Trestles inesquecível

Armando Daltro relembra vitória marcante contra Kelly Slater em Trestles, palco da próxima etapa do CT


Lower Trestles recebe a próxima etapa do CT. Foto: WSL / Kirstin.


Esta semana, começa o período de espera (6 a 17 de setembro) da oitava etapa do Championship Tour, em Trestles, Califórnia (EUA).

Com as primeiras posições bem emboladas e a briga pelo título da temporada ainda aberta, essa etapa promete ser um show de surf, principalmente pela qualidade da onda de Trestles, que é um verdadeiro parque de diversões para surfistas de todos os níveis.

A onda quebra em cima de uma bancada triangular de pedras redondas e lisas (seixo), proporcionando direitas e esquerdas perfeitas. A direita é mais longa do que a esquerda, e na maioria dos dias é a onda com maior potencial de manobras, mas, dependendo da direção do swell, a esquerda poderá ter sua parede mais em pé, proporcionando manobras mais radicais.

Conheci Trestles quando fui competir em Huntington Beach pela primeira vez, num WQS, isso em 1994. Apesar de ser longe - cerca de 40 minutos de carro de HB - e mais 20 minutos de caminhada até chegar ao pico, que está sempre bem crowdeado, independente do dia e tamanho das ondas, vale muito a pena. Nos anos seguintes, sempre ia treinar e experimentar pranchas novas nas pistas de Trestles.

Em 2000, fui disputar a 11a etapa do WCT (atual CT), e logo na primeira fase do evento, minha bateria seria contra Kelly Slater e CJ Hobgood. Kelly, após seis títulos mundiais, havia escolhido apenas algumas etapas para disputar na temporada, tirando o ano para descansar, mas nessa etapa, em especial, mandou fazer uma prancha Al Merrick e bermuda Quiksilver idêntica a do seu primeiro título como profissional naquela mesma praia.

No dia da disputa, muito sol, praia lotada, ondas de 1 metro perfeitas, dois americanos e um brasileiro desconhecido para a maioria do público. Kelly foi ovacionado pelos presentes quando apareceu para entrar na água.

A bateria iniciou e fui logo abrindo a disputa com uma onda intermediária para a direita que rendeu boas manobras e uma nota quase excelente. CJ também pegou uma e ficou um pouco atrás do placar. Kelly, com toda a paciência do mundo, ficou sentado bem no outside aguardando a série.

Tanto eu como CJ pegamos outra série intermediária e conseguimos notas boas. Nesse momento eu liderava a bateria com uma certa folga. Então, Kelly pegou uma da série e fez a melhor nota da bateria até o momento. Do meio para o fim da bateria, as séries ficaram cada vez mais demoradas. Tentei surfar outra onda intermediária, mas não troquei de nota.

Faltando pouco mais de 1 minuto, eis que aparecem duas ondas no outside. Kelly, melhor colocado, deixou passar a primeira, que CJ pegou. Kelly remou para a onda de trás, e precisava de uma nota entre regular e boa, já que tinha uma onda excelente. Remei forte em direção à onda e aguardei  a definição do lado que ele iria. Já de pé na prancha, ele fez a curva para a direita, deixando a esquerda livre para mim. Nesse momento, não pensei duas vezes. Remei para entrar na onda, dropei e consegui dar quatro batidas de backside. Quando terminei, não tinha noção do que Kelly havia feito em sua onda, mas tinha certeza de que eu tinha surfado uma boa onda e que trocaria a minha nota mais baixa, ampliando o meu somatório.

Já sobre as pedras, na expectativa das notas, o locutor foi informando os scores: CJ havia feito uma nota boa e melhorado o somatório, passando de segundo para primeiro. Em seguida, a nota de Kelly, que foi boa e o suficiente para ir de terceiro para primeiro na bateria. Porém, faltava a minha nota. Meu coração estava acelerado pelo desgaste da bateria, principalmente pela expectativa do resultado,  e então veio o anúncio da minha pontuação e da virada do resultado a meu favor. Saí das pedras com um sorriso enorme de tanta felicidade. Kelly, que estava sendo muito assediado ao término da bateria, me cumprimentou com um aperto de mão. Foi a minha primeira e única vitória contra Kelly na minha carreira, fato que guardarei com muito orgulho pelo resto da minha vida.

Voltando para 2017, acredito que Jordy Smith, John John Florence, Filipinho, Gabriel Medina, Mineirinho, Mick Fanning e Julian Wilson são os favoritos para levar a etapa, mas é claro que o surf sempre reserva algumas surpresas e só acompanhando o evento para ter a real noção de como cada atleta estará se adaptando às condições e se seu equipamento está ou não encaixado em cada dia do evento.

Façam sua apostas e até á próxima.

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