Vitória merecida

Armando Daltro revela suas impressões sobre a etapa em Bells Beach


Para Armando Daltro, Jordy Smith não deixou nenhuma dúvida de que foi o melhor surfista em Bells. Foto: WSL / Cestari.


É com muito prazer que inicio esta coluna falando das minhas expectativas e considerações do que aconteceu e irá acontecer nas etapas da World Surf League em 2017.

Assistir aos eventos atuais pela TV, computador ou celular, com câmeras de vários ângulos e replay, é realmente um luxo, claro que não tem a mesma emoção de estar na praia, mas em compensação você não perde nenhuma onda ou manobra.

Começarei falando sobre o evento de Bells Beach, finalizado na última quarta (19/4) e vencido pelo sul-africano Jordy Smith, mas, antes de começar, gostaria de dividir com vocês dois fatos que aconteceram em minha carreira nessa mesma praia e que nunca irei esquecer.

Logo no ano da minha estreia (1997) no CT, competi na repescagem contra Jojó de Olivença num mar de 12 pés, na época sem o auxilio do jet. Tivemos que varar a arrebentação por quase 30 minutos. No final, venci a bateria com apenas duas ondas surfadas, e no dia seguinte fui presenteado com um mar clássico de 6 a 8 pés. Acabei perdendo para Matt Hoy, que foi o campeão do evento.

Já no ano de 2001, no round 1 do evento, o mar estava com 6 a 8 balançado. Competi contra Damien Hobgood e Richie Lovett. Venci a bateria e fiz a maior pontuação de todo o round, fiquei muito amarradão! Sabe de quem foi o segundo maior somatório? Mick Fanning.

Voltando para 2017, o evento teve início em ondas de 4 a 6 pés e excelente formação nos picos de Bells e Winkipop. Os destaques dessa fase foram Filipinho, com um surf ultramoderno, aliado a rasgadas no estilo power surfing, Jonh Jonh, Kolohe Andino, Mineirinho e Julian Wilson.

Já Kelly Slater, Gabriel Medina, Owen Wright e Michel Bourez surfaram bem, mas venceram suas baterias apenas com ondas boas.

A repescagem teve grandes duelos em ondas perfeitas. Nesse round, Jordy Smith começou a mostrar sua sequência de rasgadas, variando entre curvas longas e laybacks. Ezekiel Lau, Mick Fanning, Wiggolly Dantas, Caio Ibelli e Frederico Morais mostraram estar com as pranchas no pé e em sintonia com as ondas.

O round 3 teve início com a bateria de Medina. Ele surfou muito bem, mas na minha opinião faltou sorte em uma de suas ondas, na qual ele iniciou com três boas manobras no outside, mas a onda acabou fechando. Seu adversário teve uma onda bastante longa no início da bateria, e apesar de não ter executado manobras tão explosivas e de difícil grau de dificuldade, recebeu 8.77 e desequilibrou a bateria. 

No duelo seguinte, Caio Ibelli continuou seu início devastador e arrancou notas 9.13 e 7.90 para vencer um dificílimo duelo contra Michel Bourez. Posso citar ainda as performances de Owen Wright, Sebastian Zietz , Joel Parkinson e Mineirinho.

No dia seguinte, ainda no round 3, Filipinho abriu sua bateria com uma onda excelente, iniciando com um cutback, depois acelerou e mandou um aéreo 360 perfeito e conseguiu emendar rasgadas, laybacks e batidas com tail slide para arrancar 9.77 que, somados a outro 8.50, formou o maior somatório do round.

Mineirinho avançou em uma bateria apertada contra Jeremy Flores. Mesmo com uma onda excelente de 9.00 e um 7.53, venceu pela diferença de apenas 1.03.

Na última bateria do round, Jordy fez a segunda maior pontuação do dia com duas ondas excelentes. Numa delas, precisou de apenas três manobras, variando entre rasgadas e batidas tail slides para arrancar 9.13 dos juízes.

Na opinião de Mandinho, Caio Ibelli mostrou que está pronto para brigar pelas primeiras posições, principalmente em ondas fortes para a direita. Foto: WSL / Cestari.


