Itacaré já era?
Depois de 9 anos, Alexandre Piza volta a Itacaré e conta suas impressões da cidade
Itacaré já era?
Essa pergunta é constante tanto para quem frequenta, como para quem mora, como para quem tem pretensão de conhecer.
Fiquei nove anos sem pisar em Itacaré, isso mesmo, nove anos. Durante esse tempo, deixei de ir, confesso, influenciado pelos relatos negativos de todos os tipos: ocupação desordenada, falta de segurança, saneamento básico, localismo em algumas praias, preços de coisas básicas para veranistas (surfistas) como alimentação e hospedagem, dentre outros fatores.
Notoriamente e gradualmente, a “galerinha descolada” que frequentava Itacaré migrou seus reais para Barra Grande. A Península de Maraú tornou-se o lugar do estilo despojado, gente bonita e aquela atmosfera mais “roots” que une e alegra a galera.
Na pousada em que nos hospedamos (incrível), praticamente todos os quartos estavam ocupados por famílias. Aquela galera “das antigas” que era maioria e ia na pegada do surf e da night, agora está em número muito inferior.
Bom, voltei a Itacaré em dezembro de 2017, antes do frenesi pós-Natal, que deixa a cidade abarrotada e caótica. Confesso que, na época em que fui, fiquei impressionado positivamente. Hospedagem e alimentação acessíveis, pra todos os gostos e bolsos, ruas muito bem patrulhadas, nenhum sinal (fora do “normal”) de tráfico, brigas, furtos e baixo astral.
Claro, tem uma invasão de hippies um tanto malas, que ficam te abordando o tempo todo querendo trocar aquele “trampo maneiro” por uma cerveja ou qualquer drink que contenha álcool. Nada contra o estilo de vida, acho legal a arte que eles produzem, tem vários com muita ideia boa pra trocar e tal, mas eu lá, com minha esposa, recém-casado, na maior paz, no maior astral, e de 5 em 5 minutos “E aí, ‘amaral’ (odeio que me chamem de amaral. O maluco não sabe nem o que faço, nem de onde vim e vem com essa tirada… Sai fora), rola de trocar uma arte por uma birita pro maluco aqui?”. No primeiro, no segundo, ok, mas calma lá, amigo, se eu quiser eu procuro, vou lá na feirinha e escolho. Não precisa tirar a paz do cidadão aqui.
Falando mais da night, várias bandas boas de reggae, rock, MPB, etc. Nossa, que alívio fugir do pagodão de Salvador. Cervejas, drinks, comidas de todos os tipos por preço bem justos.
Uma das coisas que mais cresceu em Itacaré, adivinhem? Isso, o número de surfistas. Como em todo lugar, quando o número de praticantes de surf aumenta, logo o localismo aumenta proporcionalmente. Não cabe aqui discutir o certo ou o errado, o intuito não é polemizar (se bem que daria um texto inteiro e enorme sobre isso). Eu me restringirei a dar apenas um conselho: evite ao máximo a Praia da Tiririca para surfar, principalmente se você estiver de carro.
De carro, meu amigo, fuja do fuzuê das praias de fácil acesso. Tem tanta opção melhor de surf, tanto de onda e, sobretudo de crowd, que faz a Tiririca ficar até sem graça. Com trilha, sem trilha, com infraestrutura, sem infraestrutura, faixa curta de areia, faixa longa, ondas gordas, cavadas, etc. Ou seja, se você vai de carro e se estressa no surf na Tiririca, é porque quer.
Bom, quem for sem carro, há opções de ônibus de linha, para os de menos recursos, mas andar de bus e prancha não costuma ser muito confortável. Tem as excursões diárias com as empresas de turismo, com guias e tudo mais. Não é barato, mas é uma opção para quem está afins de conhecer os picos mais distantes.
Voltei pra Salvador em 24/12, véspera de Natal, de cabeça feita e muito feliz em ter feito a escolha certa de destino e, sobretudo, na época certa. Altas ondas todos os dias, muito bem instalado, bem atendido em quase todos os estabelecimentos comerciais que frequentei e a certeza de que voltarei novamente em breve. Depois do Natal, até 15/1, desaconselho qualquer pessoa a viajar em busca de sossego e surf com pouco crowd.
Gostaria de agradecer à receptividade, não só dos nativos, mas de todos que tem tentado fazer de Itacaré um lugar próspero, de paz e organizado. Sei que tem muita gente com algumas histórias negativas sobre a cidade, mas qual cidade hoje não tem seus problemas, não é verdade?