Guerreiro ninja

Nosso colunista Lalo Giudice analisa a vitória de Kanoa Igarashi e a excelente campanha de Slater na etapa de Keramas, na Indonésia


A terceira etapa do Circuito Mundial de Surf, o Bali Protected, nas performáticas ondas de Keramas, na ilha de Bali, na Indonésia, será lembrada por muitos anos, principalmente pelos japoneses. Onde o versátil Kanoa Igarashi, que pela primeira vez na carreira levanta o troféu de campeão de uma etapa do CT.

Sabemos que o atleta, filho de japoneses, participava do Mundial representado pela bandeira norte-americana e devido as Olimpíadas de Tóquio em 2020, por uma jogada do Comitê Olímpico japonês, para ter um participante forte na modalidade, trouxe Kanoa para o país do sol nascente. Bela jogada, afinal de contas, a seleção francesa de futebol, campeã mundial da última Copa do Mundo, é repleta de atletas naturalizados.

Sabemos que essas mudanças no surf acontecem já a algum tempo, também por alguma outra justificativa, proporções menores, mas acontecem. Alguns exemplos rápidos para não fugirmos do tema tratado em questão são os brasileiros Eric Rebiere e Patrick Bevan, que chegaram a correr o Circuito Mundial pela França. O brasileiro Vicente Romero, que representa a Espanha, o irlandês Glenn Hall pela Austrália, assim como o mais famoso dos casos, o inglês Martin Potter representando a África do Sul.

Voltemos ao guerreiro ninja Kanoa Igarashi. Surfando com as pranchas do shaper carioca, residente na Califórnia, Márcio Zouve, Kanoa evoluiu muito. Quando surfava com as Channel Island, tinha a impressão que seu surf ainda estava um pouco imaturo, com links e drives picados, além de usar muito o fundo de sua prancha. Com a Sharp Eye seus links são mais harmônicos e longos, além de jogar mais água também.

Fez um primeiro round péssimo, até ir se achando aos poucos e entrar em total sintonia com as ondas. Pelo seu caminho, a bateria que seria mais aguardada, as semis com o mito Kelly Slater (falaremos do Kelly), bateu Slater e seu mestre, antigos companheiros de equipe, além de Jeremy Flores na grande final. Por sinal, intrinsicamente, havia uma vontade muito grande de Slater e Jeremy se enfrentarem nas finais. São disparados os melhores amigos de Sunny Garcia no Circuito e com certeza, uma grande homenagem seria feita, além de doações das premiações.

Chegamos no mito Slater. Mais uma vez no ano conseguiu um resultado honroso, o que lhe dá mais motivação para o resto do ano. Porém, suas notas continuam medianas e de surpreendente, apenas o fato de passar baterias. Até as semis, Kelly não tinha feito uma média superior a 14 pontos, exceto na bateria com Michel Bourez, que recebeu “aquele solavanco” por parte da bancada dos juizes. Não passava aquela bateria nem a pau.

Slater, por ser nosso mito, gera muita audiência. A própria entidade tenta usar sua imagem para atrair telespectadores, visualizações e até mesmo patrocinadores. Um passarinho me contou que o QS 6000 de Manly, na Austrália, o próprio recebeu em torno de $ 100.000,00 para participar do evento.

Mesmo com essa terceira colocação, jogo pra muito longe uma disputa de titulo de mundial e até mesmo uma vaga nas Olimpiadas, já que ficar entre os dois mais bem colocados de seu país, competindo contra JJF, Kolohe Andino e Conner Coffin, pode ficar um pouco estreito. Ainda tem o Griffin Colapinto e o Zeke Lau. O Circuito é longo, mesmo com Pipe e Teahupoo, não acredito em uma reviravolta tão espetacular de nosso mito maior, afinal de contas, nesta altura do campeonato, seu talento é proporcional a sua falta de testosterona. Aos 47 anos, Kelly não precisa provar mais nada a ninguém, Filipinho que o diga, perdeu Pipe ano passado e voltou a perder em Keramas. Coisas que só o GOAT ( Great of all time ) consegue fazer.

Porém, continuo minha tese que não dá mais para ele. Quem acompanhou 11 titulos mundiais e 3 vice campeonatos, se não me engano, ao longo dos 23 anos de Circuito Mundial que o careca participou na integra, tem uma percepção parecida com a minha.

Sabemos que o surf é um pouco diferente de outros esportes que possuem um desgaste físico um pouco maior. O futebol, tênis, basquete, tem mais esforço físico que o surf. Michael Jordan, Pete Sampras, Ronaldo, jamais conseguiriam praticar seus esportes em alto nível ou se aposentar aos 47 anos de idade. No surf, o talento conta um pouco mais do que a idade a meu ver. Basta você olhar o clã do surf de ondas grandes, onde a faixa etária desse grupo especifico é bastante alta. Carlos Burle, Shane Dorian, Grant Baker, todos acima de 45 anos. Sem falar nos diversos canais que facilita a entrada no mar e a ajuda incondicional de jet skis em algumas ocasiões. Tenham certeza que daqui no máximo 10 anos, a idade de aposentadoria do surfista profissional vai ser ainda maior. Pode apostar.

Sobre os brasileiros, menção honrosa para o cearense Michael Rodrigues, que fez um excelente 3º lugar, ganhando mais confiança para o resto do ano. Com o bico de sua prancha em branco, por pouco tempo tenho certeza disso, até por que seu novo manager é Luis Henrique Pinga. Michael, que é da mesma geração de Italo e Filipinho, vem se soltando aos poucos. Está com o inglês muito melhor que ano passado e acredito eu, mais adaptado ao circo da WSL.

O restante da brasucada, melhor posição para Filipe Toledo, que perdeu uma grande oportunidade de subir no ranking ao perder nas quartas para Kelly Slater, em mais um jogo psicológico do que surf em si. Não me recordo em um mar para seu feitio de surf como era Keramas, Toledo somar apenas 10 pontos de média. Surfou mal essas quartas de finais.

Não poderia de deixar também meu parecer sobre o Head Judge da WSL, Pritamo Ahrendt, que veio para dar uma cara nova ao sistema de julgamento da WSL e só esta fazendo lambança atrás de lambança, sem critérios bem definidos, além de uma escala de notas que está deixando os comentaristas da própria entidade de cabelo em pé. Coloque em português, inglês, pela WSL ou por outro meio e verás que os tais comentaristas, que são verdadeiros especialistas, ex competidores, jornalistas e muitas vezes até juízes, estão em total desarmonia com a bancada do Pritamo. Digo, fora de sintonia mesmo, parecendo baterias e surfistas diferentes.

O próprio John John Florence disse, após perder sua bateria para o francês Joan Duru no round 3, que não poderia perder muito tempo ali com a Rosy Hodge, pois precisava rever a bateria para tentar acreditar que realmente perdeu, já que viu a onda do francês por trás.

A previsão de ondas do Surfline está cada dia pior e com mais margem para erro. A bancada do Pritamo não dá uma dentro, fazendo parecer que todo mundo tem o mesmo nivel de surf.

Só me resta imaginar que a entidade máxima do esporte, acertadamente trocou o periodo da etapa de Margaret, devido a concentração de salmão, que é pertinente nessa época do ano, atraindo peixes maiores, como os tubarões.

Esta informação é verdadeira? Tem margem para erro? O Pritamo e o KP tem alguma coisa a ver com essa mudança de data?

As incertezas e indefinições são tantas que não sei mais em quem acreditar. Vamos aguardar.

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