Abrindo vantagem

Nosso colunista Lalo Giudice comenta a vitória de John John Florence em Margaret River e a atuação do time brasileiro na etapa


John John Florence abre vantagem na disputa pelo título mundial. Foto: WSL


Já estamos em junho e como diz um grande amigo meu: A hora é agora, não dá mais para esperar, ainda mais depois do resultado da quarta etapa do Circuito Mundial, finalizada nas selvagens ondas de Margaret River, Austrália, vencida novamente pelo havaiano John John Florence, que agora dispara na liderança do Tour, com duas vitórias, complicando muito a vida do nosso esquadrão brazuca.

A melhor etapa do Mundial deste ano a meu ver, teve de tudo e mais um pouco. Tivemos ondas médias, grandes, tubulares (como o slab de The Box), mexidas, além de alguns tubarões, que sempre aparecem por lá, independente da época, além de alguns erros de julgamento primários, no qual falaremos mais pra frente, até porque, teríamos que escrever uma matéria somente sobre esse tema, pois a coisa está feia.

John John ganhou de novo, na etapa de Margareth, que mais se encaixa ao seu surf. Ondas volumosas, oceânicas, que se assemelha bastante a seu homebreak, Rocky Piles, o que facilita muito ao príncipe havaiano soltar suas variações de rasgadas. Muitas delas com muita perfeição, muitas outras, sem muita projeção, de jeito, de fundo, mas agrada que é uma beleza. As vezes acho que voltamos aos 90, principalmente quando vemos certas ondas sendo bastante valorizadas.

Precisamos perder um pouquinho de nosso precioso tempo e rever as baterias do Margaret River. Bem simples, voltemos a bateria do round dos 16, bateria de número 2, contra o havaino Sebastian Zietz. Coloquem no minuto 18 e verá um 8,17 do JJ em uma onda que ele manda um de seus rasgadões na veia, manda mais uma rasgada na qual ele entra de borda na onda, manda um floaterzinho para lá de funcional e uma batida na junção sem expressão alguma. Deram 8,17 em uma onda onde só teve uma manobra com comprometimento e pior que isso, a onda tinha 3 pés.

Outra comparação muito fácil de se fazer é na bateria contra o brasileiro Caio Ibelli , nas semi finais. Comparem o 7,43 do havaiano (4 minutos) contra o 7,83 de Caio (1:30minuto). Simplesmente um absurdo. A onda de JJ começa com uma boa rasgada, perdendo um pouco o equilíbrio, manda outra rasgada, perdendo novamente o equilíbrio e uma batida na junção boa. A onda de Caio era no mínimo um ponto a mais. Fica difícil trabalhar dessa forma.

Bom para o havaiano, que não tem nada a ver com isso, vence mais uma no ano e dispara na liderança do ranking mundial.

Nós brasileiros, mesmo com aquele grito engasgado na garganta, desde a vitória de Italo Ferreira na Gold Coast, tivemos mais um honroso terceiro colocado com Caio Ibelli e uma excelente final de nossa atleta Tati Weston Webb, que surfou muito, abocanhando um belo vice campeonato.

Italo, nosso melhor ranqueado deste ano, mostrou que está com a faca nos dentes. Mais um quinto lugar no ano, além de uma espetacular bateria no perigoso slab de The Box. Talvez, fez uma das melhores ondas de sua vida vestindo a lycra de competição. Botou pra baixo, cavou no último milésimo de segundo, entubou em pé, saiu na baforada. Tudo isso em sua primeira queda no pico em toda sua carreira. Mostrou pro mundo o que é capaz.

Gabriel Medina não teve a mesma sorte de Italo. Mesmo parecendo estar a vontade, esperou demais pelas bombas, faltando uma back up wave em seu somatório. Perdeu para um Caio Ibelli pra lá de inspirado. Do jeito que estão as coisas, o fenômeno de Maresias precisa de um grande resultado, já agora no Rio de Janeiro. Caso contrário, mesmo com um belo segundo turno de sempre, tudo poderá estar perdido.

A desconfiança que tinha sobre Filipe Toledo em ondas de consequência, infelizmente não tenho mais. O melhor surfista em ondas mínimas do mundo, é um dos piores em ondas de consequência do mundo. Fato consumado. Uma coisa é você perder arriscando, outra coisa é ver o que vimos. Titulo mundial para o ubatubense, só com um ano de ondas muito pequenas e olhe lá. Até as comparações com Taj Burrow já não vejo mais sentido. O australiano já ganhou Pipe e Teahupoo, além de Margaret River também.

O restante da nossa tempestade brasileira uma menção muito digna para Jadson André, o próprio Caio Ibelli, Peterson Crisanto, além de Willian Cardoso. Um salve muito positivo para os atletas do: Quem não arrisca não petisca.

Voltemos aos juízes, melhor ainda, a bateria da semi final entre Kolohe Andino e Julian Wilson. Faltando um minuto para o término, Julian precisando de 5,27 para se garantir na final, pega uma onda branca, erra a primeira manobra, erra a segunda e mesmo assim faz o famoso "claim", comemorando sua performance pífia.

No momento em que vi a tal comemoração do australiano, de imediato entendi que o próprio Julian fez tal sinal querendo persuadir a bancada de juízes, mesmo naquela onda horrível. O comentarista do canal em que eu estava assistindo a transmissão teve o mesmo pensamento e sensação que eu tive: “com essa bancada de juizes sem critérios bem definidos, tudo pode acontecer, deixa eu comemorar aqui, mostrando que foi uma onda difícil, pra ver o que eles vão achar". Dessa vez não deu certo, mas a intenção foi totalmente essa.

Voltando aos juízes, não consigo entender como um da 7,0 e o outro da 8,5 em uma mesma onda, sendo que isso acontece com muita frequência. Para mim, uma onda 7 é completamente diferente de uma onda 8,5. pelo amor de Deus.

Outro assunto que me chamou bastante atenção foram as notas dos juízes brasileiros, sempre mais baixas do que os outros juízes, principalmente nas baterias dos brasileiros. Não consigo entender. Na verdade, consigo sim , mas não seria respeitoso escrever aqui. Em breve, a WSL irá tirar a nacionalidade dos juízes em seu displays de notas, já que indicadores poderão ser feitos com essas informações. É o que estou fazendo nesse momento.

Pra finalizar, o feeling desses árbitros que passam longe dos seus instintos. Dirás Italo Ferreira, que deve estar revendo seu tubão a todo momento. Uma onda pesada, oca, um verdadeiro tubasso, que por questões de décimos, poderia leva-lo ao hospital com uma fratura que poderia até lhe tirar do Circuito por tempo indeterminado.

Parabéns Italo Ferreira, foi o melhor 8,17 que vimos em nossas vidas.

 

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