Evento revolucionário

Lalo Giudice revela suas impressões sobre o Founders Cup no Surf Ranch


Jordy Smith comanda a vitória da equipe Mundo no Founders Cup. Foto: WSL / Cestari.


Fim de semana histórico, memorável, inédito para o surf mundial e apaixonados pelo esporte que puderam acompanhar o primeiro WSL Founders Cup, realizado nas perfeitas ondas da Kelly Slater Wave Company, em Lemoore, Califórnia (EUA).

Foram dois dias intensos, de muita ação, com a equipe “Mundo”, liderada por Jordy Smith, vencendo esta primeira edição, deixando o Brasil em segundo e os Estados Unidos em terceiro na grande final.

Antes de falarmos das performances dos brasileiros, os vencedores do torneio e o resto da gringalhada, precisamos pontuar alguns acontecimentos que marcaram este super evento.

Tivemos, finalmente, a chance de avaliar se esse novo formato de competição é mais justo do que as tradicionais baterias mata-mata, onde as variáveis são bem maiores no modal tradicional.

Disputa de ondas, escolha das mesmas ou até mesmo várias tentativas ao longo dos seus rápidos 30 minutos, fazem com que o formato tradicional seja um pouco mais dinâmico, competitivo e até mesmo imprevisível do que o formato do Founders Cup.

Não que tenha sido uma experiência ruim assistir às apresentações individuais de cada atleta, onda a onda. Não mesmo. Acredito que nós, espectadores, sentimos um pouco, principalmente no primeiro dia de competição, onde a falta de costume desse novo formato por apresentações, adicionado a uma quantidade muito grande de breaks comerciais, fez com que muitos ficassem entediados, sonolentos.

Os competidores também se sentiram pressionados e visivelmente nervosos. Não conseguiam mostrar o melhor do surf nos primeiros momentos do evento. Isso mudou no último dia de evento, quando as equipes precisaram ampliar seus scores, trocar as notas necessárias, de acordo com uma estratégia bem definida e riscos a correr.

Gabriel Medina teve performances de alto nível no Surf Ranch. Foto: WSL / Cestari.

 
Quem imaginava que não existia fatores ambientais que interferissem nas ondas do Rancho, ledo engano. A depender da direção do vento, a onda da direita fica bastante diferente da esquerda, com três seções de tubo e algumas seções com mais partes críticas para manobras. Já a esquerda fica um pouco mais cheia, com lips esfarelados para manobras e apenas uma seção de tubo. Dessa forma, teremos mais uma etapa no Dream Tour com a direita mais perfeita do que as esquerdas.

Fato marcante para o surf, também, no Founders Cup, foi ver um dos maiores esportes individuais do mundo ser disputado entre equipes. As rivalidades foram deixadas de lado, as antipatias e tudo de negativo que esse esporte super competitivo, saudável, porém vaidoso e egocêntrico, traz, sucumbiram diante do espirito olímpico. Aconteceu até a junção das duas maiores entidades do surf, a WSL e a ISA, para a realização deste evento e evolução do surf como esporte olímpico.

Quem diria... Pela primeira vez, a WSL, além de homenagear os fundadores do circuito mundial (como o nome Founders Cup já diz) fez uma justa e honrosa homenagem a um dos maiores batalhadores pelo surf competição e inserção do esporte nas Olimpíadas, o argentino Fernando Aguerre.

Na parte estrutural, arquibancadas lotadas, com super telões mostrando tudo o que estava acontecendo dentro do complexo da KSWCo. As entrevistas com os atletas não foram só ouvidas pelos internautas, desta vez. Auto falantes foram inseridos nos microfones para todos os expectadores que pagaram pra acompanhar de perto o evento inédito da WSL.

Vale ressaltar o trabalho muito bem feito da equipe de repórteres da WSL. Estão conseguindo mesclar, há algum tempo já, a experiência e tato de alguns ex-surfistas profissionais como os big riders Peter Mel, Strider Wasilewsky e a ex-competidora profissional Rosy Hodge, com alguns repórteres de profissão como o renomado Ronnie Blakey e Joel Turpel.

Kelly Slater, anfitrião da festa, foi o grande o nome do evento, em minha opinião.. A vontade de mostrar, testar e aprovar sua invenção para o mundo foi maior do que qualquer performance realizada neste fim de semana.

Kelly Slater fez a alegria da plateia no Surf Ranch. Foto: WSL / Cestari.