O round 4 teve início com ondas maiores de 6 a 8 pés no Bowl de Bells, forçando os competidores a optar por pranchas maiores. Logo na primeira bateria do dia, Caio Ibelli, mostrando toda a sua garra, venceu a bateria com uma virada na última onda.

A segunda bateria do round 4 foi, para mim, a mais polêmica de todo o evento. Mick Fanning vinha dominando, surfando encaixado nas ondas da série, executando uma média de 6 manobras variadas e arrancando notas 9.93 e 8.93. John John também já tinha uma onda excelente, na qual havia executado três excelentes rasgadas no outside, dois cuts e um aéreo 360 para finalizar sua onda e arrancar 9.57.

No fim da bateria, John John pegou uma onda da série e mandou um aéreo alley oop muito alto, arrancou muitos gritos, aplausos e a nota 9.97 dos juízes, virando a bateria a seu favor. Na minha opinião, uma onda com uma única manobra, à exceção de um tubo longo, nunca deveria valer mais do que 7 pontos se executada numa condição de mar que esteja proporcionando ondas com mais do que três manobras fortes em média, assim como nesse evento.

Ainda nessa fase, Filipinho surfou bem as ondas intermediárias e não estava com a prancha adequada para as ondas da série. Acabou tendo que trocar de prancha durante a bateria e perdeu minutos preciosos. Arrancou uma nota 9 em uma onda com um aéreo 360 combinado de rasgada e um excelente reentry.

O havaiano Ezekiel Lau foi mais constante e fez duas boas ondas para vencer e ganhar mais confiança para as quartas de final.

Jordy Smith venceu a quatra bateria sem nenhuma nota excelente.

O round 5 teve grandes duelos e os destaques foram novamente Frederico Morais, Mick Fanning, que dessa vez despachou Owen Wright, Filipinho, que venceu Joel Parkinson, e Mineirinho, que no duelo verde-amarelo ganhou de Wiggolly Dantas.

Nas quartas de final, estavam realmente os melhores, aqueles que se destacaram desde o primeiro dia de competição. As baterias foram decididas na escolha de ondas e na abordagem mais vertical às grandes e volumosas ondas de Bells.

Caio continuo mostrando sua garra e power surfing para vencer o português Frederico Morais. John John, novamente contra Mick Fanning, levou a melhor pela segunda vez no dia. Ezekiel Lau também venceu Filipinho pela segunda vez no dia com um surf forte e preciso de rasgadas longas e batidas seguras.

A bateria seguinte foi vencida por Jordy. Mineirinho caiu numa onda em que já havia aplicado uma excelente rasgada e que, caso acertasse a segunda manobra, poderia continuar na briga pela classificação.

As duas semis foram bem apertadas, sendo que a primeira teve scores mais altos. Ibelli venceu John John, que teve uma onda de 9.93 muito alta, na minha opinião, mas Caio não abaixou a cabeça e seguiu em busca de suas ondas.

Ibelli, apesar de já ter mostrado na temporada anterior que seu surf amadureceu e se encaixou nas ondas do tour, me surpreendeu. Ele surfou muito durante todo o evento e na semi não seria diferente, lutou até o último minuto de bateria e virou na última onda, derrotando o atual campeão do mundo e líder da temporada numa bateria inspirada, mostrando que está pronto para brigar pelas primeiras colocações, principalmente nas ondas fortes para a direita.

Na segunda semi, Jordy teve um confronto apertado contra o havaiano Ezekiel Lau, que foi para mim a grande revelação do evento.

Na grande final, Jordy foi perfeito em sua escolha de ondas e soube executar as manobras necessárias para arrancar os scores mais altos, chegando a descartar duas ondas acima de 8.50, Caio não teve a mesma escolha de ondas, mesmo assim não vendeu barato sua derrota, conseguindo surfar duas ondas excelentes na parte final da bateria.

Jordy Smith só não foi bem no round 1 e acabou caindo para a repescagem, mas depois surfou com força, segurança, tranqüilidade e variou suas manobras com muito estilo para vencer todas as baterias seguintes, não deixando nenhuma dúvida de que foi o melhor surfista nas ondas de Bells.

Depois dessa vitória, ele ganhou força para lutar pelo título da temporada, mas precisará melhorar seus resultados nas ondas tubulares que estão por vir. Até maio, no CT do Rio (Saquarema).

www.armandodaltro.com.br

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