Fim precoce

Nosso colunista Lalo Giudice comenta o desfecho inesperado no Margaret River Pro


A etapa de Margaret River foi cancelada devido aos ataques de tubarão na região. Foto: WSL


A terceira etapa do Circuito Mundial, o Margaret River Pro, não teve o desfecho que todos esperavam. Para nós, brasileiros, torcedores fanáticos e trabalhadores incansáveis, que esperavámos ansiosamente para acompanhar a transmissão ao vivo, que se estendia pela madrugada, o cancelamento do evento foi um banho de água fria.

Éramos oito brasileiros no terceiro round e a expectativa para uma vitória verde-amarela era imensa. Até que dois ataques de tubarão, em menos de 24 horas, nas proximidades de Margaret, fizeram a WSL inicialmente paralisar o evento feminino por uma hora, voltando ainda no mesmo dia, e dois dias depois, acertadamente, cancelar o evento no oeste australiano.

Tenho certeza que foi uma das maiores decisões, ou a maior, que a entidade já teve desde que se tornou Liga. A quantidade de drones monitorando a área, barcos de patrulha, alguns com sonda para afastar os tubarões, não foram suficientes para gerar a devida segurança para as estrelas do Dream Tour.

Tudo muito bem feito e organizado, visto que a frequência de aparições desses predadores por lá não é de agora. Em 1999, o brasileiro Victor Ribas foi literalmente expulso da água por um cardume de tubarões tigre que nadavam no canal. Nos últimos dois anos, também foram avistados alguns cardumes e baterias foram paralisadas. Sem contar as muitas histórias dos ex-tops Jake Paterson e Taj Burrow, locais da região.

O incidente com Mick Fanning em 2015, na África do Sul, fez a WSL se preocupar mais com essa questão. Poderiamos ter visto a maior tragédia da história do surfe ao vivo para o mundo todo naquela fatídica final. Diante disso, não existia possibilidade, nem clima para retomar o evento em Margaret.

Não dava para “pagar pra ver”. Todos sabem que o oeste australiano é infestado de tubarões, esta há apenas 10.000 km, aproximadamente, da África, ligados pelo Índico, com águas geladas e profundas. Segundo alguns especialistas, uma baleia morta também contribuiu para a aproximação desses predadores nas proximidades de Margaret River.

North Point foi o palco da primeira fase da etapa no oeste australiano. Foto: Divulgação WSL.


Não sei como será ou se teremos evento ano que vem ou nos próximos anos. A WSL sabe a importância do mesmo para o turismo e a comunidade local, que foram bastante afetados com estes ataques, e consequentemente, o cancelamento do Margaret River Pro. Realmente é uma pena! Às vezes me vejo pensando que a WSL, além de J-Bay e Margaret, deverá ter uma atenção especial nesses aspectos de segurança também para o Hawaii.

No ano passado, uma brasileira foi mordida por um tubarão tigre de 4 metros no canal de Laniakea. Alguns surfistas profissionais, como o nosso campeão brasileiro Bino Lopes e amigos, avistaram outro tubarão tigre a pouco mais de 20 metros em Rocky Point, também em dezembro.

Ex-top da elite, Bernardo Pigmeu já saiu de uma bateria do Mundial Pro Junior em Haleiwa devido a um tubarão martelo de 3 metros, que estava se alimantando no canal. Tenho certeza de que a WSL está pensando no Hawaii também, até porque é a perna mais importante do ano.

Voltando ao surfe e aos brasileiros, com a redistribuição dos pontos do Margaret River Pro, o potiguar Italo Ferreira permanece líder, juntamente com o australiano Julian Wilson. O brasileiro Gabriel Medina é o 7º colocado, melhor posição no ranking pós-perna australiana desde o titulo mundial em 2014. Filipinho e Adriano encontram se em 9º e 10º, respectivamente. Ambos têm tudo para reinar no Maracanã do surf brasileiro, Saquarema, palco da próxima etapa do Tour. Principalmente Adriano, que já venceu duas vezes em águas cariocas, porém uma de suas vitórias foi no Postinho.

Falaremos dos restantes dos brasileiros na véspera do Oi Rio Pro 2018, pois no oeste australiano o maior destaque foram os tubarões.

Estava aguardando terminar o campeonato para parabenizar o julgamento, que se fez impecável nos primeiros rounds. Conseguiram ajustar a escala nessa etapa e disputas de remadas mais agressivas são mais toleráveis no comando de Pritamo, com destaque para a bateria de Tomas Hermes e Jessé Mendes, onde chegaram a se cruzar, mas não houve danos para ambos e nada foi marcado.

Parabenizar também a decisão difícil da WSL em assegurar a integridade dos atletas. Diria que na vida que segue, que é o mais importante, nenhum atleta saiu prejudicado, mas no jogo, não!

O bicampeão mundial John John Florence, que via nessa etapa uma forma de chegar nas cabeças do ranking, visto que já venceu duas vezes em Margaret (uma foi válida pelo QS) e um vice-campeonato, além dessa onda parecer muito com seu quintal, Rock Piles, como mostra em sua película "A View From a Blue Moon", terminou - devido ao cancelamento - na 13a posição e agora está na 26a posição do ranking. Pior inicio de circuito desde 2015.

O Rio de Janeiro pode ser muito bom para o príncipe havaiano, que já ganhou duas vezes por lá. Caso o havaiano se dê mal, diria que o titulo mundial de 2018 irá para outras mãos, quem sabe a nossa!

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