Fissura na Espanha

Marcelo Magalhães revela as dificuldades enfrentadas pelos surfistas do Mar Mediterrâneo


Há 20 anos descobri o surf, e minha filosofia sempre foi ficar o maior tempo possível na água. Por isso, ficar longe das ondas era algo que nunca seria cogitado, independente das condições. Mas a vida passa e enfrentamos problemas e descontentamentos que nos fazem repensar sobre escolhas e oportunidades que batem na nossa porta, e uma dessas foi uma oportunidade profissional, em um país de Primeiro Mundo. Um alavanque incrível na carreira, mas... no Mar Mediterrâneo.

Para um surfista brasileiro que vive numa costa atlântica repleta de boas ondas e que mora em frente a uma delas, é uma escolha difícil. Em outros tempos, não teria 1% de interesse, mas as coisas mudam.

Aceitei a proposta me mudei para o Mediterrâneo, onde raramente tem onda, e para minha infelicidade, nunca estive disponível para ir quando as ondas estavam ali (Que coisa! Swell sempre foi minha prioridade máxima!).

E em cinco meses árduos vivendo aqui sem surfar, finalmente conheci um surfista, o qual me convidou para uma trip ao Atlântico Norte, e não pensei duas vezes, partiu! (Sim, com essa palavra. Não, ele não entendeu de primeira).

Largamos do trabalho às 14h de uma sexta-feira e partimos em direção às ondas. É incrível como o brilho nos olhos de um surfista muda quando está indo atrás de ondas! Brilho de paixão misturado com esperança de surfar (mais) uma onda inesquecível!

Sete horas de viagem em meio a paisagens lindas e rios muito verdes e cristalinos que contrastavam com uma arquitetura deslumbrante. Entre ruínas, montanhas e cidades, íamos avistando o Atlântico pouco a pouco e a ansiedade só aumentava. Pescoço de girafa para tentar enxergar as ondas, um olho na estrada, outro na série quebrando, já nos imaginando fazendo a linha naquelas ondas (coisa que todo surfista faz).

Chegamos na praia de Berria, no município de Santoña, às 21h, e fomos correndo ver as ondas (sim, ainda tinha luz!). Meio metro, vento lateral fraco, beach break, direitas e esquerdas de duas ou três manobras, e logo pensei: Estou em casa! Mas, 5 meses sem surfar, dá uma enferrujada.

Nesse momento eu tive mais certeza ainda de quanto o surf é vida. Os surfistas catalães viajam horas de carro para surfar ondas que, sinceramente, no Brasil eu pensaria duas vezes se iria surfar ou jogar videogame. Mas não, estávamos todos ali, amarradões em poder estar surfando!

Uma onda sempre faz a sessão valer a pena. Depois de pegar a primeira onda boa, já me senti realizado, como se aquelas 7 horas de viagem já tivessem valido a pena. E então descobri que ficar longe das ondas é muito difícil, mas é possível. Sou muito fissurado pelo surf, vários amigos criticaram minha decisão por conhecer minha filosofia, mas o que eu tenho a dizer é que, por uma boa causa, vale a pena. Mas que de imediato busque uma solução para o surf ser rotina, pois estou buscando há 5 meses e não a encontrei. Um dia encontro. Enquanto isso, de "baño" em banho conheço picos novos e tenho novas experiências pela Europa.

E quanto a você, que tem onda em seu quintal, surfe! Da marola a morra, esteja na água, pois a felicidade está ali. Estão nossas histórias e mentiras de bar, nossos amigos, nossa vida.

Meus sinceros agradecimentos a Nil, Adriana e Albert pela magnífica trip, e à galera da Watsay pelo acolhimento.

PS: Surfistas do Mediterrâneo: meus novos ídolos!

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