Alto risco

Fabricio Fernandes comenta sobre os riscos de acidentes na prática do surfe


Se você quer ter a emoção máxima, tem que estar preparado para pagar o preço máximo. Mark Foo falou isso em uma entrevista, e na época as pessoas não levaram muito a sério, até que ele morreu afogado. Donnie Sollomon, Todd Cheeser e muitos outros pagaram o preço máximo.

Alguns outros conseguem sobreviver para contar a história e “apenas” se acidentam. As etapas de Teahupoo e Pipeline ou o freesurf nessas localidades levou muita gente de maca para o hospital, mas e nós simples mortais, como encaramos isso? Com certeza todo mundo tem um perrengue para contar no surf. Comigo não podia ser diferente.

Há duas semanas atrás, surfando no canto direito da Macumba, desci uma esquerda muito buraco e cai para trás batendo com muita força a cabeça na prancha. Estava quase escuro e eu me concentrei muito para não apagar, pois não tinha ninguém perto. Saí do mar ileso, mas vomitei várias vezes a noite com a cabeça doendo muito. No final nada de grave aconteceu, mas com meu amigo Benezinho a coisa foi um pouco mais séria.

Bené, além de surfista, é instrutor de spinning e personal trainner, ou seja, cuida muito da saúde e vive com a musculatura em dia, mas quando a mãe natureza mostra sua força, ninguém está salvo.

Era manhã de 15 de maio de 2010, na praia do Jardim de Alah, em Salvador . O mar estava clássico, com um metro e meio de ondas tubulares e perfeitas.

Após dropar várias boas, estava se sentindo confiante e empolgado, a onda da série apontou no horizonte, ele remou e logo botou para dentro e foi espremido entre a onda e os corais. Sua perna esquerda foi literalmente amassada, o que por estar com sangue quente não sentiu, mas logo depois tentou movimentar o pé e não conseguia. O terror veio nessa hora e como ele disse: "Tirei a cordinha e meu pé afundou. Pensei, agora ferrou.”

A série veio e varreu ele. Sua perna da canela para baixo não movimentava e ouvia um barulho, um estalo. Nessa hora, Bené tentou ficar calmo para não entrar em choque e chamar por alguém no outside. Conseguiu varar a arrebentação, porque não tinha como sair sozinho.

Teve que remar em uma onda, mesmo com toda dor e logo depois um bodyboard o ajudou para sair. Alguns surfistas carregaram ele para praia e o deitaram na areia.

O SAMU demorou cerca de 10 minutos para chegar e o colocaram na maca imobilizando a perna que tinha sofrido fratura grave da tíbia. Nesse momento a dor foi insuportável e mesmo com muita dor, agradecia e pensava, “podia ter sido pior e tô vivo”.

Foram 15 a 20 minutos dentro do carro da SAMU nos primeiros socorros. Ligaram para a irmã dele e um tio que era taxista e estava por perto. Um amigo chegou com a carteira e plano de saúde, o que amenizou porque ele não precisaria ir para o SUS.

Muitas coisas ruins passaram pela cabeça, do que poderia ter acontecido, situações como bater a cabeça nas pedras, ralar o corpo todo, luxar o ombro, quebrar prancha, mas nunca o inesperado fato de fraturar a tíbia e a fíbula, o que significou duas placas de titânio, 18 parafusos, três cirurgias, infinitas e incansáveis sessões de fisioterapia durante mais de um ano. Para Bené, o que mais marcou foi a superação, força de vontade, ver o apoio da família, namorada e amigos sempre presentes em visitas ou com mensagens de energia positiva. Sua mãe chorava aos prantos quando o via na cama quase inválido, com a perna pra cima durante três meses e que tentava compensar isso com a sua comida caseira e muito carinho.

Voltou para o mar em dezembro do mesmo ano, de forma tímida, com um fun, agradecendo a Deus por ter de novo o contato com a água salgada, prancha e o sol.

Depois disso, Bené viajou para Fernando de Noronha e Peru para surfar, além do Chile para fazer snowboard.

Hoje ele não tem nenhum trauma ou seqüela e sabe que não é o único a se acidentar na prática de esportes. A lição que fica é acreditar que era possível estar de novo nas ondas com os amigos, essa foi sua motivação para superar essa difícil experiência.

Se você quer a emoção máxima...

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