
Freire, baiano tomado
Márcio Freire relembra sessão inesquecível em Jaws, Hawaii
Por: Redação SurfBahia
Poucos surfistas tiveram a ousadia de encarar as temidas ondas de Jaws na remada. Um deles é o baiano Márcio Freire, 32, soteropolitano residente no Hawaii há vários anos.
Depois de competir durante 11 anos, Freire passou a encarar o big surf e vem honrando a Bahia junto a nomes como Danilo Couto e Yuri Soledade. Há nove anos domando as morras, Márcio Freire também costuma praticar paddleboard e canoas havaianas. "É pra manter o contato com o oceano, estar perto da cultura do Hawaii e ficar forte para encarar grandes ondas", diz o big rider.
O atleta revela que aprendeu a surfar em 1985, aos 9 anos, na Vila de Barra do Pote, ilha de Itaparica. Depois, passou a freqüentar as ondas do Barravento, pico situado no litoral sul de Salvador.
No dia 14 de fevereiro deste ano, exatamente 11 meses depois de ter estreado em Jaws, Márcio Freire protagonizou momentos cabulosos em um dos principais points do big surf mundial. Com uma atitude insana, ignorou a grande quantidade de tow-surfers e jet-skis na água para encarar as bombas na remada.
Em depoimento exclusivo ao Surfbahia, Freire revela sua história em Jaws e relembra toda a adrenalina envolvida no inesquecível swell.
"No dia 14 de março de 2007, Danilo Couto e Yuri Soledade resolveram surfar Jaws remando e botaram a maior pilha para eu ir. Eu não queria, pois, para mim, surfar Jaws remando era só conversa para boi dormir. Ir surfar num lugar com um monte de jet-ski, sem areia na beira, repleto de pedras escorregadias e um shore-break chato de encarar devido às pedras, era uma sessão falida na minha concepção.
Mas, terminei indo. Naquele dia, antes de chegar ao "cliff" de Jaws, eu estava totalmente chateado pelo fato de estar indo para lá, mas assim que alcancei o topo do cliff, fiquei impressionado com a perfeição das ondas. Naquele momento, em cima do cliff, já comecei a me concentrar, pois as ondas eram grandes e perfeitas. Minha primeira sessão em Jaws foi perfeita. Peguei uma onda enorme e entubei, mas não senti que tinha entubado. Aquilo foi chocante pra mim.
No ano passado, a onda que surfei em Jaws tinha muitas chances de participar do Billabong XXL, mas ficou de fora. A Surfermag discordou e exibiu uma matéria a respeito do "Monster paddle in Jaws".
Depois daquele dia histórico, eu só voltei ao pico em 10 de janeiro deste ano, e peguei apenas uma onda na qual vaquei em um drop atrasado e trinquei a prancha. Minha sessão se resumiu a uma onda, mas foi suficiente para sair na capa do Waves, em foto registrada por Bruno Lemos.
Bom, depois desse dia, numa sexta-feira eu estava trabalhando no Fish Market e encontrei o Sean Ordonez, fabricante de pranchas de surf. Quando falei com ele a respeito do que tinha acontecido no dia anterior, ele me ofereceu um desconto grande numa gun para que eu podesse continuar surfando por lá. Paguei apenas US$ 200 em uma prancha no valor de quase US$ 1 mil.
No dia 14 de janeiro, depois de três dias que encontrei o Sean, a minha 10'5 e meio com quatro quilhas já estava pronta para ir à água. Essa prancha caiu na hora certa, pois tive um mês para treinar com a prancha em ondas pequenas e surfar um dia em Ho'okipa com ondas fechando de 10 pés. Esse último surf que fiz em Ho'okipa foi suficiente para comprovar que a prancha iria funcionar.
Depois de ter surfado em Jaws pela primeira vez, no dia 14 de março de 2007, recebi minha prancha no dia 14 de janeiro de 2008 e o swell apareceu de novo, no dia 14 de fevereiro. Quatorze, quatorze, quatorze - coincidência monstra!
Na noite anterior ao swell, já sabia que não iria ter meus amigos compartilhando o pico. Yuri estava sem o equipamento certo e preferiu se jogar de tow-in nas direitas de Jaws. Danilo resolveu ficar no North Shore de Oahu para remar no out reef de Phantons, que também estava gigante na remada.
Naquela noite, marquei com duas pessoas para surfar as esquerdas de Jaws. Uma delas foi o meu atual patrocinador de prancha, o Jean Ordonez, e a outra foi um amigo carioca, o Thiago. Ele iria pra lá de carro, e se fosse com ele teria de descer o "cliff", encarar as pedras e ondas na beira e depois remar dando a volta no pico das direitas para poder chegar até as esquerdas.
