Carrossel de emoções

Fabricio Fernandes comenta todas as emoções da etapa brasileira do WSL no Postinho, na Barra da Tijuca (RJ)


Uma semana de emoções fortes, não encontro outra maneira de definir os dias da etapa brasileira do World Surf League no Rio.

Praia lotada, multidão gritando, tentando tocar os ídolos, tirar uma foto, aplausos, pulos, decepções, vitórias, baterias viradas no último segundo e o show aéreo de Ítalo Ferreira e do campeão Filipe Toledo.

É quase que surreal comentar o momento atual que vive o Brasil no circuito mundial de surf.  Lembro em 1997, primeira vez que vim ao Rio de Janeiro assistir uma etapa do mundial, quando meu primo me perguntou para que eu iria assistir se não teria nenhum brasileiro na final. A prova que essa opinião logo cairia por água abaixo veio no ano seguinte, com a vitória de Peterson Rosa sobre Michael Campbell, mostrando que a modernidade estava chegando, virando a bateria nos últimos minutos com um aéreo.

Hoje o que presenciamos é mesmo surreal. Começamos o ano como campeões mundiais no masculino e feminino. Para mostrar que esses títulos não foram apenas uma rápida tempestade, os Brazilian Storm mostraram que vieram para ficar e mudar todo o ritmo do circuito.

De quatro etapas ganhamos três, além de duas etapas importantes do QS 10000, com vitória de Filipe Toledo e Alex Ribeiro.

Sim, é inegável os gringos não deixaram de ter talento, de saber surfar ondas boas, mas nós também sempre tivemos muito talento e hoje aprendemos a surfar ondas de linha, tubulares, utilizar a borda e principalmente, a desenvolver um vasto repertório de manobras modernas. E qual o nosso diferencial para nos últimos anos estarmos assombrando os gringos de uma forma que nem nos seus maiores pesadelos eles imaginariam?

Somos mais unidos, temos mais raça, garra, vontade de vencer. Competimos com o “osso” na boca, vibramos com nossas conquistas, somos um time, uma verdadeira tempestade brasileira.

E isso ficou claro nos cinco dias de competição no Postinho, na Barra da Tijuca, que já no segundo dia da janela de competições trouxe excelentes ondas de 1,5 metro e tubulares para o show dos tops, com destaque para Kelly e Mineiro nos tubos, e Filipinho com seus aéreos impossíveis, já mostrando que esse ano iria brigar pelas primeiras posições no ranking.

A exceção de Miguel Pupo e dos convidados, os outros seis tops brasileiros da elite passaram direto para o terceiro round, deixando os gringos se entreolhando como quem diz: O que está acontecendo?

A noite que se seguiu ao evento, foi um dos momentos mais marcantes nos meus quase 30 anos de surf. Na noite de premiação dos melhores do ano, eu, minha esposa Lenne e meu filho Christian tivemos a oportunidade de conversar e tirar foto com todos os tops. Pude rever meu amigo e campeão mundial Armando Daltro, Claudjones, Ader, Kiko Carvalho e ainda ser presenteado com um show de Gabriel o Pensador.

Ver Medina receber o prêmio de melhor surfista ratificando seu feito histórico de ser o primeiro brasileiro a ser campeão mundial, me fez chorar de novo. Assim como também chorei com a linda homenagem a Ricardinho e as palavras da sua namorada, momentos que jamais esquecerei.

No dia seguinte não tivemos competições, mas na quinta-feira a repescagem foi para água em condições muito difíceis, com fortes correnteza e ondas bem grandes, onde os brasileiros perderam.

Também começaram a ocorrer grandes surpresas com os novatos mostrando que não vieram para ser coadjuvantes. E a maior zebra do dia foi Keanu  Asing mandar Parko para casa.

Na sexta-feira em um dia intenso de competições, com medo das ondas acabarem, a direção de provas resolveu esticar o cronograma e aconteceram os rounds 3, 4 e 5.

Novamente a zebra assombrava os cabeças de chave e vários tops perderam para os últimos do ranking. Matt Banting bateu Kelly, Ricardo Christie deu show e tirou Mineiro, dando esperanças a Mick  de assumir a liderança do circuito, e finalmente Keanu se firmando como a grande surpresa e calou toda a torcida brasileira mandando o campeão mundial Gabriel Medina mais cedo para casa. Verdade seja dita, tanto Kelly, quanto Medina e Mineiro, cometeram erros primários, se posicionaram fora do pico, esperaram demais pela onda salvadora e não marcaram seus adversários.

Enquanto isso, Filipe e Ítalo continuavam com seus shows aéreos, levando o público ao delírio. Os dois derrotaram John John Florence, o deixando em combinação. Filipe com um dez unânime no round 4 e Ítalo no round 5. No round 5 as esperanças de Mick assumir a liderança foram destruidas pelo ataque fulminante de Owen.

Jadson também era outro guerreiro que vinha desenhando seu power surf, e com muita raça ia derrotando seus adversários.

Outros dois australianos vieram comendo pelas beiradas e chegaram aos últimos dias de competição, mostrando que o power surf ainda tem seu lugar. Wilko em um ataque de backside mortal e Bede super competitivo, jogando muita água para cima.

Nas quartas de final no sábado, com mais de 20 mil pessoas buscando um espaço na areia, aconteceu o que ninguém gosta, dois brasileiros se enfrentaram na chave de cima. Mas é isso que acontece quando muitos dos guerreiros brasucas estão surfando bem, acabam se encontrando nas fases decisivas. Ítalo venceu Jadson com seu arsenal aéreo.

Flipinho veio na seguinte contra Christie usando a mesma tática das baterias anteriores, pegava duas ondas arrasadoras no início e depois só administrando a bateria.

Aqui cabe um comentário importante, Christie não desistiu de lutar em nenhum momento e por duas vezes assustou a torcida. Em um aéreo muito alto e em um tubo profundo, mas sem sucesso nas duas tentativas.

Na semi, o aerialista de Ubatuba encontrou o aerialista do Rio Grande do Norte e de novo Filipinho colocou seu adversário em combinação no início da bateria, seguindo para a final contra Bede Durbidge, que derrotou Wilko na outra semi.

Domingo a praia lotada com 40 mil torcedores, calor e torcida fanática (eu era um deles com a bandeira do Brasil na mão, roendo as unhas e rouco de tanto gritar).

Filipinho não deu nenhuma chance a Bede, quebrando todos os recordes do campeonato com notas 10 e 9,87, dando-se ao luxo de descartar 8,53; 8,33 e 6,17. Tal foi sua superioridade, que duas dessas três últimas notas seriam suficiente para vencer a bateria. Bed até surpreendeu completando dois aéreos rodando, mas em aéreo quem manda é Filipe Toledo, que levou a torcida a loucura completando quase 100% dos que tentava, com a praia explodindo como um gol no Maracanã lotado.

As bandeiras e camisas com a frase Brazilian Storm sacudiam a praia e o caminho até o pódio foi bem difícil para Filipinho, pois todos queriam tocar, cumprimentar o ídolo. Sorte de minha esposa, que pode falar com ele na noite do dia 12/05 e dizer Deus te abençoe, você vai ganhar essa etapa.

As manchetes dos jornais do dia seguinte destacavam na primeira página a vitoria brasileira com Filipe ovacionado pela multidão com as frases, "a onda agora é outra". Saímos como líder e vice lider do ranking, com uma larga vantagem. E que venha Fiji.

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