Memórias de Teahupoo
Armando Daltro revela primeira experiência em Teahupoo e faz suas apostas para etapa do CT
Teahupoo, Tahiti, sedia a sétima etapa do Championship Tour. Foto: Aleko Stergiou. |
Nesta sexta-feira será aberta a janela de espera de uma das etapas mais esperadas do CT, em Teahupoo, Tahiti. Será a sétima etapa da temporada. Essa onda é bastante cobiçada pela maioria dos tops, mas também temida por alguns deles. Você pode pegar o tubo da vida ou o pior caldo, em fração de segundos.
A corrida pela liderança do ranking está acirrada. Depois da sexta etapa, ao menos 8 surfistas mantêm chances de brigar pelo título, 5 deles podendo sair do Tahiti como novo líder da temporada.
A minha primeira experiência com a onda de Teahupoo foi no CT de 1999. Chegamos à noite e não pude ver o mar e o tamanho das ondas. Estava com o amigo e companheiro de tour Fabio Gouveia. Ele já havia surfando lá e iria me apresentar o pico. Fabinho falou que teríamos que chegar no escuro para pegar algumas ondas sem crowd.
Sendo assim, acordamos às 4:30h da manhã, pegamos as pranchas e saímos correndo em direção ao fim da rua. Depois de 10 minutos de corrida leve, estávamos remando em direção ao outside por um canal sem nenhuma onda.
O tempo de remada é de mais ou menos 20 minutos até o pico. Só dava para enxergar cerca de 5 metros a nossa frente, e imaginávamos que seriamos os primeiros no pico. Pelo barulho das ondas e balanço do mar, Fabinho chutou que teria uns 6 a 8 pés na bancada.
Depois de alguns minutos remando sem parar e com os braços já pegando fogo, eis que começamos a ver as espumas quebrando na bancada mais ao fundo. O vento estava zero, o mar completamente liso. Resolvemos remar mais devagar, aguardando uma melhor visualização das ondas.
Nesse momento, para a nossa surpresa, uma onda quebrou mais para o outside, e após a baforada, eis que escutamos um grito e visualizamos um surfista e sua prancha saindo por trás da onda. Incrível! Os caras estavam surfando praticamente no escuro.
Fabinho tratou de remar em direção ao pico e eu fiquei no canal por alguns minutos. Logo na série seguinte, os dois surfistas que já estavam no pico desceram uma onda cada um, colocando para dentro e saindo na baforada aos berros.
Já Fabinho não teve a mesma sorte, e em sua primeira onda, dropou atrasado, despencou e teve sua prancha partida ao meio.
Fiquei chocado e sem saber o que fazer. Remei de imediato pelo canal em direção a ele para ajudá-lo a sair do mar, mas ele foi logo dizendo: “Tem altas ondas, fique aí que eu vou sair com esse pedaço de prancha e vou na casa pegar outra".
Voltei para o fundo e fiquei observando pelo menos uns 10 minutos os dois australianos pegarem alguns tubos, até que eu decidir experimentar a potência daquela onda. Iniciei dropando mais para o canal, mesmo assim, a onda é muito rápida e cavada. Você tem que remar decidido e dropar. Se pensar em desistir, já era, vai voando para a base da onda.
Depois de dropar duas ondas com êxito, mas sem entubar, fui um pouco mais para dentro da bancada e peguei meu primeiro tubo numa onda de uns 6 pés, drop animal de grab rail. A onda estava muito oca e com a parede fazendo uma curva no fim do tubo, um visual alucinante do dia clareando.
Uma pena que alguns minutos depois dessa onda, o vento começou a soprar, e o mar, que estava épico, começou a piorar. Além disso, os barcos com inúmeros competidores começavam a chegar sem parar. Ficou impossível pegar outro tubo naquela manhã.
Voltando para 2017, acredito muito num bom desempenho dos brasileiros, cada vez mais acostumados com as ondas de Teahupoo - Gabriel Medina, Mineirinho, Wiggolly Dantas, Italo Ferreira, Jadson André e Miguel Pupo são os mais experientes. Já Ian Gouveia e Caio Ibelli poderão surpreender pela atitude e experiência em outras ondas tubulares.
Filipe Toledo, ainda não teve uma performance à altura do seu surf numa onda como Teahupoo, mas tudo tem a sua primeira vez e eu não irei me surpreender se, já neste ano, ele mostrar mais atitude e conseguir um bom resultado lá.
Entre os gringos, John John é o grande favorito, mas outros como Owen Wright, Jordy Smith, Matt Wilkinson, Mick Fanning, Julian Wilson, Jeremy Flores, Adrian Buchan, Michael Bourez serão grandes candidatos a levantar o caneco.
Todos sentirão a falta de Kelly Slater no evento deste ano, sempre um dos favoritos e um dos únicos a proporcionar momentos inovadores.
Bom, vamos torcer para que, independente do vencedor, o evento aconteça novamente em ondas grandes e perfeitas, para que os melhores surfistas do mundo da atualidade mostrem toda a sua coragem e técnica, numa das ondas mais cascas grossas do mundo.