Maldição Zap-Zap

Alexandre Piza aponta como os grupos de Whatsapp estragam o real espírito do surf


Foto: Sávio Ribeiro / Animar.


Eis que às cinco da manhã de sábado, chega a primeira mensagem no grupo de duzentas pessoas, sendo que você só conhece umas quinze, no máximo: “Bom dia, galera, estou passando aqui no Padang e tem uma marola boa”.

Uns dez minutos depois, uma nova mensagem: “Colé, meus brothers, aqui em Armação a vala tá enroscando, tô caindo agora”.

Bom, primeiro que às cinco da manhã só se o cara tiver aquela famosa visão além do alcance ou tiver parentesco com algum animal de visão noturna privilegiada, ou mesmo se saiu dos filmes ou quadrinhos da Marvel sendo um mutante. Desculpe, mas nesse horário, você cravar as condições do mar, impossível.

Aí, tem aquele outro que vai, surfa só no sapatinho e depois faz um vídeo falando ao fundo: “E aí, pai, acabei de sair aqui da valinha tal, no pico tal, pode vir que tá filé (...)”. Nossa, esse é o pior!

Bom, na maioria dos vídeos e fotos, esse tal filé aí, é aquele filé duro, queimado e de carne de terceira. Já que o mar quase sempre esteve mexido, pequeno e bem irregular.

Um outro caso clássico que tem acontecido é daquele grupo de lunáticos que insistem em polemizar sobre o surf competição. O problema não é nem polemizar, pois tenho certeza que esse tema precisa além de muita polêmica, muita discussão e, sobretudo, soluções urgentes, já que o surf competição em praticamente todos os estados brasileiros está uma lástima.

Criam um grupo, adicionam trocentas pessoas “do nada”, onde a maioria não sabe muito além de que Mineiro e Medina são os campeões mundiais brasileiros, começam a xingar uns aos outros, querem convocar assembleia não sei do quê, um xinga a mãe do outro, o grupo implode e no mês seguinte eles fazem tudo de novo.

Podemos ficar aqui citando inúmeros exemplos, mas na real este texto quer ilustrar um pouco daquela máxima: “O homem cria e também destrói”. Ou seja, cria-se uma ferramenta tecnológica “ninja”, onde grupos enormes podem se comunicar, mas que muitas informações não são para o bem ou são passadas por pessoas, digamos, desqualificadas. Que distorcem tanto ao ponto de criarem “inverdades”.

A internet nos deu esse poder. Antigamente notícia era notícia, jornalista era jornalista, colunista era colunista, eu iria dizer que raiz era raiz e Nutella era Nutella, mas aí o buraco é mais embaixo. Faz de conta que não disse isso também.

Então, hoje, a democratização da informação deu muito poder a todos. Isso é ótimo. Hoje temos acesso a muita coisa de qualidade, aprendemos demais, muito rapidamente e com acesso facílimo a diversos temas.

Nossa, faço mil perguntas para as ferramentas de busca, tanto para fins particulares, como para profissionais, e encontro respostas ótimas, respaldadas, bem embasadas e comprovadamente convincentes. Ao mesmo tempo que, para alguns temas específicos, encontra-se respostas divergentes ou duvidosas, e é aí que mora o perigo dessa rede tão livre ficando na mão de “terroristas da informação”.

Recentemente, você mesmo deve ter recebido, também, um vídeo de um assalto filmado com câmeras de segurança, divulgado como ocorrido em Stella Maris, mas que na verdade tinha sido no Rio de Janeiro. Você vê alguma “função” desse tipo de atitude de divulgar mentiras e distorcer fatos? Eu não! Só consigo pensar que quem faz isso tem aquele “prazerzinho da maldade”, sabe como é?

Voltando aos grupos de zap-zap, antes de mais nada, quero manifestar que esse apelidinho deve ter sido criado por quem não consegue pronunciar o nome do aplicativo e viralizou. Particularmente, acho ridículo.

Bom, retomando às questões específicas do surf, não sou especialista em comportamento humano, mas nitidamente essa galera que fomenta informações de “chama crowd” nos grupos, muito provavelmente, tem problemas sérios de autoestima, ego e leitura do mar.

Encontraram na rede e nos aplicativos uma forma de obterem “sucesso”, mesmo que às custas da contramão de um dos mandamentos mais sagrados do surf, que é o seguinte: uma das melhores coisas do mundo é surfar só com seus amigos.

E o problema maior é que esses tais conseguem uma legião de seguidores que também estão achando “bonito ser errado”. E, como isso que chamo de “errado” está atingindo a maioria, me pergunto: será que eu estou errado?

Sendo assim, quem quiser meu “zap-zap” e para saber como estão as condições do mar aqui em frente de casa, é só perguntar. Brincadeirinha...

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