O bom localismo

Fabrício Fernandes lembra de incidente com Kleber Batinga que serve de exemplo para muitos surfistas


Há alguns anos, quando comecei a escrever meus textos de surf, um cara sempre fazia comentários elogiando muito, e a gente sempre tentava marcar um surf e não conseguia. Esse cara era Kleber Batinga. 

Em um dia de ondas clássicas numa bancada de pedra em frente às nossas casas, eu surfava praticamente sozinho porque Cacau, Rodrigo Barreto, Rasta, Jairo Flores, Leo, Fernando Lobinho e Virgílio Sancho já haviam feito a cabeça e saído do mar.

Além de mim, o único cara na água era um longboarder que estava bem longe.  Eu não acreditava naquilo: um metrão liso, extenso, para os dois lados, e eu estava sozinho na água!

Quase uma hora depois, quando eu não aguentava nem mais bater na água de cansaço, veio uma direita bem rápida e dropei com tudo para passar a parte espumada. Tudo foi tão rápido que não percebi o que acontecia.

De repente, quando dei conta, tinha um longboard na minha frente dando um cutback e eu a 200 por hora sem freios. Bum, me choquei com ele violentamente. Subi ainda sem entender o que tinha acontecido. Vi que não tinha acontecido nada comigo, fora a surpresa, e quando procurei o cara ele estava mais assustado do que eu, pedindo mil desculpas e que não tinha me visto.

Foi então que resolvi checar a prancha, e para minha tristeza duas das quilhas FCS de epóxi novinhas foram arrancadas junto com os copinhos da minha prancha. Eu não sabia se chorava por conta das quilhas ou das ondas que iria perder no dia seguinte!

Saí do mar sem falar nada, bem triste, e o cara me acompanhou até a areia pedindo mil desculpas. Quando nos apresentamos, descobrimos que éramos as duas pessoas que há tanto tempo tentavam marcar um freesurf e não conseguiam. Klebão e Fabrício. Eu não sabia se ria ou se chorava. E o mais irônico foi que sua esposa havia fotografado tudo!

Fui para casa andando em uma tristeza imensa, pensando no acontecido.

No fim de tarde, recebo uma ligação de Klebão para passar na casa dele porque tinha um jogo de quilhas havaianas me esperando. Não acreditei naquilo. Na hora mudei meu humor.

À noite, quando cheguei em sua na casa, vi suas fotos no Havaí, ouvi suas histórias desde os anos 60 e ficamos bons amigos.

Quando conversamos, ele me disse que ficou espantado por eu não ter tido uma única reação violenta, e que se comoveu com minha tristeza. Rimos muito daquilo e no dia seguinte acabamos caindo juntos. Tive que cair de 6'8, mas com quilhas havaianas. Claro, só pedi para ele ficar um pouco afastado de mim. Não custava prevenir, né? (risos).

Longa vida ao amigo e legend Kleber Batinga!

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