Evento perfeito

Armando Daltro analisa a etapa de J-Bay e a vitória de Filipe Toledo


Filipe Toledo fez história ao vencer a etapa de J-Bay na África do Sul. Foto: WSL / Steve Sherman

 

O grande campeão em J-Bay foi o surfista que mais explorou a variação de manobras, surfando na linha, cravando a borda com pressão e velocidade, derrapando a prancha com controle, entubando profundo e ainda voando alto para fazer a onda mais espetacular já vista até então em J-Bay. Parabéns Filipe Toledo!

Melhor etapa do ano de ondas até então, J-Bay quebrou perfeito e com um bom tamanho em praticamente todas as baterias do evento. Tivemos apenas raras baterias com ondas inconsistentes ou irregulares.

Logo no Round 1, tivemos performances incríveis como de Jeremy Flores, Conner Coffin, John John Florence, Kelly Slater, Jack Freestone, Gabriel Medina, Mick Fanning e Michel Bourez, mostrando que o evento seria de altíssimo nível. Nesse Round, Adriano de Souza e Italo Ferreira surfaram muito bem e passaram direto ao Round 3, já Filipinho, apesar de ter surfado muito, inclusive tirando um 9,5 numa das melhores ondas de todo o evento em minha opinião, amargou a segunda posição e foi para a repescagem. Medina surfou muito, pegou excelentes ondas e mostrou todo o seu talento e vontade de vencer.

A única surpresa do Round 1 foi a derrota do favorito Jordy Smith para o novato Conner Coffin, que surfou com maestria as ondas que pegou, mostrando que dará muito trabalho aos melhores da atualidade.

Kelly mostrou conhecimento das ondas e estava com uma prancha que me pareceu bem encaixada nas condições, infelizmente uma lesão no freesurf, deixaria ele de fora da etapa e do duelo que teria com Filipinho no Round 3.

Na repescagem não tivemos surpresas, a melhor performance do Round foi do Filipinho, mostrando a todos que queria muito seguir a diante no evento. Nessa bateria, ele surfou uma onda com uma leitura perfeita, emendou várias manobras base-lip sem perder o estilo, velocidade e radicalidade. Ainda nessa fase, Jadson André surfou muito e avançou, assim como Caio Ibelli, que mais uma vez mostrou muita linha e power surf em ondas boas para a direita. Uma pena a derrota de Wiggolly Dantas numa bateria acirrada contra Ezekiel Lau, Guigui surfou muito e seu score de 16.37, confirma sua excelente fase.

Iniciamos o Round 3 com a derrota precoce do Mineirinho para Joan Duru. Achei que ele deveria ter pego logo a segunda onda quando retornou ao fundo, acabou deixando para Joan Duru, que fez a melhor onda até aquele momento. John John, Jordy Smith, Cornner Coffin e Julian Wilson deram um show à parte, mostraram sintonia com as ondas, forçaram as manobras ao extremo e entubaram com maestria. Jordy somou duas notas 10, totalizando os 20 pontos possíveis numa bateria. Ainda nesse round, Gabriel Medina, Owen Wright e Matt Wilkinson mostraram que os goofys poderiam surpreender. Joel Parkinson deu adeus ao evento, sendo eliminado por um inspirado Conner Coffin. Italo Ferreira surfou muito, mas não conseguiu supera Michael Bourez.

O Round seguinte, sem eliminação, teve grandes exibições de Gabriel Medina, Matt Wilkinson e a até então surpresa, Frederico Morais, que despachou John John e Fanning de uma só vez para a repescagem, mas foi Filipe Toledo que deu show, venceu dois favoritos na mesma bateria, Jordy Smith e Julian Wilson, aplicando dois alley oop na mesma onda (10) e o primeiro aéreo reverse da etapa (9).

O round 5 não houve surpresas, Mick Fanning, John John, Jordy Smith e Julian Wilson despacharam seus adversários com notas altas, mostrando que as quartas de finais pegariam fogo nas geladas ondas de J-Bay.

As quartas de final teve início com a bateria entre Medina e Fanning, Medina continuou devastador em suas manobras e dominou do início ao fim. Essa bateria foi interrompida nos 5 minutos finais por quase 1 hora devido a presença de um tubarão na área de competição, felizmente o mesmo abandonou a área, permitindo que os atletas voltassem ao outside e finalizassem a bateria, com a vitória do Gabriel. No duelo seguinte, o jovem português Frederico Morais derrotou mais uma vez o atual campeão do mundo John John, com os maiores scores do round.

Filipinho mais uma vez surfou muito e não deu a mínima chance para Jordy Smith. Começou a bateria devastador, manobrando muito bem e achando dois tubos logo na primeira onda, onde tirou 9,50. No retorno ao outside, ainda sem prioridade, pegou uma onda intermediária e entubou deep desde o início, mandou dois rasgadões e finalizou com um floater animal, definindo a bateria com menos de 6 minutos do inicio. Na última bateria das quartas, Julian Wilson venceu Matt Wilkinson sem grandes scores.

As semifinais foram vencidas pelos surfistas mais consistentes de todo o evento. Frederico Morais não deu chances para Medina, escolhendo as melhores ondas desde o inicio. Medina me pareceu um pouco ansioso e errou na escolha da sua primeira onda, ficando na pressão desde o início. Já Filipinho saiu na frente e dominou todo o confronto contra um Julian Wilson que não se encontrou na bateria.

A bateria final iniciou com ondas regulares surfadas por ambos os competidores, mas na segunda onda de Filipinho ele destruiu uma das maiores ondas de todo o evento, aplicando quatro manobras no lip, seguido de um floater animal, e depois mais um layback para finalizar a onda, que poderia ter tido um score maior do que 9,17 na minha opinião. Logo em seguida, Frederico Morais pegou uma onda com boas manobras e terminou com um tubo excelente, mas poderia ter tentado pegar a última seção do tubo, o que poderia elevar sua nota para próximo a 10, ele preferiu não arriscar e tirou 8,33. Filipinho fez outra onda boa e estava liderando, quando Frederico Moraes destruiu uma onda com mais de sete manobras fortes, para arrancar 9,40, o que lhe daria a vitória, mas na onda de trás, Filipinho mais uma vez mostrando todo o seu repertório de rasgadas e layback, aumentou a sua onda de troca e segurou a liderança até o toque da buzina, para se tornar o primeiro brasileiro a vencer em J-Bay e em condições épicas.

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