas brandamente em redes sociais ou em suas entrevistas, parecendo "cachorros pidões" implorando por uma mudança, por um pouco de tutano. Em qualquer outro esporte existe uma conversa, discursão dos atletas com os juízes, empresários, cartolas, até que se chegue a uma punição de fato. Futebol, tênis, volei, todos os esportes que tem alguém que julgue. Isso é normal demais. No surf você não pode reclamar de suas notas, bater palma para comissão técnica, falar que tal juiz não entende nada de surf ou até mesmo um empresário ou um pai tomar tal atitude. Não pode. Perdi a conta de quantas vezes Eurico Miranda, presidente do Vasco, chamou o juiz de ladrão. Ayrton Senna então nosso maior ídolo, não engolia nada a seco. As vezes, em linhas gerais, o “pau quebrava” com a FIA, era quase baixaria. Dentro de um respeito é claro.

Enquanto o surf não tem uma Justiça Desportiva, vamos continuar calados. O atleta, o pai dele, o empresário dele. Todo mundo. Ninguém pode falar nada. Quem não lembra do Bobby Martinez expulso da antiga ASP, Filipinho suspenso no Rio. Só a entidade que não erra nunca. Ela e a bancada do Pritamo, que é a pior que já presenciei em toda minha vida nesse esporte. Minto, o Kelly pode.

Outro fato negativo que rolou na etapa brasileira do tour foi a contusão do líder do ranking John John Florence. Aguardamos boas noticias e emanamos vibrações positivas para recuperação rápida do líder do circuito. Não sou médico e procuro não opinar sobre assuntos que não me pertecem, porém o inchaço que vi no joelho esquerdo do havaiano me assustou bastante.

Voltemos ao surf e a consagração do rei de Saquarema, Filipe Toledo, que vence em terras cariocas pela terceira vez em sua carreira. Agora são duas em Saquarema e uma na Barra da Tijuca. Bateu todos sem muita dificuldade, exceto na bateria de oitavas de final, contra o mito Kelly Slater, na Barrinha. De resto, foi maioral em todas as disputas que teve, chegando nas finais na forma absoluta. Na bateria decisiva, mostrou todo seu arsenal de manobras, deixando o talentoso sul africano, Jordy Smith, com o vice campeonato na etapa.

Apenas curiosidade, não ouvi em nenhuma bateria o famoso assobio do seu técnico e pai, Ricardo Toledo em suas baterias. No final do evento, com o desabafo do campeão, afirmando alguns problemas internos, me fez pensar de alguma forma, que esta parceria poderia esta abalada, até por que já presenciamos inúmeras discussões e brigas dos dois, pai e filho. Honestamente, espero que não seja esse motivo.

Nosso bicampeão mundial e maior ídolo, Gabriel Medina, sucumbiu em uma quartas de final com pouquíssimas oportunidades e suas notas sendo um pouco desvalorizadas a meu ver. Verdade que o fenômeno de Maresias não foi espetacular, deixou na dúvida, mas você comparar aéreos full rotation de backside, com aquilo que Kolohe fez, não dá. Coisas do Pritamo, o pior headjudge da história do circuito mundial. É a mesma coisa de comparar um duplo twist carpado, mesmo com uma volta um pouco irregular, com um mortal de costas. A dificuldade é outra, incomparável.

O restante da brasileirada não obteve resultado satisfatório, porém podemos destacar a volta do nosso capitão Nascimento, Adriano de Sousa. A entrada de última hora do capixaba endiabrado, Krystian Kymerson, que fez uma boa performance em Saquarema, além de alguns lampejos de genialidade de Yago Dora, ainda no inicio do campeonato.

Vamos para J-Bay buscar novamente o tri campeonato com Filipe Toledo, que é o grande favorito para etapa sul-africana. Torcer pelo segundo turno brilhante de nosso bi campeão mundial Gabriel Medina, além de uma melhor sorte para Italo Ferreira nessa segunda parte do ano.

Agora é torcer para entidade continuar chamando Caio Ibelli e que possamos ser justos, com mais esquerdas no tour, mais mulheres competindo, menos bairrismos e protecionismos. Isso, se pai Slater deixar.

Direitos iguais. Eu acredito.

PUBLICIDADE

Relacionadas

Alexandre Piza comenta postura da sociedade em relação às orientações do isolamento social nas praias de Salvador

Luciano Nunes relembra histórias do passado ao lembrar de surfistas das antigas de Salvador

Nosso colunista Lalo Giudice exalta a vitória de Italo Ferreira no Pipe Masters e a sua conquista do mundial

Nosso colunista Lalo Giudice analisa as chances dos candidatos ao título na última etapa do Circuito Mundial em Pipeline

Nosso colunista Lalo Giudice comenta a vitória de Italo Ferreira e a polêmica envolvendo Gabriel Medina e Caio Ibelli em Peniche

Nosso colunista Lalo Giudice comenta a vitória de Jeremy Flores na França e a ponta do ranking de Gabriel Medina

Nosso colunista Lalo Giudice analisa a vitória esmagadora de Gabriel Medina no Surf Ranch

Nosso colunista Lalo Giudice analisa a expectativa para a etapa nas ondas da piscina no Surf Ranch