Fundamentos do surf
Fabrício Fernandes critica surfistas que priorizam as manobras inovadoras e esquecem dos fundamentos
Havia acabado de sair do mar e, junto com meu amigo André Frederico, fiquei observando um garoto da nova geração surfando no posto 9 do Recreio. Esse garoto descia a onda, mal dropava e já queria decolar, tentando diversos tipos de aéreos, como se estivesse no skate. Olhei para André e comentei que estava tudo errado. A leitura da onda, a abordagem dela estava errada!
Ele dropava, não fazia o carving, não ia na base e do meio da onda para cima apontava o bico, saltando sobre o lip. Fiquei pensando nos fundamentos do surf e como diversos brasileiros no passado ganhavam tudo no WQS e paradoxalmente tinham enormes dificuldades de adaptação ao WCT.
Mas, qual era a dificuldade se eles surfavam muito? Simplesmente abordagem da onda: leitura, harmonia, execução dos movimentos básicos, estilo. Tudo isso parece muito simples quando falamos, mas se em algum momento da vida atropelamos esse aprendizado, ficamos "capengas" no surf.
E era assim que aquele garoto surfava. Era leve, solto, mas não tinha sucesso nos aéreos e o seu backside se tornara muito limitado.
Para ilustrar o que digo, vou citar outro exemplo. Lembro-me de um surfista famoso das categorias Master e Grand Master em Salvador que, quando o mar estava pequeno, tinha enorme facilidade de apontar sua prancha do meio da onda para cima e decolar. Vi esse cara ganhar muitos campeonatos assim, mas quando chegou na etapa do Brasileiro Master em Stella Maris, com essa mesma fórmula, ele perdeu de cara!
O que aconteceu? Sem desmerecer os juízes baianos, os critérios desse campeonato eram outros, mesmo porque os adversários eram nomes como Armando Daltro, Christiano Spirro, Jojó de Olivença, Victor Ribas e Ricardo Tatuí, entre outros. Caras acostumados com o circuito mundial e que tinham uma abordagem diferente da onda. Bottom turns, carvings, off the tops, round house cut backs, rasgadas estilosas e com muita água para cima eram realizadas em perfeita sincronia com a onda.
Esse é o ponto-chave que as atuais gerações precisam entender. É olhar para Jordy, Medina, Slater e perceber que as manobras modernas são muito bem executadas porque eles sabem fazer o básico de forma excelente. Treinaram exaustivamente e tiraram nota máxima nos fundamentos do surf.
Quem não lembra de Tom Curren, Fábio Gouveia e, hoje, Joel Parkinson? O que esses três têm em comum além de serem fenômenos? Estilo, harmonia, precisão. Quando executam as manobras, nada está fora do lugar. Braços, pernas, prancha, tudo está em sincronia!
Com certeza as manobras inovadoras chegaram para ficar, mas, se você não consegue realizar um cut back com perfeição ou aquela cavada de back seguida de uma rasgada redonda jogando muita água, tenha certeza de que ainda não é a hora de tentar os aéreos. Vá com calma!