Vitória merecida

Nosso colunista Lalo Giudice comenta a vitória de William Cardoso em Uluwatu, na Indonésia


William Cardoso festejando sua primeira vitória na elite. Foto: WSL / Kelly Cestari


Não teve para ninguém, levamos mais uma etapa para casa. Agora são quatro vitórias em cinco eventos disputados no Circuito Mundial da WSL em 2018. Panda, Panda, Panda! Foi dessa forma que se encerrou na manhã de hoje o Margaret River Pro, 3º etapa da divisão de elite do surf mundial, que em razão de alguns ataques e aparições de tubarão nas proximidades de Margaret, foi finalizada em Uluwatu, na ilha de Bali, na Indonésia, e de forma mais que merecida, vencida pelo nosso guerreiro catarinense Willian Cardoso.

Willian foi acima de tudo surpreendente. Começou batendo seu amigo e rival de longuíssimas datas, campeão mundial Adriano de Souza no Round 3. Passou em segundo, atrás de Gabriel Medina no round 4, em uma bateria em que o 3º colocado Connor O´Leary tinha em sua onda backup, um 7,30. Nas quartas não deu chances a Filipe Toledo, que chegou a contestar em suas entrevistas o não entendimento de algumas pontuações em suas ondas. Na semi final mediu esforços com o “queridinho ozzie” e fortíssimo candidato a Rookie of the Year, Mikey Wright, até chegar a grande final, dessa vez com o "queridão ozzie" e novamente líder, Julian Wilson.

Para se ter uma ideia, a menor média do catarinense no evento foi obtido na sua estreia, ainda no Round 3, quando Panda totalizou 13,00 pontos em sua média final. A partir daí, fazendo uma escolha de ondas muito boas, além do link de manobras executado com bastante drive, Willian, que na “perna balinesa” do Circuito Mundial fez sua preparação com seu amigo e ex top do WCT, Marco Polo, soube aproveitar as paredes manobráveis e lisas do Race Track com muita força, fluidez e radicalidade.

Com a primeira colocação em Uluwatu, Cardoso da um salto e já esta em quinto lugar no ranking, surgindo como um fortissimo candidato a Rookie of the Year de 2018. Após 10 anos batendo na trave no QS, Willian, que ainda não perdeu em nenhum campeonato “de cara” este ano em eventos válidos pelo CT, deve permanecer na elite para 2019.

Filipinho Toledo, que foi parado pelo campeão da etapa ainda nas quartas, continua em segundo na ranking e segue com grandes chances de se tornar campeão mundial pela primeira vez em sua carreira. Mesmo não fazendo grandes apresentações em Uluwatu, a constância em mais uma 5º colocação é de suma importância para um atleta que sempre foi fadado pela sua inconsistencia e desapego a ondas de consequência. A próxima parada em Jefreys Bay será decisiva para o ubatubense, que no ano passado redefiniu as linhas a serem feitas nas desenhadas ondas sul-africanas, ganhando a etapa de forma incontestável.

Um dos favoritos a etapa e até então líder do ranking, o potiguar Italo Ferreira perdeu prematuramente ainda no Round 3 para um inspirado Michael Rodrigues. O surf é realmente o esporte com o maior número de variáveis e esta bateria mostrou muito bem isso. Quem diria que o atual líder do ranking, que vinha mostrando vídeos espetaculares nos treinos em Uluwatu, surfando de frente para onda, perdeu para um cearense que sempre foi tarjado por suas deficiências surfando de backside, ou seja, de costas para a onda. Seis etapas ainda estão por vir e Italo tem tudo para fazer o melhor ano de sua carreira.

Gabriel Medina perdeu mais uma oportunidade de decolar no ranking e ganhar a confiança necessária para o resto do ano. Como em etapas anteriores, protagonizou lampejos de genialidade, combinados a apagões e erros primários. As baterias de Gabriel são as mais angustiantes entre os brasileiros. Perdeu mais uma vez para Mikey Wright em uma bateria com pouquíssimas ondas e resultado pra lá de duvidoso. No final do embate, com algumas reviravoltas, Mikey precisava de 4,91 para virar o resultado, pegou uma esquerda pequena, errou todos os seus movimentos, além de completar um tubinho apertado. Os juízes avaliaram em 5,13, dando a virada para o queridinho australiano, que parecia que stava surfando com 10 kilos a mais em sua prancha. Só o Head Judge Pritamo Ahrendt que não conseguiu enxergar isso.

Mais um 5º lugar no ano para o fenômeno paulista, que tem seu melhor primeiro turno, vamos dizer assim, desde o titulo mundial de 2014.

Adriano de Souza, Yago Dora e Jessé Mendes perderam prematuramente ainda no Round 3. De Souza ainda não se encontrou este ano, tendo como melhor resultado uma 9º colocação. Yago perdeu no finalzinho em um embate para Filipe Toledo. Já Jesse Mendes perdeu para Kolohe Andino em mais uma bateria contestada em seu julgamento.

Um parentese é claro para falarmos do “queridinho” e do “queridão” da WSL, neste caso, Mikey Wright e Julian Wilson. O primeiro como todos já sabem, entrou no Tour sem um critério bem definido pela WSL, sem uma regra clara. Era Wildcard e agora está no jogo. Com dois terceiros colocados, já figura entre os top 10 e é uma das esperanças do seu país no Tour, já que a Austrália passa pela pior fase de sua história no quesito renovação, quando se fala de surf competição masculino. Mick Fanning se aposentou, Joel será o próximo, Matt Wilko entre os últimos do ranking e Owen Wright um exagero de inconsistencia, nos mostram o declínio da atual geração australiana no Tour. Já o “queridão” Julian Wilson, a grande esperança australiana no momento, surfa muito, porém temos a impressão que suas notas são sempre 0,5 a mais nas escalas mais que subjetivas dos juízes da entidade que rege o esporte, a WSL. Passou nas quartas em mais uma "bola dividida" com o grandalhão sul-africano Jordy Smith. Na semi fez a virada no finalzinho contra a eterna promessa norte americana Kolohe Andino, que em sua entrevista pós bateria, deu declarações nada satisfeitas com o julgamento do evento também. Já na final, Julian se tivesse mais cinco míseros minutos, tenho certeza que iriam dar a nota necessária pra esse super talentoso surfista, que não precisa de juiz nenhum em seus resultados, mas que coincidentemente ou não, é o maior vencedor de baterias controversas. Foi assim em Portugal contra Medina em 2012, no Hawaii em 2014, várias baterias marcantes duvidosas contra Jadson André por exemplo, e por aí vai.

Mas aí vai o velho, espirituoso e mais que verdadeiro bordão, Deus é justo. No país do misticismo, da divindade a seus deuses, venceram os precisados, os esperançosos, os que não desistem nunca, os brasileiros. Que venha J-Bay, com suas ondas perfeitas e limpas, que facilita a vida dos melhores surfistas do mundo, neste caso nós! Já se foi o tempo de sermos os reis dos beach breaks, da marola de vento, da onda ruim, isso não existe mais, é passado! E que em clima de Copa do Mundo, nossa seleção de surfistas estejam com suas caneleiras e chuteiras de birro a postos para qualquer "bola divida" que por ventura venha acontecer.

Pra quem não sabe como funciona o futebol no Brasil, pescoço pra baixo é canela!

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