Mesmo não conseguindo scores que não passavam dos 9,00 pontos, Slater fez diversas ondas com variada leituras e abordagens diferentes. Teve esquerda com 17 manobras, fez um tubo no drop de uma direita, laybacks abaixo do lip, além de uma colocação nos tubos para poucos.

Após seus “runs”, fazia questão de dar uma “volta olímpica” andando ou muitas vezes na carona do jet-ski de seu amigo eterno, e agora funcionário, o taitiano casca-grossa Raimana Van Bastolaer, acenando para a multidão que respondia, positivamente, aos acenos de vosso rei.

Os brasileiros mostraram mais uma vez por que são os melhores do mundo na atualidade, principalmente, nessas condições. Gabriel e Filipinho, individualmente, surfaram mais que todos. Toledo, que fez a melhor onda do evento, levou um Jeep zero quilômetro pra casa, como prêmio.

Já Gabriel fez quatro notas acima dos 9.00 pontos, mostrando que está surfando demais. É, sem dúvida, o maior surfista que já houve no Brasil e o mais completo surfista do mundo, na atualidade!!

Adriano de Souza surfou muito bem, entubou com maestria e inverteu muito bem suas batidas de backside. Não se apresentou da melhor forma, mas foi muito importante para o time brasileiro, principalmente no quesito motivacional. Nosso Capitão Nascimento é muito patriota e seus gestos de comemoração a cada onda boa surfada mexia com os ânimos do time brasileiro.

Nossa guerreira Silvana Lima arrebentou. Se encontrou nos tubos, tanto para a direita, quanto para a esquerda, e fez grandes ondas. Não sentiu a pressão do evento inédito e bateu de frente, de igual pra igual, com as melhores do mundo. Se conseguir verticalizar e inverter um pouco mais de backside, Silvana será uma das grandes candidatas à etapa do CT, em setembro.

Já Tainá Hinckel, caçula do time brasileiro e do evento, com apenas 14 anos, sentiu o peso de surfar em um evento desse porte. Mesmo assim, deixou uma excelente impressão para todos que acompanharam o torneio.

Tainá possui uma base bem sólida, com manobras bem definidas e pouco “quique” nas passagens das transições. Já surfa com uma das mais conceituadas marcas de prancha do mundo e tem tudo para entrar no Tour feminino em breve. Havia tempo que não víamos uma surfista brasileira com um talento diferenciado, desde a época da ex integrante do CT Bruna Schmidt.

Filipe Toledo descola nota 10 e ganha um carro zero quilômetro. Foto: WSL / Cestari.


É perceptível, nesta coluna, que não destacamos o time Mundo, grande vencedor do Founders Cup. Como tantas novidades, surpresas e comprovação deste novo formato de competição, a vitória desta equipe me pareceu algo morno, sem muito brilho, fadado a uma competência coletiva. Só Jordy Smith mesmo que quebrou, levou a responsabilidade nas costas e foi cirúrgico em seus movimentos. Acertou aquele alley up salvador, levando seu time à vitória. Para mim, foi o terceiro melhor surfista do evento.

O bicampeão mundial de surf, o havaiano John John Florence, também não apresentou o melhor do seu surf, levando um prêmio de consolação pra casa como melhor aéreo do evento. Revi essa onda avaliada em 9.80 várias vezes, e é claro, comparando ao 10 de Filipe, e achei muito inferior. Sua abordagem foi bastante conservadora, fazendo tubos curtos e manobras de fundo, sem inverter a direção de sua prancha.

O próprio John John sabia disso e foi para o tudo ou nada no aéreo, exatamente pra chamar a nota, já que em sua totalidade não foi muito boa. Um 9.00 estava de bom tamanho. Sinceramente, lembrei do head judge Perry Hatchett elevando sempre as notas de Kelly, e até mesmo o mais recente, Richie Porta, com o mesmo John John Florence.

Realmente um super evento que entrará para a história do surf. Nem mesmo a manutenção feita na máquinas de onda (hidro foil), sem áviso prévio, por uma hora e 10 minutos, exatamente na segunda apresentação de Joel Parkinson, ou até mesmo uma imagem capturada pela WSL, do próprio Joel, bebendo uma latinha de cerveja antes de sua apresentação no segundo “run”, fizeram diminuir o glamour do maior evento de surf já realizado até hoje.

Dessa forma, como nada é perfeito, daremos uma nota para o primeiro WSL Founders Cup, que é a cara do novo heat judge da entidade, Printamo Ahrendt: 8,63!!!

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