Se fosse com o Sean, iria de ski da pequena baía de Maliko até o pico das esquerdas, o que seria muito fácil, e mais seguro. Minha decisão foi a de ir com Thiago, pois a visão que se tem de cima do cliff é fundamental para a leitura do swell. E também porque todo este processo de chegar em cima do penhasco, preparar a prancha olhando as ondulações, descer pela trilha segurando uma corda para não despencar do penhasco, se atirar pelas pedras e remar até o outro lado para encarar as esquerdas... são momentos de reflexão, foco e absorção de todas as energias que englobam aquele lugar mágico.
Na manhã do swell, o despertador não me acordou às 5, e só fui acordar às 6h38. Levantei da cama rapidamente, liguei para o Sean e para Thiago. Sean também tinha acabado de acordar e Thiago já estava saindo. Pedi pro Thiago me esperar e avisei pro Sean que preferia ir pelo cliff e me encontraria com ele por lá. O Sean era a pessoa que iria ficar fazendo a segurança da sessão, mas ele só foi chegar por lá do meio pro final da sessão.
Ou seja, do início para o meio da sessão, não tinha ninguém para poder ajudar no caso de algum acidente ou afogamento. Do outro lado só havia uma dupla de tow-in sozinha nas direitas e um jet-ski filmando a dupla.
Naquela manhã de quinta-feira, ventou forte na babilônia do big surf, mas, graças à Mãe Natureza, não deu merda. Foram grandes emoções nas ondas surfadas. Já cheguei ao pico pegando ondas e tendo sucesso nos drops. Não acreditava que tinha todas aquelas ondas só pra mim. O Thiago não estava confortável com a prancha e preferiu ficar só olhando. Dou muito crédito a ele pela atitude de ter me acompanhado nessa sessão épica, em ondas enormes.
Surfei várias bombas; vaquei em duas, tomei na cabeçaa e finalizei a sessão em êxtase. O dia foi perfeito, pois além de surfar ondas enormes em Jaws, ainda finalizei meu dia entubando de backside em Honolua Bay.
Vale ressaltar que não fui pra lá pensando no Billabong XXL, ou pra ganhar fama ou qualquer coisa parecida com isto. Eu sou "underdog", ou seja, não estou nas revistas de surf, nem mesmo sou pago pra surfar ondas grandes. Isto que é o melhor de tudo... tudo por paixão a este segmento do surf que me traz muita felicidade e vontade de continuar vivendo em busca de grandes emoções na água".
Depois de competir durante 11 anos, Freire passou a encarar o big surf e vem honrando a Bahia junto a nomes como Danilo Couto e Yuri Soledade. Há nove anos domando as morras, Márcio Freire também costuma praticar paddleboard e canoas havaianas. "É pra manter o contato com o oceano, estar perto da cultura do Hawaii e ficar forte para encarar grandes ondas", diz o big rider.
O atleta revela que aprendeu a surfar em 1985, aos 9 anos, na Vila de Barra do Pote, ilha de Itaparica. Depois, passou a freqüentar as ondas do Barravento, pico situado no litoral sul de Salvador.
No dia 14 de fevereiro deste ano, exatamente 11 meses depois de ter estreado em Jaws, Márcio Freire protagonizou momentos cabulosos em um dos principais points do big surf mundial. Com uma atitude insana, ignorou a grande quantidade de tow-surfers e jet-skis na água para encarar as bombas na remada.
Em depoimento exclusivo ao Surfbahia, Freire revela sua história em Jaws e relembra toda a adrenalina envolvida no inesquecível swell.
"No dia 14 de março de 2007, Danilo Couto e Yuri Soledade resolveram surfar Jaws remando e botaram a maior pilha para eu ir. Eu não queria, pois, para mim, surfar Jaws remando era só conversa para boi dormir. Ir surfar num lugar com um monte de jet-ski, sem areia na beira, repleto de pedras escorregadias e um shore-break chato de encarar devido às pedras, era uma sessão falida na minha concepção.
Mas, terminei indo. Naquele dia, antes de chegar ao "cliff" de Jaws, eu estava totalmente chateado pelo fato de estar indo para lá, mas assim que alcancei o topo do cliff, fiquei impressionado com a perfeição das ondas. Naquele momento, em cima do cliff, já comecei a me concentrar, pois as ondas eram grandes e perfeitas. Minha primeira sessão em Jaws foi perfeita. Peguei uma onda enorme e entubei, mas não senti que tinha entubado. Aquilo foi chocante pra mim.
No ano passado, a onda que surfei em Jaws tinha muitas chances de participar do Billabong XXL, mas ficou de fora. A Surfermag discordou e exibiu uma matéria a respeito do "Monster paddle in Jaws".
