Teahupoo perfeito e faltando poucos segundos para acabar a bateria. Slater tem a prioridade e Ricardo precisa de uma nota quase perfeita. O jogo parece ter terminado, mas uma onda aparece no horizonte com Kelly na prioridade e puxa o bico. Ricardo dos Santos dropa vertical, entuba muito fundo por vários segundos e sem que ninguém acreditasse, sai com a baforada e com os braços para cima comemorando. Ricardinho era o primeiro brasileiro a vencer Kelly Slater naquelas condições.

Nesse mesmo campeonato foi o vencedor das triagens e do prêmio Andy Irons Award. Ainda ganhou o trials por mais um ano e prêmio pela melhor onda do inverno havaiano, superando vários nomes de peso no surfe mundial.

Na porta do hospital uma mãe grita desesperada: "É mentira, é mentira, quero ver o meu filho".

Infelizmente, a senhora Luciane não terá mais a oportunidade de ver, abraçar, conversar com o seu filho, assim como eu e toda a torcida brasileira não poderemos mais ver as performances de um dos três maiores tuberiders do Brasil, porque Luis Paulo Bentrano, alguém que teoricamente seria um agente da lei com função de proteger a população através do nome da Polícia Militar, assassinou covardemente Ricardinho com três tiros.

Tive contato com Ricardo dos Santos apenas duas vezes. Uma quando no WCT do Rio conversamos sobre o bate volta que ele fez para o Tahiti, onde pegou, na definição dele mesmo, a onda da sua vida. Uma massa de água imensa em um tubo que cabia um ônibus.

A outra foi pelo Facebook, quando ele curtiu um texto que fiz de surf e eu falei, quem sabe você não pega Slater e Fanning em Pipeline e facilita o título mundial para Medina?

Uma costela trincada custou o campeonato, mas ele acabou sendo o mais votado surfista para o capítulo perfeito, um campeonato de tubos, sua especialidade. Só que este ele vai competir no céu...

20 de maio é o aniversário do meu filho, Christian e também o de Ricardinho. Nesse ano vou comemorar em dobro em homenagem a minha família e a família dos Santos.