Paraíso das direitas
Armando Daltro se diverte com os alunos nos picos de El Salvador
Já fazia alguns anos que o amigo Júlio Boaventura me convidava para conhecer o paraíso das direitas da América Central. Seu entusiasmo falando deixava claro que o local possuía ondas perfeitas e constantes durante quase o ano inteiro. Minha única dúvida era se a trip iria contemplar meus alunos e amigos com um nível de surf entre iniciante e intermediário, mas Júlio deixou claro: "Tem canal, você entra de cabelo seco”. Essa foi a maior pegadinha da trip (risos).
Das praias visitadas, apenas o pico de Sunzal é acessível sem molhar o cabelo, mas existe a possibilidade de se fretar um barco e acessar os picos de Las Flores e Punta Mango sem precisar varar a arrebentação.
No início de outubro de 2016, decidi que iríamos para El Salvador e iniciei o meu trabalho de pesquisa de passagens, local de hospedagem, points de surf e custos da viagem. Depois de colhida todas as informações, decidi que viajaríamos em maio de 2017 e ficaríamos 5 noites em Punta Mango e as duas últimas em Sunzal, na região de La Libertad.
O grupo foi formado por alunos e amigos da AD Surf, num total de 16 pessoas, mais a família do grande incentivador Júlio, que foi o nosso anfitrião durante toda a viagem.
Depois de uma noite e mais meio dia de viagem, finalmente desembarcamos em El Salvador. Pegamos uma Van e viajamos por mais três horas até chegar à região de Punta Mango, onde fomos presenteados com um visual maravilhoso da costa sul salvadorenha, quase 100% virgem, com um belíssimo pôr do sol.
No dia seguinte, acordamos às 4:30h da manhã e fomos andando para o pico de Punta Mango. Para a nossa surpresa, ondas de 6 a 8 pés na série quebrando sem parar. No inside, as ondas ficam menores, mas dificultam a entrada dos menos preparados, principalmente de quem ainda não executa o "golfinho" ou "tartaruga" de forma perfeita.
No fundo, as ondas são perfeitas, o drop poderá ser difícil ou fácil, vai depender do ponto que você irá escolher ou até mesmo da sua remada e posicionamento em relação à onda. Eu achei bem tranquilo. A onda quebra sobre uma bancada de pedra redonda com partes de areia, proporcionando tubos, manobras variadas e muita diversão. Em menos de meia hora de surf, o crowd já tinha mais de 40 pessoas. Nessa queda, peguei um bom tubo e algumas ondas de várias manobras.
Nosso hotel, Punta Mango Surf Resort, ficava a cerca de 300 metros do pico. Podíamos monitorar as condições e o crowd sentado da área de alimentação ou até mesmo da piscina.
No segundo dia, as condições ficaram mais difíceis, séries maiores e o mar um pouco balançado. Mesmo assim, a maioria dos integrantes começou a ir se acostumando ao tamanho e tipo de onda diferente, e ia surfando as ondas intermediárias. Nesse dia, tivemos a surpresa de encontrar os integrantes da WSL Caio Ibelli e Josh Kerr treinando no pico. Os caras estavam voado alto e manobrando com muita força e velocidade. Fiquei impressionado!
No terceiro e quarto dias, optamos por conhecer a onda de Las Flores pela manhã e surfar em Punta Mango pela tarde. Fretamos dois barcos que nos recebiam em frente ao hotel e passavam pela arrebentação sem muita dificuldade. A galera estava se sentindo num evento da WSL, sendo levada de volta ao pico sem precisar remar.
A chegada em Las Flores foi perfeita: ondas de 3 a 6 pés e vento terral fraco, uma série atrás da outra e um número razoável de surfistas iniciantes e intermediário no pico.
Passei as primeiras orientações para a galera e me posicionei na zona intermediária da onda para incentivá-los, seja indicando as melhores ondas, o posicionamento no pico, ajustes da base, postura ou leitura da onda. Depois de quase uma hora, todos já haviam descido ao menos uma onda. Era a minha vez de experimentar o novo pico.
Remei para o fundo e busquei meu posicionamento em frente a uma pedra, pois já vinha observando uns tubos bem no outside. Nem cheguei a sentar na prancha e já avistei a série. Quase tomei a primeira na cabeça, mas remei forte já pensando na onda de trás, que, para a minha surpresa, era ainda maior. Respirei fundo e remei decidido. Dropei com um olho no lip e o outro no crowd que remava para não tomar a onda na cabeça. Decidi acelerar e colocar para dentro. O tubo rodou perfeito em minha frente. Fiquei encoberto por alguns segundos e sem saber o que encontraria na saída, mas deu tudo certo. Saí um pouco antes de o tubo terminar para evitar algumas pernas que estavam na parede escutando os gritos e aplausos da galera!
A onda de Las Flores foi escolhida como a melhor visitada entre os integrantes da AD Trip.
Nos dois últimos dias, ficamos ao lado da onda de Sunzal. Caíamos sempre bem cedo. Ondas de 4 a 6 pés perfeitos nos dois dias fizeram a alegria de todos, principalmente dos longboarders da barca. A onda não oferece tubo, mas tem um braço longo que oferece manobras no lip, principalmente rasgadas e cutback, emendando até o inside.
Visitamos os picos KM 59, 61 e Mizata, mas as condições não eram a ideais. A maioria da galera já estava exausta, e depois do sétimo dia de surf seguindo, era hora de arrumar as malas e voltar para a nossa querida Salvador, Bahia.
Agradecimentos: Adriano, Augusto, Daniel, Fabiana, Fernando, Francisco, Gilmar, Gustavo, Jorge, Marcus, Rodrigo, Rômulo, Sandro, Sérginho, Sivilan, Júlio Boaventura e família, Punta Mango Surf Resort e Monkey Lala.
Até a próxima, em 2018!