Depois daquele dia histórico, eu só voltei ao pico em 10 de janeiro deste ano, e peguei apenas uma onda na qual vaquei em um drop atrasado e trinquei a prancha. Minha sessão se resumiu a uma onda, mas foi suficiente para sair na capa do Waves, em foto registrada por Bruno Lemos.
Bom, depois desse dia, numa sexta-feira eu estava trabalhando no Fish Market e encontrei o Sean Ordonez, fabricante de pranchas de surf. Quando falei com ele a respeito do que tinha acontecido no dia anterior, ele me ofereceu um desconto grande numa gun para que eu podesse continuar surfando por lá. Paguei apenas US$ 200 em uma prancha no valor de quase US$ 1 mil.
No dia 14 de janeiro, depois de três dias que encontrei o Sean, a minha 10'5 e meio com quatro quilhas já estava pronta para ir à água. Essa prancha caiu na hora certa, pois tive um mês para treinar com a prancha em ondas pequenas e surfar um dia em Ho'okipa com ondas fechando de 10 pés. Esse último surf que fiz em Ho'okipa foi suficiente para comprovar que a prancha iria funcionar.
Depois de ter surfado em Jaws pela primeira vez, no dia 14 de março de 2007, recebi minha prancha no dia 14 de janeiro de 2008 e o swell apareceu de novo, no dia 14 de fevereiro. Quatorze, quatorze, quatorze - coincidência monstra!
Na noite anterior ao swell, já sabia que não iria ter meus amigos compartilhando o pico. Yuri estava sem o equipamento certo e preferiu se jogar de tow-in nas direitas de Jaws. Danilo resolveu ficar no North Shore de Oahu para remar no out reef de Phantons, que também estava gigante na remada.
Naquela noite, marquei com duas pessoas para surfar as esquerdas de Jaws. Uma delas foi o meu atual patrocinador de prancha, o Jean Ordonez, e a outra foi um amigo carioca, o Thiago. Ele iria pra lá de carro, e se fosse com ele teria de descer o "cliff", encarar as pedras e ondas na beira e depois remar dando a volta no pico das direitas para poder chegar até as esquerdas.
Se fosse com o Sean, iria de ski da pequena baía de Maliko até o pico das esquerdas, o que seria muito fácil, e mais seguro. Minha decisão foi a de ir com Thiago, pois a visão que se tem de cima do cliff é fundamental para a leitura do swell. E também porque todo este processo de chegar em cima do penhasco, preparar a prancha olhando as ondulações, descer pela trilha segurando uma corda para não despencar do penhasco, se atirar pelas pedras e remar até o outro lado para encarar as esquerdas... são momentos de reflexão, foco e absorção de todas as energias que englobam aquele lugar mágico.
Na manhã do swell, o despertador não me acordou às 5, e só fui acordar às 6h38. Levantei da cama rapidamente, liguei para o Sean e para Thiago. Sean também tinha acabado de acordar e Thiago já estava saindo. Pedi pro Thiago me esperar e avisei pro Sean que preferia ir pelo cliff e me encontraria com ele por lá. O Sean era a pessoa que iria ficar fazendo a segurança da sessão, mas ele só foi chegar por lá do meio pro final da sessão.
Ou seja, do início para o meio da sessão, não tinha ninguém para poder ajudar no caso de algum acidente ou afogamento. Do outro lado só havia uma dupla de tow-in sozinha nas direitas e um jet-ski filmando a dupla.
Naquela manhã de quinta-feira, ventou forte na babilônia do big surf, mas, graças à Mãe Natureza, não deu merda. Foram grandes emoções nas ondas surfadas. Já cheguei ao pico pegando ondas e tendo sucesso nos drops. Não acreditava que tinha todas aquelas ondas só pra mim. O Thiago não estava confortável com a prancha e preferiu ficar só olhando. Dou muito crédito a ele pela atitude de ter me acompanhado nessa sessão épica, em ondas enormes.
Surfei várias bombas; vaquei em duas, tomei na cabeçaa e finalizei a sessão em êxtase. O dia foi perfeito, pois além de surfar ondas enormes em Jaws, ainda finalizei meu dia entubando de backside em Honolua Bay.
Vale ressaltar que não fui pra lá pensando no Billabong XXL, ou pra ganhar fama ou qualquer coisa parecida com isto. Eu sou "underdog", ou seja, não estou nas revistas de surf, nem mesmo sou pago pra surfar ondas grandes. Isto que é o melhor de tudo... tudo por paixão a este segmento do surf que me traz muita felicidade e vontade de continuar vivendo em busca de grandes emoções na água".
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