Sempre preparado

Bodyboarder e preparador físico Rafael Ribeiro conta sobre sua recente trip para Mentawai


Este texto é para todos aqueles que assim como eu, são esportistas na essência: ou seja, vivem o esporte no dia a dia. Vou descrever a minha primeira surf trip para Mentawai (quarta vez na Indonésia), que acabei de fazer e o quão importante é você se manter preparado constantemente. Planejamento, foco, disciplina e muito espirito "go for it" (vá e faça).

Pratico esportes desde os meus 5 anos. E a lista é vasta: Karatê, hipismo, vaquejada, basquete, natação, futebol (de campo e futsal, assim como a maioria dos brasileiros peladeiros), judô e surfe, mas me encontrei mesmo em 2 modalidades: bodyboard (comecei aos 12 anos) e o jiu-jítsu. No jiu-jítsu fui atleta profissional durante alguns anos, até que me formei em Educação Física e passei a atuar como treinador. Desde o início da minha carreira como treinador, me posicionei no mercado me especializando em prepararão esportiva e trabalhando focado em atender atletas amadores e profissionais dessas duas modalidades: Surfe e Jiu-jítsu.

Mesmo após deixar de ser atleta profissional, continuei com quase a vida que levava. Porém, agora mais no sentido de usar o que fazia como exemplos para os demais e fato esse, que acabou se constituindo como um lifestyle e que em sequência virou propósito de vida. Coloquei como meta anual realizar três surf trips no ano em momentos diferentes. Então, o primeiro passo foi analisar as condições de ondas mundiais favoráveis ao meu gosto pessoal: tubos curtos e rápidos. O segundo passo foi definir as datas de acordo com o meu calendário de trabalho, que gira em torno das competições de jiu-jítsu. O terceiro passo foi organizar e planejar todas as três viagens.

Para o ano de 2020, havia escolhido a primeira em Iquique, no mês de fevereiro, a segunda na Indonésia, nos meses de junho e julho e a terceira para Nicarágua em outubro. Na primeira do ano tudo certo. A região de Iquique, no Chile, é espetacular e concentra vários slabs num espaço de 2 kms. Ao voltar para o Brasil no início de março, eis que surge a tal da Pandemia do Covid-19 e muda os planos de todos os habitantes do planeta. Estava morando em São Paulo e então me mudei para a Bahia e pensei junto com minha esposa, vamos passar um tempo na frente da praia até essa situação normalizar.

Mudamos então para uma praia do Litoral Norte de Salvador, chamada Itacimirim, no dia 17 de março. Nessa altura, ainda pensava que a situação se resolveria em dois ou três meses e que a segunda viagem para Indonésia estaria segura. Passei alguns dias imaginando que essa seria a melhor temporada na Indonésia, em decorrência do pouco crowd. Adaptei então todo meu treinamento a nova realidade que contava com a praia na frente e pelo menos uma sessão na água por dia.

Os dias foram passando, as semanas e os meses também. A situação da Pandemia só piorava e nem apresentava perspectivas de melhoras. Chegando mais ou menos no mês de agosto, quando alguns membros da minha família testaram positivo para o covid, tive a certeza que desistir das outras duas viagens era a melhor opção para minha saúde e também para minha cabeça, que alimentava ainda algumas esperanças.
Curiosamente, por outro lado, a frustração de não viajar deu espaço a gratidão. Isso porque, curiosamente, esse foi um ano especial de ondas no litoral da Bahia, assim como em vários outros lugares, e eu estava na água quase todos os dias. Até mesmo em dias de mares storms. Na minha cabeça, nesses dias, eu treinava ao invés de surfar. E assim o ano foi passando: surfando, treinando e usando todas as estratégias da ciência esportiva para me manter focado em estar sempre na minha melhor perfomance dentro da água.

No dia 23 de outubro, uma sexta-feira à noite, um velho amigo me faz uma ligação dizendo que estava em Bali. Na conversa, que durou uma hora, ele me explicou como havia feito e disse que entraria um excelente swell e que ele estaria indo para Mentawai. Passei a noite meio sem dormir e no sábado de manhã minha mulher me pergunta: “você dormiu mal né, você está afim de ir?” E eu respondi que não sabia. Na sequência ela pergunta novamente: “e qual a dúvida?” E eu disse que era uma viagem que não havia planejado e eu como treinador, sei que a falta de planejamento aumenta os riscos em todos os sentidos: da probabilidade de leões, até o custo financeiro. E então, ela fala algo que sempre digo aos atletas: Você está pronto! Realmente, havia me preparado o ano inteiro, mas dessa vez não com um objetivo específico, e sim para todos os dias.

No sábado mesmo, dia 24/10, liguei para meu amigo e disse que iria passar o dia organizando tudo! No domingo, dia 25/10, embarquei rumo às Ilhas Mentawai. Usei todo conhecimento científico de fisiologia, mais todos os anos de experiência para fazer uma viagem que duraria 5 dias ao todo e ao chegar em Lances Right, encontrar as ondas com um sólido swell de talvez mais de 10 pés na série. Passamos uma semana na região de Ht´s no Hollow Trees Resort e depois mais uma semana em Playground´s no Kandui Resort. O resultado foi uma viagem espetacular, num ano completamente atípico, sem crowd, com sessões incríveis e que vocês vão conferir nas fotos e vídeos.

Agora estou voltando para casa com aquele sentimento que somente quem vai para Indonésia alguma vez sabe o que representa. É meio que uma mistura de missão cumprida, com gratidão e uma eterna saudades que ficarão na minha memória pro resto da vida.

Para finalizar, vou usar um termo na língua local de Mentawai que significa obrigado e que representa o meu sentimento de poder passar esses 15 dias por lá!

Massura Bagatta!

* @rafaribeirojj é preparador físico, bodyboarder e faixa preta em Jiu Jitso

 
 
 
 
 
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