Roubalheira sem limites

Colunista reclama do perigo nas praias de Salvador e adjacências


     
Stella Maris tem sido cenário de constantes arrombamentos. Foto: Reprodução      

Não, este texto não é mais um para falar do ocorrido com Gabriel Medina na etapa de Trestles da WSL, mas sim para ilustrar para o crescente e absurdo aumento da insegurança nas praias de Salvador e adjacências.

Você que frequenta Stella Maris, por exemplo, já deve ter sido parado em alguma blitz feita pela truculenta Polícia Militar do Estado da Bahia. Colocou suas mãos sobre o teto ou capô quente do seu carro, teve suas pernas afastadas, teve uma metralhadora apontada para sua cabeça, seu carro revirado e foi embora pensando “meu Deus, se me trataram assim, imaginem como tratam um bandido?”.

Pois é, mas aí é que está, parece que essas blitze são feitas para intimidar a parte “do bem” da sociedade, e ainda te fazem passar vergonha em sua própria vizinhança.

Se o intuito dessas blitze é de pegar bandido, creio que estão tendo o efeito contrário, já que o número de arrombamentos de veículos, assaltos à mão armada, invasões a residências e até tentativas de estupro só aumentam, não só na região de Stella Maris, mas em toda orla da cidade.

Além de Salvador, a bandidagem já se deu conta da ineficiência da polícia nas praias da Linha Verde. Aquele domingo feliz em Itacimirim, atualmente, tem se transformado em pesadelo de famílias inteiras, já que chegar e parar o carro naquelas ruazinhas perto dos picos de surf está mais arriscado do que nunca.

E em Jaguaribe, então? Avenida movimentadíssima, fim de semana, plena luz do dia, centenas de pessoas passando e todos os dias casos e mais casos de roubos de veículos, roubo de pedestres, entre outros, se somam às estatísticas trágicas de uma cidade que tem tudo para ter um super astral de surf city, de cultura praieira, de gente saudável, de bom gosto, de paz.

Mas, não, o que temos aqui é lixo nas areias, depredação de patrimônio público (da ínfima infraestrutura que colocam) e esses casos bizarros de falta de segurança pública.

Ipitanga, uma praia linda, totalmente sucateada, mal frequentada, sem infra nenhuma. Relatos de pequenos assaltos na praia são constantes. Pra quem frequenta o pico do Mamelucos, é um martírio parar o carro ali. Chegar e ir embora é uma operação de guerra, onde a camuflagem e rapidez precisam ser absurdamente colocadas em prática.
No pico de Aleluia, você para o carro e reza pra chegar do surf e dizer “aleluia, meu carro ainda está aqui!”, já que nessa parte da praia não dá nem pra ter contato visual com seu veículo.

Mas, ultimamente, o caos se instalou em Stella, no Padang. Esgoto, muita sujeira e os arrombamentos de veículos. Não posso vir aqui dizer para que não deixem objetos de valor dentro dos carros, justamente para não chamar atenção dos meliantes, mas pelo visto é o que me resta, já que cavalaria truculenta, quadriciclos barulhentos, inúmeras blitze “pega ninguém”, não funcionam. Ou, mais ainda, será que tenho que dizer para não virem à praia?

As praias mais ao sul da cidade, além de também violentas, você entra no mar para surfar na certeza do “quanto de fezes vou ingerir hoje?”, já que o esgoto vai que vai, transita livremente na mesma pegada dos ladrões. Ninguém faz nada e quem se dá pior é sempre a população de bem.

A orla está cada vez mais sucateada, os vendedores mal preparados e sem nenhuma infraestrutura e higiene, cada vez mais ocupam sem controle a área de vegetação de restinga, o que está fazendo com que gradativamente o mar invada e drene a areia que protege e equilibra a movimentação das marés. Não se vê controle algum de meio ambiente, isolando essas áreas e designando áreas específicas para esse pessoal trabalhar.

Terra de ninguém, terra sem lei, onde o bandido anda livre e o cidadão de bem fica acuado, sem voz ativa e inocentemente ainda aguarda que o “natural” seja feito, que é despoluir a região toda desse vírus crescente de sujeira, seja da violência praieira, seja do esgoto sem tratamento.

Minha sugestão é que as entidades mais organizadas do surf (se é que existem mesmo na Bahia) mostrem um pouco que não só brigam entre si, que não se alimentam somente de picuinha, e cada um não só olha para seu próprio umbigo, e tentem uma união em prol de uma representatividade ativa junto ao poder público. Que organizem uma manifestação pacífica, que mostremos que não estamos comendo merda e sendo assaltados “coniventes” com a situação. Chega de ser surfista que fica só na “maresia”. Se continuarmos assim, nada vai mudar, só piorar. Estamos tão desacreditados em termos de organização, como a ineficiência da polícia no combate ao crime. Se vamos criticá-los, temos que ser melhores do que eles, concordam? E aí, vai ficar sentadinho lendo e não fazendo nada ou vai buscar meios para agir?

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